“Eu não aguento mais meu casamento,
só não me separo por causa dos meus filhos”. Já devo ter
escutado isso umas mil vezes. Hoje foi uma delas. Pessoas que estão
infelizes em seus relacionamentos, não vêem qualquer perspectiva,
mas preferem manter essa situação de sofrimento por medo de perder
o vínculo com seus filhos.
Meus pais são separados. Desde que me
lembro como um ser pensante e consciente, era pelo menos uma
separação por ano, e depois voltavam. Passavam um longo tempo
infelizes e se separavam de novo. Não consigo lembrar nada de
positivo nessa situação, nem algo que me fizesse querer manter os
dois juntos porque eram meus pais. Basicamente isso era uma merda.
Sofrimento gera sofrimento. E a coisa vira uma bola de neve. Quando
eles finalmente se separaram de vez, meu sentimento foi de alívio.
Aquele loucura chegou ao fim.
Meu casamento foi ruim desde o começo.
Mas enquanto éramos eu e ela, tinha expectativa de ver as coisas
melhorarem. Muitas vezes ignorava o problema por acreditar que tudo
poderia ser diferente. Acreditava, acima de tudo, que quando fazemos
votos de casamento, temos que tentar manter contra todos os
problemas. Como todas as coisas que fiz na vida, tentei até onde era
possível.
Mas quando meu filho nasceu, os
problemas aumentaram, a tensão cresceu e as brigas se tornaram muito
frequentes. Num dos dias mais críticos, numa das brigas mais
intensas e quase violentas, com erros absurdos, percebi que aquilo
não poderia ser a vida que eu gostaria de passar para o meu filho.
Uma criança inocente, crescendo com duas pessoas infelizes e num
ambiente repleto de brigas.
Muita gente tentou me fazer “pensar
melhor”. Mas não havia o que pensar. Acredito que meu filho deva
crescer num ambiente feliz e saudável. Meu casamento foi altamente
infeliz, mas meu filho não precisa ser. Acredito que ele possa ter o
melhor dos pais, cada um vivendo sua vida e buscando a própria
felicidade.
O acordo de guarda é um pé no saco.
Muito mais chato que o divórcio. Vários detalhes estressam e criam
algumas rusgas até serem resolvidos. Mas como temos buscado um meio
termo para o bem dele, até que temos conseguido solucionar
relativamente bem, comparado a muitos casos que vemos por aí. Eu
basicamente deixei a guarda com ela. Não tenho muito jeito com
criança e ainda faço umas bizarrices no cuidado (trocar a fralda
demonstra minha total falta de habilidade). Ao passo que tenho
inúmeras críticas à minha ex, mas não em relação aos cuidados
com o meu filho. Sem dúvida é uma das coisas que mais vi ela se
dedicar, o que me tranquiliza.
Meu contato com ele diminui muito. Mas
em compensação, nas vezes que eu o vejo, duas ou três vezes por
semena, é uma relação altamente positiva e proveitosa. Consigo me
divertir com ele e lidar melhor com as situações de tensão. Isso
nunca aconteceu quando casado. Nunca questionei minha ex, mas creio
que pra ela deva ser a mesma coisa.
Vejo meu filho mais próximo e mais
ligado a mim do que antes. Meu estresse diminui consideravelmente.
Isso tornou a relação mais suave. Cada vez que estou ao lado dele,
não só tenho certeza que tomei a melhro atitude, como fico
intrigado em como pessoas podem achar que o melhor para um filho é
ver os pais quererem se matar dia a dia.
Infelizmente existem inúmeras pessoas
que fazem uso do filho para atingir o ex. Seja pela razão que for,
acham que o filho é uma arma. Vira uma guerra, levada aos tribunais,
sem fim. Um quer de todo modo prejudicar o outro e criam ainda mais
sofrimento aos filhos.
Pra mim isso nem sequer é amor. Fico
pensando apenas em resolver todas as questões da forma mais
tranquila e ponderada possível (mesmo às vezes não conseguindo),
recuo em coisas que eu gostaria (e creio que a mãe dele faz a mesma
coisa em outros pontos), porque penso no que é melhor pra ele. Como
citei, pra mim o melhor é ficar com a mãe, então pra que vou criar
problemas pra massagear o meu ego? Isso não é amor.
Hoje vejo que amor aos filhos é
tentar fazê-los felizes. Às vezes isso significa abrir mão de
muitas coisas. Mas sem dúvida, se as pessoas não forem felizes, não
farão de seus filhos pessoas felizes.
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