terça-feira, 9 de agosto de 2011

O fim da revolução


Estava na casa da minha tia no final de semana, e ela comentou, em tom de piada, que eu nasci socialista. Ao longo da vida, sempre fui um cara com fortes tendências de esquerda, e acreditei por muito tempo na idéia revolucionária de esquerda. Inicialmente, revolução armada mesmo (tanto que eu sempre brinquei dizendo que faria uma guerrilha com meus filhos e filhos dos meus amigos). Depois, passei a acreditar que a esquerda surgiria nas urnas, e que teríamos aos poucos uma transformação mundial, fato este que pode ainda ocorrer.
Por fim, acreditei que o nosso país mudaria quando a situação chegasse ao fundo do poço: quando a criminalidade estivesse insuportável, as pessoas não tivessem mais qualquer segurança, ou as drogas tivessem dominado o país, assim como todo nosso sistema fosse corrupto. Minha idéia está indo por água abaixo, porque agora estamos vivendo mais ou menos isso, com a polícia extremamente corrupta, o tráfico de droga domina os bairros pobres, você pode ser assaltado, assassinado e até mesmo estuprada em qualquer lugar a qualquer hora do dia. Grandes bancos e sistemas de saúde assaltam você o tempo todo. Companhias de telefone te assaltam todo dia. Os políticos aumentam seu salário, já estratosférico, em progressão geométrica. Todos os ingredientes possíveis para que o povo se revolte, e crie uma insurgência, exigindo mudanças. Mas isso não acontece.
Na verdade, o povo aceita toda essa merda, e cada um tenta levar vantagem do seu jeito: sonega impostos, aproveita o início do sinal vermelho, corre pra pegar seu lugar no metrô, inventa mentiras pra ferrar com o colega e ganhar um posto de trabalho melhor. Tudo o que sempre aconteceu, num momento em que você não sabe se estará vivo no próximo segundo. É como se estivéssemos no fim do mundo, e cada um quer garantir sua sobrevivência no purgatório.
E é mais incrível ainda o quão pasmo e inerte é este povo. Depois de dois anos dando aulas, percebi que as pessoas se apegam demais a tradições religiosas e conservadorismo, tentando manter valores já superados, como heterossexualismo e catolicismo, ou apenas defende a liberação do uso da maconha, mas não se dão conta do que ocorre em sua realidade. E se recusam a abrir os olhos pra enxergar.
Nas eleições, como pode ser conferido no blog, fiz campanha declarada anti-serra. Não porque antipatizo com ele simplesmente, mas porque vivi dentro de seu regime, e me informei o suficiente sobre suas atitudes, assim como analisei diante da legislação, e observei as conseqüências de seu governo. Eu sei que ele seria uma tragédia incomparável para este país, o que nos custaria anos de retrocesso. Ninguém me disse isso, eu estava dentro do sistema pra ver a realidade. Mas, mesmo assim, as reações à minha campanha variaram entre ignorar totalmente o que estava acontecendo, à acusação de loucura, passando pelas respostas com uso de jargão popular da mídia ultra direitista.
Recebi e-mails que simplesmente defendiam o Serra porque a Dilma era terrorista. Ao longo dos meus 30 anos, nunca li nada tão estúpido e sem sentido quanto isso, ainda mais quando até mesmo um professor fala esse tipo de merda. Especialmente esquecendo que o terrorismo foi contra quem matou e torturou centenas de pessoas ao longo de mais de vinte anos, e que mantinha o pensamento sobre estrito controle. Da mesma forma, recebi pessoas que reproduziam frases da Veja, o que mostra ainda mais estupidez, porque qualquer pessoa com meio neurônio com 10% da sua capacidade de funcionamento sabe que a Veja não serve nem sequer pra limpar a bunda, uma vez que já vem toda cagada.
Fui chamado de louco, exagerado, radical, e tudo quanto é tipo de nome que se pode imaginar. Teve gente que chegou a dizer que eu tinha caído na lavagem cerebral do PT (mesmo sem jamais ter feito campanha pelos candidatos do partido). Foi um show de falas sem pensamento. E isso me fez ver que as pessoas simplesmente não querem pensar. Votam por interesse, por antipatia ou por pensamentos prontos e pré concebidos, passados de pai pra filho, que muitas vezes nem sentido fazem. Elas não conseguem conceber a realidade, e apenas recebem o que a mídia transmite, sem ao menos procurarem fontes alternativas pra compararem os focos. Mas o que esperar de um povo que não sabe sequer que a igreja católica construiu sua história através do sangue e da dor de centenas e milhares de pessoas, torturadas e mortas porque sua fé era um pouco diferente?
E então eu me dei conta que as pessoas não querem pensar, e não querem que as coisas mudem. Contanto que consigam comprar sua geladeira nas casas Bahia pagando em 200 vezes com juros de 150%, e tenham seu carrinho, comprado em três vezes o que vale, tudo bem. Nós temos casa própria, carro na garagem, um baita televisor, vídeo games e computador, o resto não interessa. Podemos beber até cair no fim de semana, transar com quem quisermos, fazer filho e largar pra mãe cuidar. Pra que mudar isso? Nada de mal vai acontecer, não conosco!
Por isso abandonei de vez a idéia de revolução. Não senti um segundo de remorso ao abandonar a educação, porque as pessoas não querem educação, e não ligam se tudo está uma merda. As pessoas se recusam a pensar sobre assuntos polêmicos, e refletir sobre as próprias atitudes. Não adianta querer mudar o mundo, quando todo mundo se acha feliz com a merda em que vive. Então, por que não curtir a minha vida? Sim, pela primeira vez, sou egoísta. Quero saber da minha família, fazer meu trabalho bem feito, e ter lazer no fim de semana.
Continuarei com minhas idéias de esquerda, e continuarei com a esperança que sempre tive (e por favor, não venham me dizer que a esquerda é algo como Chavez e Fidel Castro, não ofendam ainda mais a minha inteligência). Mas não levarei isso a termos em que será necessário quebrar o pau toda hora com as pessoas, arrumar centenas de inimigos e deixar minha família de lado. Este povo simplesmente não vale o sacrifício.

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