terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A SOLIDÃO


No início do ano passado me divorciei. Estava já separado há um ano, morando na mesma casa por problemas financeiros. Depois disso, fui pra minha casa, com meus gatos. E ali estou, há um ano. Não é a primeira vez que moro sozinho. Já tinha ocorrido em 2008, quando fiquei quatro anos nessa situação.
E o grande x da questão é que eu amo essa situação. Fui muito feliz naquela época, e estou sendo muito feliz de novo. Infelizmente ainda com alguns problemas de saúde, possivelmente por causa de estresse, ainda não atingi o nível que gostaria. Acredito que estou no caminho.
O fato de você estar sozinho traz às pessoas a ideia que você está infeliz. Conceitos sociais que eu não sei de onde vêm, mas que pra muita gente não condizem com a realidade. Você ter seu espaço, seu momento, sua forma de conduzir as coisas, é algo libertador, pacificador e estranhamento bom.
A ideia de solidão não quer dizer que eu seja anti-social. Na verdade tenho bons amigos, um bom relacionamento com boa parte das pessoas, e uma namorada excelente (na verdade chamo de namorada pra não ter explicar conceitos, porque o que temos é melhor que isso). A Natália é mega companheira, parceira ao extremo, uma pessoa que qualquer um admira. A companhia dela é inspiradora e agradável. Mas ela mora na casa dela, e eu na minha. E ambos concordamos que isso tem sido ótimo.
Ela dorme aqui alguns finais de semana, às vezes saímos. Uma companhia indispensável. Mas já conversei pra ela que ambos temos a liberdade de vivermos nossas vidas de forma independente, de organizarmos a casa do jeito que cada um quer (ou não quer). E quando nos vemos é muito bom. Possivelmente a convivência diária faria com que os pequenos defeitos aumentassem de tamanho, e talvez começássemos a ter brigas idiotas que nunca tivemos.
Também tenho meu filho, que fica aqui a cada 15 dias, dormindo aqui de sábado para domingo. E eu vejo sempre que possível durante a semana. E vou tentar explicar as coisas de uma forma que não sejam tão agressivas ou que tragam uma sensação errada.
Li um texto uma vez, não lembro o nome da autora, cujo título é “amo meu filho mas odeio ser mãe”. Bom, é bem por aí. Eu fiquei na casa com minha ex, num clima péssimo, pra não prejudicar meu filho. Pago pensão regularmente, metade da casa onde ela mora, se precisar de algo, como levar no hospital eu vou, quando ele está aqui doou toda atenção do mundo... mas esse lance de ficar o tempo todo olhando e acompanhando não é a coisa mais agradável do mundo. Isso tira esse momento de ficar só. E no meu caso, faz muita falta. Ainda assim, nunca vou deixar de fazer a minha parte por ele. Tanto o é, que ele tem um apego fora de série comigo (o que não quer dizer que seja diferente com a mãe. Com ela também o apego é total).
Imagino que minha relação com ele deve ser altamente positiva a vida toda, e tenho feito coisas que nunca pensei que faria, sempre pensando nele. Estou no vermelho financeiramente desde que ele nasceu, e nunca pensei em mudar isso, pra poder fazer o melhor. Assim como desenvolvi uma paciência e uma qualidade em cuidar de criança que jamais na minha vida pensei que teria. As pessoas que me conhecem há anos olham minhas atitudes com ele, e SEMPRE dizem “Quem diria? O Roberto cuidando de crianças”.
Mas o meu caso é uma vida solitária. Eu adoro estar sozinho no meu espaço. Curtir algo sem sentido. Fazer tudo do meu jeito (e eu sou chato pra caralho com casa e limpeza). Gosto de fazer minha comida, de receber pessoas e mostrar minha vida. Até gosto também que a Natália durma aqui.
Mas nada supera a paz de espírito. A sensação que você é completamente dono e responsável pela sua vida (algo que tem muito a ver com o ateísmo). A sensação que se as pessoas te procuram, estão ao seu lado, é porque querem muito estar com você. Eu tenho plena convicção que a Natália está comigo porque ela quer, porque minha companhia a faz feliz, porque eu alegro o dia dela, nunca porque ela precisa estar comigo. E já disse pra ela que comigo é a mesma coisa.
Eu acredito que toda e qualquer pessoa aprenderá a ser feliz quando ela se bastar. Quando a vida dela, num momento de solidão, for plenamente feliz e alegre, então ela terá encontrado a felicidade. E vai poder ser feliz ao lado de alguém. Provavelmente a relação com namorado, companheiro, ficante, ou qualquer merda assim, com amigos, com os filhos, será incrivelmente positiva. A solidão é a plena felicidade.

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