terça-feira, 21 de outubro de 2014

A assustadora volta ao conservadorismo

            Em meados do ano passado me sentia muito feliz em ver meu povo, pela primeira vez, saindo às ruas para lutar por algo. Por um pequeno ato dos governos municipal e estadual de São Paulo, as pessoas colocaram nas ruas toda sua revolta. Naquele momento senti esperança que as coisas poderiam melhorar, e que finalmente tínhamos entrado num ótimo caminho. Finalmente estávamos lutando. Pena que se mostrou apenas um sonho.
            Quase um ano e meio depois, o que vemos, especialmente neste ano de 2014, é um regresso dos mais desastrosos na nossa sociedade. O conservadorismo voltou, com uma força avassaladora e assustadora. O país vê, depois das revoluções do mensalão e das manifestações populares, o relógio andar para trás.
            Primeiro, no nosso futebol, começamos a ver tribunais mudarem o resultado dos jogos, favorecendo, com a desculpa de descumprimento administrativo, times  de grande poderia econômico e de grande torcida, como ocorreu com a virada de mesa do Fluminense, prejudicando a Portuguesa. Pouca repercussão teve o episódio, até porque os times de grande torcida não foram grandemente afetados.
            Neste ano, vimos o Tribunal Regional do Trabalho impor medida à greve do metrô determinando que em horário de pico 100% do contingente trabalhasse, e nos demais horários, 70%. Que porra de greve obriga o total de trabalhadores estarem na ativa? E pra piorar a situação, o contorno à situação feito pelo governador foi obrigar a polícia a agir com violência contra os grevistas, além de demitir, de maneira totalmente arbitrária e injustificável, vários dos que participaram da greve, atitude esta que ainda hoje é contestada na justiça.
            Mas a cereja do bolo está vendo neste momento, quando este governador, depois de um péssimo mandato, com crises nunca antes vista na segurança, na saúde e agora uma catástrofe anunciada no abastecimento de água em virtude da má administração, foi reeleito em primeiro turno, com uma maioria esmagadora. Fora que vimos o Congresso mais conservador já eleito desde 1964, o que significa que foi superado vários momentos da ditadura militar, que durou até 1985. A bancada religiosa aumentou significativamente, assim como a péssima bancada ruralista, ao passo que todos aqueles que defendem direitos humanos tiveram sua quota reduzida.
            Além disso, o fato de se propagar ideias, inclusive em jornais, onde pessoas podem fazer justiça com as próprias mãos, agredindo possíveis criminosos, divulgando fotos de possíveis estupradores torturados e mortos sem julgamento, além de centenas de outras barbaries que são totalmente contrárias a um estado democrático e legalista, demonstram que as coisas estão caminhando totalmente na contramão do que deveriam.

            É assustador, como nunca. Vemos direitos humanos, diversidade, conquistas e até mesmo o progresso social totalmente ameaçado. Temos um povo onde a maioria é pobre, ou de gente que, graças a um governo de esquerda, ascendeu a classes maiores, mas muito recentemente. É inconcebível que este povo tenha uma atitude tão conservadora. Nem mesmo países tradicionalistas adotam uma postura dessas. Dá medo até mesmo que essas discussões sobre pontos de vista estejam tão ameaçadas quanto as conquistas que obtivemos.

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