Em meados do ano passado me sentia muito feliz em ver meu
povo, pela primeira vez, saindo às ruas para lutar por algo. Por um pequeno ato
dos governos municipal e estadual de São Paulo, as pessoas colocaram nas ruas
toda sua revolta. Naquele momento senti esperança que as coisas poderiam
melhorar, e que finalmente tínhamos entrado num ótimo caminho. Finalmente
estávamos lutando. Pena que se mostrou apenas um sonho.
Quase um ano e meio depois, o que vemos, especialmente
neste ano de 2014, é um regresso dos mais desastrosos na nossa sociedade. O
conservadorismo voltou, com uma força avassaladora e assustadora. O país vê,
depois das revoluções do mensalão e das manifestações populares, o relógio
andar para trás.
Primeiro, no nosso futebol, começamos a ver tribunais
mudarem o resultado dos jogos, favorecendo, com a desculpa de descumprimento
administrativo, times de grande poderia
econômico e de grande torcida, como ocorreu com a virada de mesa do Fluminense,
prejudicando a Portuguesa. Pouca repercussão teve o episódio, até porque os
times de grande torcida não foram grandemente afetados.
Neste ano, vimos o Tribunal Regional do Trabalho impor
medida à greve do metrô determinando que em horário de pico 100% do contingente
trabalhasse, e nos demais horários, 70%. Que porra de greve obriga o total de
trabalhadores estarem na ativa? E pra piorar a situação, o contorno à situação
feito pelo governador foi obrigar a polícia a agir com violência contra os
grevistas, além de demitir, de maneira totalmente arbitrária e injustificável,
vários dos que participaram da greve, atitude esta que ainda hoje é contestada
na justiça.
Mas a cereja do bolo está vendo neste momento, quando
este governador, depois de um péssimo mandato, com crises nunca antes vista na
segurança, na saúde e agora uma catástrofe anunciada no abastecimento de água
em virtude da má administração, foi reeleito em primeiro turno, com uma maioria
esmagadora. Fora que vimos o Congresso mais conservador já eleito desde 1964, o
que significa que foi superado vários momentos da ditadura militar, que durou
até 1985. A bancada religiosa aumentou significativamente, assim como a péssima
bancada ruralista, ao passo que todos aqueles que defendem direitos humanos
tiveram sua quota reduzida.
Além disso, o fato de se propagar ideias, inclusive em
jornais, onde pessoas podem fazer justiça com as próprias mãos, agredindo
possíveis criminosos, divulgando fotos de possíveis estupradores torturados e
mortos sem julgamento, além de centenas de outras barbaries que são totalmente
contrárias a um estado democrático e legalista, demonstram que as coisas estão
caminhando totalmente na contramão do que deveriam.
É assustador, como nunca. Vemos direitos humanos,
diversidade, conquistas e até mesmo o progresso social totalmente ameaçado.
Temos um povo onde a maioria é pobre, ou de gente que, graças a um governo de
esquerda, ascendeu a classes maiores, mas muito recentemente. É inconcebível
que este povo tenha uma atitude tão conservadora. Nem mesmo países
tradicionalistas adotam uma postura dessas. Dá medo até mesmo que essas discussões
sobre pontos de vista estejam tão ameaçadas quanto as conquistas que obtivemos.
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