Um pensamento veio à minha cabeça estes dias. Na verdade, um pensamento recorrente, que me perseguiu anos e anos, e que ainda me comove, quando vejo algo parecido. Penso muito nas pessoas que deixam tudo para se dedicarem a um trabalho, um estudo, ou uma longa viagem. Anos e anos isolado, deixando tudo pra trás. Pessoas que me dão pena.
Acredito que temos que nos esforçar demais por aquilo que queremos. Nossos sonhos têm que ser perseguidos, e com esforço, o realizamos. Mas não vejo grandes vantagens de se realizar os sonhos, se no fim das contas, estamos sozinhos. Você ser um vencedor e não ter um amigo pra abraçar na hora de comemorar, não vale nada.
Alguns anos atrás fui chamado pra assistir o filme “Click”, com Adam Sandler. Fui, porque eram amigos, mas imaginei que o filme seria uma merda. No fim, terminei chorando, de tanto que o filme me emocionou. O personagem principal, ao longo da história, tratava mal sua ótima esposa, e seus dois filhos pequenos, além de seu pai, para se dedicar exclusivamente ao seu emprego. O pai falece sem que ele tenha a chance de se despedir, e sua mulher o abandona. No fim da vida, ele percebe que tinha jogado tudo fora, por causa de sua obsessão pelo trabalho. Sua vida não tinha valido nada.
Quantos personagens assim temos no mundo? Quantas crianças que entram em esportes e vivem deles vinte e quatro horas por dia, sem amigos, sem namorados e namoradas, sem vida social. Imagine o que é pra um jovem de 17 anos, com os hormônios à flor da pele, nem poder pensar em sexo! E o que é um cara ter que treinar, e não ter amigos pra num fim de semana sair por aí, falando merda na rua. Isso não é vida.
Fase que eu passei, e não recomendo pra ninguém, é a de vestibular. Em 1999 me excluí do mundo, só estudei. Sem parar, todos os dias da semana. Entrei num lance frenético. Terminei o ano doido, e a partir dali comecei a mergulhar numa depressão que traria conseqüências trágicas no final de 2004. Foi uma experiência terrível, e sem sentido.
Na época tinha uma moça conhecida nossa que estudava o tempo todo, na faculdade de economia. Não tinha vida social, não tinha amigos, namorado, nada. Só estudava. Uma pessoa que pra mim transbordava infelicidade. E conheço casos de pessoas que apenas estudam, esquecendo amigos, família, relacionamentos. Parece que a vida se resume a isso.
Para quem convive com estas pessoas, é muito triste, especialmente se forem filhos. Você não ter nunca a presença de uma pessoa que você ama demais, é cruel. Mas, como tudo na vida, você se acostuma. E passa a viver assim. Pra quem entra nessa loucura, aí sim é terrível. Você vai se matar além da conta, e no final, vai descobrir que as pessoas simplesmente aprenderam a viver sem você, e quando retornar, vai se sentir um estranho. E você vai se questionar se todo o fanatismo valeu a pena (e acredite, não vai valer).
Algumas coisas são realmente importantes na vida: sua esposa, namorado(a), pais, parentes, amigos, e até mesmo colegas de trabalho. Você ser honesto, levar uma vida digna, e querer melhorar sempre, mesmo que pareça que você está longe disso. Dar atenção para pessoas que você ama, mesmo que você ame muitas, e não tenha tanto tempo assim pra dar a atenção que você queira pra todos (agradeço por este ser o meu caso). Ter um bom emprego, e ganhar o suficiente para viver bem.
Sucesso é legal, mas eu prefiro ser o maior ídolo da minha noiva, e ter o sorriso dela sempre que vou vê-la. Isso faz a vida valer realmente a pena. E sei que fazê-la saber que eu sou seu maior fã, também compensa qualquer anonimato. Ser poderoso, rico, presidente de qualquer coisa, ou ser idolatrado pela massa, não tem qualquer valor. E, na boa, vai acabar um dia. E nesse dia, que porra vai ter valido a pena viver?
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