Nomeado
no início de 2008, faço parte do quadro de funcionários públicos do Estado há
pouco mais de quatro anos. Vivi intensamente a profissão de professor do
Estado, e agora sou Escrevente do Tribunal, um poder independente, mas que
depende das verbas destinadas pelo Governo do Estado de São Paulo.
Em
geral, gosto de ser funcionário público. As duas grandes vantagens são a
estabilidade, onde você sabe que por razões políticas e pessoais você nunca
será demitido, e a possibilidade de manifestar sua opinião sobre o
direcionamento do serviço público, sem medo de ser punido por isso. Coisas que
jamais teria a oportunidade na maioria das empresas privadas. E ainda com a
honra de ter sido chefe de seção por seis meses, entendendo até melhor alguns
problemas.
O
grande problema é que, como todos sabem, o governo tucano é privatizador. Tem
feito força pra privatizar tudo o que pode e se livrar do ônus. E quando não
privatiza, deixa numa situação tão degradante, que acaba por obrigar as pessoas
que podem a procurarem serviços particulares pra suprir o que é oferecido de
péssima qualidade pelo Estado.
Falando,
inicialmente das duas áreas que vivi, as escolas públicas são o retrato do que
é largado: os salários dos professores são miseráveis, o material disponível,
quando existe, é de qualidade duvidosa, os livros didáticos criados pelo
Governo são vagos, superficiais e com conteúdo mais do que questionável. Os
professores são tratados como animais em uma caçada, sem qualquer chance de
realizar um trabalho decente. Perdem a motivação, por não verem chance de mudar
o quadro.
Já
no Tribunal, a verba destinada pelo Governo é menor a cada ano. Os salários vão
ficando mais arrochados, e a quantidade de serviço que existe no judiciário é
indescritível. São milhares de processos, coisa que só vai aumentando dia após
dia. Petições, e pessoas que precisam de ações urgentes para garantir direitos.
E, na última divulgação, o TJ tinha um quadro onde estavam faltando cerca de
10.000 funcionários para conseguir uma certa estabilidade. O que significa que
cada funcionário tem que trabalhar por três para conseguir dar conta do
serviço. Não é preciso ser nenhum gênio pra saber que isso não acontece.
Também
precisamos só de um pouquinho de bom senso pra saber que os hospitais públicos
estão com pouco material, o quadro humano muitas vezes é menor do que deveria,
os salários são baixos, e numa profissão onde se deve estudar arduamente, isso
é quase como um castigo pelo empenho. As pessoas estão doentes ou se
acidentando a toda hora, o que significa que os profissionais precisam também
trabalhar por dois, fora os turnos contínuos pra completar o salário, o que
representa necessariamente perda da qualidade do serviço. O mesmo vale para a
polícia, onde os profissionais arriscam a vida por um salário que de forma
alguma condiz com isso, com armas inferiores ao crime organizado, um efetivo
que não cobre nem metade do que é necessário para que seja prestado um serviço
eficiente,etc.
Basta
a pessoa ter um mínimo de interesse e deixar de lado seus preconceitos para
entender o que é o serviço público. Basta deixar de lado esta propagação em
massa da Rede Globo, que funcionário publico se recusa a trabalhar em seu mundo
perfeito, e ver a realidade que é encarada há muito tempo, gritada aos quatro cantos
por quem não consegue dar conta do que lhe é imposto, de acordo com as
condições vividas. Basta ser um pouco mais atento pra ver quem tem culpa do
serviço público estar dessa forma.
E
chega um momento que se enche tanto o saco, que a única saída acaba por sermos
radicais: criar greves, protestar na rua, devolver as porradas que tomamos o
tempo todo... e a revolta não é só contra o governo, que nunca vai fazer nada
pelo serviço público, uma vez que já demonstrou não ter competência para
administrá-lo. A revolta é contra você, cidadão, que não exerce este direito de
cidadão, mantém este governo de merda há anos, mesmo ele te oferecendo lixo
quando você precisa dele, e ainda assim você, num ato de covardia
incondicional, colocar a culpa destes problemas em quem consegue trabalhar com
o pouco que tem, mas sem conseguir dar conta do muito que precisa.
E
o engraçado é que, como temos visto, você mesmo, que vive metendo o pau, presta
um monte de concurso, e quando consegue entrar e começar a trabalhar, é o primeiro
a arrear, se dando do conta do que você precisa fazer e como não consegue
realizar. Mas é assim mesmo, meter o pau sem conhecimento é fácil e exige menos
trabalho, até porque é o lado mais fraco ali mesmo, que praticamente não tem
apoio pra se defender. Pra que pensar se temos a Globo pra fazer isso por nós?
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