quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Um brinde ao diferente


Quando fomos a uma feira espírita, eu e a Vanessa quase compramos um livro com explicação espírita sobre as pessoas “diferentes”. Um tema que me revolta mais do que a maioria, pois é um dos mais mostra o quão imbecil a raça humana ainda é.
Falando sobre mim, creio que tenho alguns pequenos pontos que me colocam numa situação de “diferente”, na sociedade em que vivemos. Pra começar, sou ateu, e isso é um ponto que margeia bastante. Basta fazer uma crítica, ironizar um símbolo, ou reclamar de alguma coisa, já tem gente caindo em cima, querendo sua cabeça numa bandeja. Fora os mais que manjados comentários sobre a “falta de amor” na vida sem Deus, ou “a verdade ainda vai libertar”, etc. Incrível como as pessoas não conseguem, nem fodendo, entender o que se passa pela cabeça de uma pessoa que não vê deus como tanto falam.
Fora isso, minha noiva é descendente de nordestinos, assim como minha ex namorada também era. Somando tudo, acho que tenho oito anos da minha vida vivida ao lado de cearenses e baianos. Hoje já é quase normal, porque nossa cidade está dominada pelo povo nordestino, mas ainda ouvimos um monte de gente falando sobre como estas pessoas “acabaram com nossa cidade”, e como deveríamos acabar com esta raça. Mas todos sabemos que tais frases não vêm do cérebro.
Meu grande e melhor amigo, Igor, é casado com uma albina. A Raquel é uma das moças mais dóceis e agradáveis que eu conheci. Quando vou na casa dele, me sinto à vontade pra agir como sempre agi com ele, fazendo bagunça, abrindo as coisas, tacando coisa nele. Na verdade, ela parece querer nos deixar tão à vontade pra que façamos o que bem entendermos lá dentro. Uma mulher que gera felicidade, especialmente por saber que um grande irmão está ao lado.
Meu primo é gay. Faz tempo, e mora com um cara. Age como uma pessoa qualquer, trabalhando, pagando impostos, tendo amigos. Nada mais, nada menos. Não cria teorias da conspiração, nem tenta influenciar crianças para virarem gays. Apenas decidiu viver de maneira diferente. Quando você fala pras pessoas que seu primo é gay, elas te olham como se você tivesse um parente em estado terminal. Então, explicando em miúdos, ela não ta doente, muito pelo contrário. Apenas escolheu uma coisa diferente.
Homossexuais, ateus, nordestinos, góticos, amantes de swing, pessoas que não bebem, amantes de ópera... pessoas que fogem do padrão. Pessoas que existem pra mostrar que a tolerância é um dos requisitos mais importantes para se conviver com alguém em sociedade, especialmente quando algumas atitudes não influenciam em nada a vida dos outros (talvez influencia tanto, que as pessoas queiram eliminar, antes que assumam de vez).
Engraçado como o legal é ter um monte de gente dançando a música da mesma forma, parecendo um monte de ximpanzés adestrados pra fazerem o mesmo movimento. Ou como seja super normal uma multidão rezar um pai nosso, repetindo frases prontas, como se aquilo estivesse realmente tocando o coração de todos. Ou como é legal ver um monte de big brothers e novelas, onde se mostra a mesma trama, com o mesmo final, ano após ano. Quem discordar disso, pra multidão, ou é mentiroso, ou está apenas confuso, querendo aparecer e provocar desordem.
O medo é o que atrapalha as pessoas de aceitarem as diferenças. O medo de gostar tanto de algumas diferenças, que irão se tornar diferentes também.

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