segunda-feira, 4 de junho de 2012

A precariedade do serviço público


Nomeado no início de 2008, faço parte do quadro de funcionários públicos do Estado há pouco mais de quatro anos. Vivi intensamente a profissão de professor do Estado, e agora sou Escrevente do Tribunal, um poder independente, mas que depende das verbas destinadas pelo Governo do Estado de São Paulo.
Em geral, gosto de ser funcionário público. As duas grandes vantagens são a estabilidade, onde você sabe que por razões políticas e pessoais você nunca será demitido, e a possibilidade de manifestar sua opinião sobre o direcionamento do serviço público, sem medo de ser punido por isso. Coisas que jamais teria a oportunidade na maioria das empresas privadas. E ainda com a honra de ter sido chefe de seção por seis meses, entendendo até melhor alguns problemas.
O grande problema é que, como todos sabem, o governo tucano é privatizador. Tem feito força pra privatizar tudo o que pode e se livrar do ônus. E quando não privatiza, deixa numa situação tão degradante, que acaba por obrigar as pessoas que podem a procurarem serviços particulares pra suprir o que é oferecido de péssima qualidade pelo Estado.
Falando, inicialmente das duas áreas que vivi, as escolas públicas são o retrato do que é largado: os salários dos professores são miseráveis, o material disponível, quando existe, é de qualidade duvidosa, os livros didáticos criados pelo Governo são vagos, superficiais e com conteúdo mais do que questionável. Os professores são tratados como animais em uma caçada, sem qualquer chance de realizar um trabalho decente. Perdem a motivação, por não verem chance de mudar o quadro.
Já no Tribunal, a verba destinada pelo Governo é menor a cada ano. Os salários vão ficando mais arrochados, e a quantidade de serviço que existe no judiciário é indescritível. São milhares de processos, coisa que só vai aumentando dia após dia. Petições, e pessoas que precisam de ações urgentes para garantir direitos. E, na última divulgação, o TJ tinha um quadro onde estavam faltando cerca de 10.000 funcionários para conseguir uma certa estabilidade. O que significa que cada funcionário tem que trabalhar por três para conseguir dar conta do serviço. Não é preciso ser nenhum gênio pra saber que isso não acontece.
Também precisamos só de um pouquinho de bom senso pra saber que os hospitais públicos estão com pouco material, o quadro humano muitas vezes é menor do que deveria, os salários são baixos, e numa profissão onde se deve estudar arduamente, isso é quase como um castigo pelo empenho. As pessoas estão doentes ou se acidentando a toda hora, o que significa que os profissionais precisam também trabalhar por dois, fora os turnos contínuos pra completar o salário, o que representa necessariamente perda da qualidade do serviço. O mesmo vale para a polícia, onde os profissionais arriscam a vida por um salário que de forma alguma condiz com isso, com armas inferiores ao crime organizado, um efetivo que não cobre nem metade do que é necessário para que seja prestado um serviço eficiente,etc.
Basta a pessoa ter um mínimo de interesse e deixar de lado seus preconceitos para entender o que é o serviço público. Basta deixar de lado esta propagação em massa da Rede Globo, que funcionário publico se recusa a trabalhar em seu mundo perfeito, e ver a realidade que é encarada há muito tempo, gritada aos quatro cantos por quem não consegue dar conta do que lhe é imposto, de acordo com as condições vividas. Basta ser um pouco mais atento pra ver quem tem culpa do serviço público estar dessa forma.
E chega um momento que se enche tanto o saco, que a única saída acaba por sermos radicais: criar greves, protestar na rua, devolver as porradas que tomamos o tempo todo... e a revolta não é só contra o governo, que nunca vai fazer nada pelo serviço público, uma vez que já demonstrou não ter competência para administrá-lo. A revolta é contra você, cidadão, que não exerce este direito de cidadão, mantém este governo de merda há anos, mesmo ele te oferecendo lixo quando você precisa dele, e ainda assim você, num ato de covardia incondicional, colocar a culpa destes problemas em quem consegue trabalhar com o pouco que tem, mas sem conseguir dar conta do muito que precisa.
E o engraçado é que, como temos visto, você mesmo, que vive metendo o pau, presta um monte de concurso, e quando consegue entrar e começar a trabalhar, é o primeiro a arrear, se dando do conta do que você precisa fazer e como não consegue realizar. Mas é assim mesmo, meter o pau sem conhecimento é fácil e exige menos trabalho, até porque é o lado mais fraco ali mesmo, que praticamente não tem apoio pra se defender. Pra que pensar se temos a Globo pra fazer isso por nós?

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