Sexta feira, dia 11 de novembro de 2011, segundo a profecia, o início do fim. Quando acordei nesta manhã, sabia que a profecia estava correta. Tinha terminado o dia anterior tremendo de nervoso, com palpitação e tontura. Comecei a sexta da mesma forma. O cargo de chefia se tornou algo insuportável, do qual eu não queria mais.
Passei o dia todo num mau humor que há tempos não vivia. Não queria conversa, nem ouvir qualquer som. Por várias vezes tive a sensação que iria desmaiar, de tanta raiva que estava me dominando. Não conseguia sequer controlar meus pensamentos.
Desde que assumi o cargo, tudo o que eu fazia como escrevente, eu continuei fazendo. Responsável pelo recebimento e envio de processos, que vinham e saíam aos montes do cartório, também tinha a função de triar petições, e localizar os processos às quais seriam juntadas. Cerca de 200 por semana. Funções estas que, apesar de uma correria doida, eu exercia bem, antes de assumir a loucura suprema.
O grande problema é que a partir do momento que assumi a chefia, todos os grandes problemas do cartório passaram a ser destinados a mim. Eu tinha que solucioná-los, e rápido. Fora ficar resolvendo bobeiras de advogados chatos (texto já escrito sobre esta raça), e ter que atender desembargadores, em seus pedidos imediatos. E tudo vinha como um bombardeio.
Em pouco tempo, percebi que não sou bom o suficiente para dar conta de tudo, não por falta de vontade, e acredito, nem por competência, mas sim porque meu corpo e minha mente não agüentam essa saraivada. Cada vez que um desembargador ligava, tinha algo pra fazer urgente, naquele momento. O mesmo ocorria com o presidente da seção de direito privado (e foi rápido perceber que este era o maior problema que poderíamos enfrentar). Ao mesmo tempo, advogados desesperados para que seu processo andasse rápido, querendo coisas que fugiam ao nosso controle. Os processos acumulando para sair, e petições fazendo pilhas que mais pareciam pilastras de sustentação. Eu tentei dar prioridade ao que era urgente, mas tudo é. Dando atenção ao pedido dos deuses, o resto foi acumulando assustadoramente. Quando eu via que a coisa estava feia, tentava andar o que estava abarrotado. O problema é que os pedidos dos desembargadores ficava pra depois. E isso se tornou uma bola de neve.
Algumas coisas eu poderia resolver em cinco minutos. O grande problema é que eram vários e vários cinco minutos por dia. E geralmente, todos os cinco minutos eram ao mesmo tempo. Abarrotado de coisa pra fazer, o que eu deixava pra depois, eu nem lembrava, e ficava pra um momento em que eu conseguisse parar pra pensar. Geralmente, na minha casa, com a cabeça explodindo, onde já não tinha mais energia pra pensar em merda nenhuma.
A gota d´água veio com a brilhante idéia de um dos nossos desembargadores representar 211 processos ao presidente da seção, sobre sua aposentadoria. Eu tive que receber e fazer a remessa de todos, o que durou mais ou menos três dias, e atrasou violentamente o resto. Só que os processos retornaram, e antes mesmo de recebermos de volta ao cartório, seu sucessor já sabia do retorno, e começou a nos cobrar. O problema foi que, mesmo eu remetendo os que recebia, recebi uma ligação deste fulano, descendo a lenha no trabalho, chamando inclusive de incompetente. Ora, senhor deus, acredito que não tenha mesmo capacidade de dar conta de tanta coisa ao mesmo tempo, mas posso garantir que a culpa disso é da ineficiência da administração do TJ, não dos funcionários, que têm que se desdobrar em três para realizarem o trabalho.
Por fim, sem ao menos receber os processos em cartório, recebemos ordens expressas para que os mesmos estivessem no gabinete até a manhã seguinte. Ordens vindas cerca de 16 horas, sendo que a maioria do pessoal ia embora às 17. Daí meu sistema nervoso entrou de vez em colapso. Começamos a trabalhar alucinadamente, tentando resolver o problema. Como eu tinha compromisso, no meu horário, eu fui embora. Alguma sorte inexplicável ocorreu, e um dos homens que trabalha resolveu ficar até às 19, para pagar as horas devidas. Com isso, o trabalho terminou em sucesso, naquele dia. Mas inegavelmente, a sorte foi preponderante. O problema é que nem sempre ela está ao nosso lado.
Por isso, no dia seguinte, cheguei e fui perguntar a uma amiga como eu fazia para entregar o cargo formalmente. Fiquei trabalhando normal, pois iria entrar de férias no dia seguinte (no caso, hoje). Mas pra quem perguntava, já deixava clara minha intenção. No fim do dia, minha supervisora veio conversar comigo. Uma das raras pessoas que eu admiro, não só pela coragem, como pela vontade, e pela eficiência em serviço, apesar de no passado algumas crises nervosas (que agora eu entendo perfeitamente bem). Ela apontou meus defeitos, claros e inegáveis, que estão me tirando o sono, e eu deixei claro que não tinha condições de manter as coisas como estavam, manifestando a ela minha intenção de abandonar este cargo.
Para minha surpresa, ela já tinha a solução, como uma nova distribuição de tarefas. Muitas das coisas que estava me enlouquecendo passariam para outras mãos, enquanto eu ficaria apenas com os problemas a serem resolvidos, e demais funções específicas de chefia. Um novo fôlego neste situação. Não sei exatamente se minha reação é ânimo, desconfiança, ou revolta, mas pelo menos é uma tentativa de se corrigir os problemas. Agora, em dezembro, vamos ver como vai ser o resultado final.
Por que eu estou escrevendo isso aqui? Porque acho melhor externar minha fúria, agora em graus elevadíssimos, no meu espaço pessoal, com algo que me dê prazer, do que sair por aí quebrando o que aparecer na frente, brigando com um monte de gente, e passando noites mal dormidas. Afinal, estes são os MEUS pensamentos sem sentido!
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