quinta-feira, 29 de abril de 2010

A lei das faltas


É greve dos professores. Uma greve mal feita, mal organizada e mal divulgada, que provavelmente terá baixa adesão, e sepultará em definitivo o fraco sindicato dos professores do Estado de São Paulo, que tem sido mais do que ineficiente em combater o péssimo governo de José Serra em São Paulo.
A imprensa critica algumas reivindicações do sindicato, especialmente a que contesta as provas de ingresso e de “promoção” por mérito. Já me manifestei inteiramente contrário a estas provas, se aplicadas como forma única de avaliar qualquer tipo de atividade. Acho que elas devem existir em conjunto com uma série de medidas que na somatória poderiam avaliar a qualidade do profissional. Mas todos sabemos que mais uma vez, o governo tucano utiliza-se de medidas de alta visibilidade para ganhar alguns votos a mais na eleição.
Mas, uma das maiores críticas que tenho percebido vindas da imprensa até agora, e que mostra que realmente vivemos num Estado onde a educação está enterrada em definitivo, é nosso combate à Lei Complementar 1.041 de 2008, onde os servidores públicos do Estado têm direito a apenas seis faltas médicas por ano, sendo apenas uma vez ao mês.
Ouvi um dos mais consagrados jornalistas do rádio Brasileiro, José Paulo de Andrade, afirmar que esta reivindicação do sindicato é antipática, e que suja a imagem do professor junto ao público. Outro jornalista renomeado, este de péssima qualidade, na minha opinião, que criticou a medida, foi Gilberto Dimenstain, afirmando que deve haver uma forma de controlar o absenteísmo dos profissionais da educação.
Existe um gravíssimo problema de faltas na educação, e este problema tem várias razões, especialmente a situação vivida pelos professores da rede estadual, sendo agredidos, xingados, totalmente desvalorizados e hostilizados pelos alunos, pais, direção, governo e mídia. O sistema nervoso de nenhum ser humano agüenta esta situação. A maior parte dos professores ama a profissão, mas não consegue suportar a situação vivida dia a dia, por mais amor que sinta.
Existem centenas de medidas para combater o excesso de faltas: melhorar a estrutura do ensino; valorizar os profissionais da educação; voltar a entender  a importância da profissão e o papel imprescindível que desempenha o professor; oferecer respaldo para o trabalho docente; etc. Quando se oferece condições adequadas de trabalho fica muito mais fácil cobrar empenho.
Porém, numa das mais cruéis demonstrações do governo Serra sobre como trata seus servidores, ele limita o número de faltas por razões médicas. Agora, aconteça o que acontecer, o profissional não terá direito de se ausentar de seu local de trabalho caso sofra alguma doença. A única saída para este profissional é se ausentar por vários dias consecutivos, caracterizando uma licença médica.
Muitos profissionais estão trabalhando doentes, quando a doença não é devidamente caracterizada para longos afastamentos. A situação da educação propicia o alastramento de doenças, especialmente as de cunho psicológico. Alguns estudos revelam que os professores estão entre os profissionais que mais doenças contraem, especialmente a síndrome do pânico. E mesmo assim, eles perderam o direito de cuidar da sua saúde, direito este assegurado pela Constituição da República Federativa do Brasil.
Mas sabemos que quando vamos a um hospital, especialmente os públicos, os médicos estão proibidos de atestarem o dia ao seu paciente, seja qual for a doença. Nos particulares ainda somos afastados pelo dia em questão, mas nunca mais do que isso. Se o profissional estiver com uma infecção, por exemplo, terá que trabalhar desta forma. Obviamente o tempo de recuperação será muito mais longo, fazendo com que o rendimento profissional caia. Talvez, uma licença de quatro dias fosse suficiente para a plena recuperação e a retomada das atividades profissionais. Mas os nossos líderes preferem a burrice de manter o camarada doente em ritmo inferior. E isto vale para qualquer área.
Daí, a mídia critica nossa reivindicação, da revogação desta aberração. Seremos antipáticos se lutarmos por tal medida. O que eu quero ver é o José Paulo de Andrade enfrentar uma sala de aula, onde deverá preocupar-se os 50 minutos que estiver lá dentro, em impedir brigas violentas, ou será obrigado a ouvir de alunos de 10 anos todo um repertório de palavrões que ele jamais pronunciou na vida. Receberá alguns alunos drogados, outros muitos traficantes. Será xingado várias vezes, outras ignorado, e terá que berrar com todo pulmão se quiser dar uma aula de qualidade. Para segurar a sala, deverá “surtar” e sair gritando, berrando e esmurrando mesas. Tudo isso por um salário incrível. Mas de vez em quando ainda será ameaçado de morte, e outras vezes será agredido fisicamente por algum aluno.
Realmente, a educação no Brasil está irremediavelmente perdida. Parabéns a José Serra, que conseguiu cumprir sua missão de sucatear o ensino público, concretizando a obra de seus antecessores com perfeição. Ele ainda conta com uma mídia adestrada e divulgadora de seus atos, mostrando toda a competência que claramente não existe  no ensino. E assim caminharemos, sem direito a faltas médicas, com dois Paraguais na América do Sul, livros didáticos cheios de pornografia, drogas na sala de aula, violência constante e um índice de escolarização extremamente baixo.
Um Estado cada vez melhor!

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