Por mais bonito e agradável que possa parecer um retrato que reflita as formas reais de uma pessoa, em todos os seus detalhes e pormenores, por mais agradável que seja a pintura de uma bela e realista paisagem, por melhor que nos demonstre a pintura de uma natureza morta que se assemelhe totalmente com a realidade, este tipo de pintura já excedeu tudo aquilo que poderia ter sido explorado, graças ao seu uso quase milenar.
É inegável atualmente o uso deste tipo de pintura quando queremos apenas decorar algum ambiente, sem nos preocuparmos com o lado criativo da mesma. Mas é praticamente impossível se explorar algo novo dentro deste estilo, com uma pequena exceção feita ao Hiper Realismo. Quando você aprende técnicas de desenho, treina exaustivamente, você passa a entender que desenhar de forma mais realista consiste tão somente no domínio destas mesmas técnicas, e especialmente, na capacidade de observação cuidadosa e apurada.
Daí defendo uma das minhas mais controversas teorias no mundo da arte: o dom não existe. Uma pessoa que possua uma boa capacidade de desenho, não o faz por ter um dom específico, vindo de alguma entidade divina. Ao longo da vida, vi muitas pessoas sem qualquer jeito para o desenho aprenderem a desenhar de maneira exemplar, ao longo de muita prática, cursos, treinamento, e muita paciência.
O que ocorre com pessoas que supostamente nascem “sabendo desenhar” é um gosto pelo desenho. Graças a este gosto, tais pessoas desenham sempre que têm oportunidade, às vezes várias vezes por dia, desde pequenas. Com isso, aprendem a observar detalhes que a maior parte das pessoas não consegue apreender, e a tendência é de que melhorem cada dia mais. Então, quando chegam na adolescência, estão desenhando de maneira admirável pela maioria dos leigos, que desconhecem todo o seu processo ao longo dos anos.
O contrário, quando alguém que não tem o costume de desenhar, na maior parte das vezes por medo de “desenhar errado”, resolve aprender, ela terá de passar exatamente pelo mesmo processo por aquele que “tem o dom”. Então, terá que engatinhar desde o princípio, fazendo desenhos infantis e sem o domínio técnico, sendo necessária a mesma carga de treinamento para que ela atinja um bom desempenho no assunto. Eu diria que para uma pessoa aprender realmente a desenhar, o tempo necessário seja de dez anos, ou mais. A maior parte destas pessoas não possui esta paciência, e na maior parte das vezes, cansando-se da tentativa, desiste de tentar, e põe a culpa em sua falta de dom. Embaso minha opinião em muitos autores, professores de desenho, que tentaram demonstrar que a maior parte das pessoas deixa de desenhar somente pelo medo, assim como vários professores que tive na vida.
Então, tais pessoas que não dominam a técnica do desenho, se impressionam quando vêem um retrato pintado de alguém que seja idêntico à pessoa em questão. Como elas não têm o domínio técnico para atingir tal nível, o consideram inatingível, e tendem a admirar ainda mais esta técnica obsoleta. Por outro lado, criticam as formas mais modernas de arte, classificando-as como rabiscos, borrões e bagunça, assim como a famosa e nefasta frase: “isso até eu faço”.
Pois é fácil fazer qualquer coisa que já existe. Eu, por exemplo, não inventei a técnica realista, mas depois que a aprendi, posso dizer que acho absurdamente fácil desenhar o retrato de uma pessoa. É uma técnica já existente, e eu apenas me apoderei dela. Assim como acho fácil criar um quadro cubista, ou um expressionista. Depois que o estilo está criado para nossa admiração, até mesmo um macaco adestrado é capaz de aprender e copiar alguma coisa. Qualquer um pode fazer qualquer coisa.
O difícil mesmo é criar. O que realmente ninguém faz é criar algo novo, criar algo que seja totalmente particular. Todos os que criticam não são capazes de criar um novo estilo artístico, não são capazes de criar novas formas para apreciação, e na maior parte das vezes não são capazes de criarem sequer composições organizadas e bem estruturadas. E é isso o que define a arte: a capacidade de criar e inovar. Copiar qualquer um consegue.
É muito mais interessante se ter um quadro onde o artista mostrou todo seu esforço em “reinventar a natureza”, onde tentou mostrar sua personalidade, através de traços e formas totalmente próprios, onde não se preocupou em copiar ninguém, nem seguir algum tipo de padrão de beleza, do que um quadro artesanal, onde o domínio de um punhado de técnicas é suficiente para que qualquer pessoa consiga fazê-lo.
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