Hoje li uma notícia de que houve avanços significativos na educação paulista, segundo índices do Idesp e as notas do Saresp. Se não me falha a memória, o ano passado ficamos com média 3,5 enquanto agora pulamos para 4,0. Ainda está muito baixa, mas poderíamos considerar que a melhora foi excepcional. Segundo afirmações, deve-se à mudança estrutural promovida pelo governo de São Paulo, instituindo bonificação por mérito (o que devemos louvar, apesar de discordar dos critérios), material didático e currículo padronizado, provas para análise de desempenho, seleção de temporários por avaliação, etc.
Porém, tal análise da melhora é totalmente superficial e não reflete o verdadeiro rumo da educação paulista. Os índices que compõe o Idesp podem ser facilmente manipulados, assim como a prova do Saresp pode ser composta de maneira extremamente simplificada.
Para começar, o Idesp analisa a quantidade de alunos evadidos, isto é, que abandonaram a escola. Este índice é marcado através do número de faltas de cada aluno, ou quando este aluno deixa de comparecer em definitivo. Porém, basta que os professores deixem de marcar as faltas destes alunos nos diários de sala, que o índice irá praticamente zerar. Em casos mais graves podemos manter as faltas, mas em geral, deve-se evitar ao máximo extrapolar as faltas. Há ordens superiores para que não façamos isso, e conversando com professores de outras escolas, podemos perceber que é a prática comum.
Também deve-se contar o índice de reprovação da escola. Para que a escola receba uma bom índice (e receba o bônus) deve-se evitar ao máximo as reprovações. Para tanto, os professores praticamente “chutam” o aluno para a série seguinte, mesmo que ele não tenha participado de nenhuma atividade ao longo do ano letivo ou não tenha obtido qualquer nota superior a 2. Quando a decisão vem do conselho, aí que a palhaçada é incrível: sete professores retêm o aluno por notas, mas a coordenadora ou a supervisora, temendo que o número de repetentes seja alto, praticamente obriga boa parte dos professores a “soltar” umas notinhas para que ele passe. Se tiver idade acima dos alunos da sala, aí que ninguém segura mesmo.
Já o Saresp ainda mantém um certo critério de qualidade, pois os professores aplicadores vêm de outra escola, para evitar fraudes. Porém, as redações são corrigidas pelos professores da referida escola, que, com o interesse do bônus, podem “azular” as notas. Já as questões são elaboradas de acordo com o material didático distribuído pelo governo. A maior parte do material está em desacordo com exames vestibulares e com outros como o Enem, mas segundo os “especialistas” da educação, é o conteúdo certo para os alunos. Daí, é só manter as questões num nível de dificuldade praticamente nulo, para facilitar o entendimento. Então obtém-se boas notas.
Na verdade, não da pra ter qualquer idéia da qualidade da educação com estes exames. Pode até ser que as idéias sejam boas, mas nunca teremos certeza. Pode ser mesmo que sejam boas idéias precisando de ajustes apenas. Os índices são tendenciosos, e não mostram os reais problemas da escola, nem deixam transparecer os erros do governo (críticos citadas em alguns outros textos). Tudo para que nosso imperador José seja eleito presidente, argumentando sua campanha com ótimos números.
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