quarta-feira, 30 de novembro de 2011

As provas para seleção


Um dia desses, discuti com um colega de cartório sobre a necessidade de provas para seleção de concursos e vestibulares. Ele é favorável, eu, totalmente contra. Porém, existe algo pertinente, sobre a possibilidade atual.
Imagine que uma pessoa tem, no Ensino Fundamental, oito anos ininterruptos de estudo. No Ensino Médio, são mais três. Assim, ela tem onze anos de estudos. Aceitando que as coisas ocorram da maneira correta, ela terá uma série de dificuldades pelo caminho, terá que vencer alguns obstáculos, e superar algumas barreiras pessoais. Alguns são péssimos pra falar em público, outros são péssimos quando são avaliados formalmente. A escola, em teoria, deveria servir para suprir estes defeitos.
O grande problema é que, com conhecimento de causa, a escola está caída aos pedaços. O ensino é um grande lixo, e os cidadãos que deveriam ser formados na escola, provavelmente saem piores do que entraram. Assim, os alunos não têm a menor condição de cursarem uma faculdade ao terminarem a escola.
Por isso, pra muitos, os vestibulares ainda são a melhor forma de escolher quais são os candidatos mais aptos a cursarem o ensino superior em cada faculdade. O que é certo, pois de acordo com o momento, é o menos injusto. Não há como comparar o currículo e o histórico escolar de um aluno vindo de uma escola pública da periferia, com um aluno vindo de uma escola particular de um bairro nobre.
O grande problema é que a grande injusta começa daí: o menino que nasceu em berço de ouro sempre teve todas as oportunidades na vida. Sempre teve quem custeasse seus estudos, e está em grande vantagem, inclusive de nascimento, contra seus candidatos de escola pública. Aquela que sempre foi prejudicado pela sorte da vida, será ainda mais quando tiver que disputar uma vaga contra um sortudo. Só por isso, mostra-se que o sistema de provas é totalmente injusto.
Fora isso, temos aquelas pessoas que chegam na hora de uma prova se borram toda. Quem não conhece algum sujeito na vida que é extremamente inteligente, consegue explicar tudo pra todo mundo, fala muito bem, mas na hora que está diante de uma prova, treme na base? Basta ver a prova para tirar carta de motorista: quantos motoristas excelentes e prudentes não são reprovados pelo nervosismo? O fator psicológico, por si só, anula qualquer concorrência por competência.
Mas um fato que acho imprescindível nessa análise, é a total injustiça em se avaliar a vida inteira de uma pessoa em dois ou três dias de provas. Você coloca um monte de gente imatura diante de uma situação de extrema pressão, desprezando tudo o que ela fez na vida, jogando sobre ela grandes responsabilidades. E avalia como ela se saiu diante de um pedaço de papel. Ela não terá direito de mostrar suas habilidades em oratória, não terá como comprovar suas qualidades dentro de uma sala de aula, não terá como comprovar sua competência prática. Falhou naquele momento, um abraço.
Fora que é apenas uma chance. Se o adolescente errar naquele momento, terá que esperar mais um ano, pra que possa chegar lá. Não é concedida uma chance para corrigir seus erros. Fora que muitas vezes ele tem que tentar entender o que raios está sendo perguntado, numa questão extremamente elaborada. Isso numa situação de pressão extrema. Sem deixar de lado o fato de um candidato à letras ter que explicar em detalhes teorias sobre corrente elétrica, que ele nunca se interessou, e provavelmente nunca mais irá usar. Um absurdo completo.
O ensino é dever do estado. Todos nós temos que ter direito a um ensino superior de qualidade, sem custos. Pagamos impostos pra isso, não pra que políticos recebam salários estrondosos e gastem o dinheiro público com carro, ternos e jardins. As vagas deveriam abranger todos os alunos, fazendo a diferença de quem vai pra onde. O vestibular nada mais é do que uma maneira de regulamentar a falha do governo, falha esta que, infelizmente, todos nós aceitamos como fato inevitável, e imutável.

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