Quando nasceu meu filho tomei contato
com algumas formas específicas de criação de bebês e crianças,
respaldadas pela psicologia. Muita coisa legal, pra falar a verdade,
especialmente para alguém que sempre gostou muito do tema. Mas
contraditório com teorias apresentadas por outros profissionais na
área.
Não consigo me sentir inserido em uma
determinada teoria. Pelo que podemos observar, existem coisas boas e
interessantes em todas, mas existem falhas e uma padronização
excessiva em todos os conceitos que foram descritos até agora.
Pegando como exemplo a ideia de que
bebês precisam ser criados no colo das mães, que foi uma que tive
convívio até agora. Como todas, tem coisas interessantes a serem
pensadas na ideia, mas uma quantidade assombrosa de falhas. Resumindo
bem porcamente, a criança precisa do colo da mãe até um certo
momento para não se sentir desprotegida e desamparada no mundo em
que ainda não está acostumada.
Se você analisar, isso não faz nem
ao menos sentido. Não da pra imaginar que o colo, por si só, seja a
descrição completa do amor que se sente por filhos, ou pela mãe.
Existem centenas de formas de manifestação de amor que não estão
contempladas. Da mesma forma, acho difícil que um bebê não perceba
se a mãe estiver vivendo algum tipo de angústia, ou que a gravidez
tenha sido indesejada e haja muitos problemas durante a fase inicial.
Isso colocaria uma situação mágica do colo suprir problemas
emocionais gravíssimos. Nunca vi nenhum teoria psicológica
contemplar esse tipo de coisa.
Também essa teoria despreza
descaradamente todos os tipos de fatores possíveis numa vida social,
dizendo que isso, por si só, vai criar uma pessoa mais segura
emocionalmente. Se os pais viverem em pé de guerra, houver agressão
física entre eles, se houver mentiras, se a criança viver em um
local muito perigoso criminalmente, se contrair alguma doença, se a
situação de pobreza for tão grande que gerar inclusive
necessidades físicas.
Você despreza todas as relações de
vida para dizer que a solução mágica para os problemas da criação
está em deixar a criança o máximo de tempo possível no colo.
Fora que essa, e muitas outras ideias,
enquadram pessoas em conceitos fechados. Os seres humanos são
padronizados, onde uma atitude leva incondicionalmente a um
determinado comportamento. Não existe situações para pessoas mais
calmas, mais agitadas, mais agressivas, mais expansivas... todo mundo
está dentro de um mesmo saco, tratado da mesma forma. Não precisa
ser muito gênio pra perceber que isso vai dar merda.
Fora que existem teorias realmente
doentes, em que a negativa não deve ocorrer para uma criança. Essa
especificamente, englobando a criação com afeto, pra mim é algo
realmente desprezível e lamentável. Que tipo de pessoa consegue no
mundo tudo o que quer? Quem não falha em seus objetivos na vida?
Quem não tem que conviver e contornar o fracasso? Você querer
evitar que seus filhos convivam com as frustrações da vida deveria
ser considerado algo criminoso, porque quando isso ocorrer e você
não estiver por perto, ele não vai saber o que fazer. Temos uma
grande chance de ter um adolescente depressivo, agressivo ou
intolerante, porque até um certo ponto todas as suas vontades eram
atendidas. Por sorte não conheço pessoalmente ninguém que tenha
manifestado tal tipo de pensamento, o que me alivia em não precisar
ver meu filho convivendo com um pequeno psicopata em alguns anos.
Estudar psicologia é algo muito
legal. Gosto muito das ideias que englobam o comportamento humano.
Mas estudar somente uma teoria e aceitá-la como se isso fosse a
verdade da existência é loucura. É como se a pessoa estivesse
escolhendo se encarcerar numa prisão sem janelas, sem água e sem
comida. Uma hora virá a fome a e a sede, e você não vai ter pra
onde correr.
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