Quando montei minha pasta de desenhos,
ainda adolescente, escrevi algumas frases de filósofos famosos e
colei na capa. Frases que refletiam a minha ideologia de vida. Uma
delas é de George Santayana, “Patriotismo é a limitação da alma
por fronteiras geográficas”. De todas as frases que eu mantive na
pasta, essa é a que mais fixou na minha mente.
Sempre achei a religião a coisa mais
estúpida que a humanidade criou. A ideia de um ser superior
invisível que te escuta e te guia é uma doideira. Quando várias
pessoas se reúnem para seguir essa ideia torna-se perigoso, como a
história da humanidade registra massacres, guerras e torturas por
causa da religião.
O patriotismo vem em seguida. Você
usa a religião, e associa o amor à pátria, faz pessoas humildes e
boas matarem outras pessoas humildes e boas. Em nome do país que
você nasceu cria-se um ódio sem sentido por pessoas que nasceram
outros países. Pouca coisa é mais estúpida que isso.
Obviamente gostaria que o Brasil fosse
um país extremamente desenvolvido, com um IDH espetacular. Gostaria
que as pessoas aqui fossem incrivelmente felizes, prósperas e
saudáveis. Gostaria que fosse um país honesto e ético. Mas
gostaria que o mesmo ocorresse na Argentina, na Bolívia, no México,
no Congo, no Paquistão, ou em qualquer outro lugar do mundo.
Não há porque amar ou idolatrar
alguém porque nasceu em terras brasileiras. Não tenho motivo algum
para querer que uma pessoa nascida aqui seja mais bem sucedida do que
outra nascida na Colômbia, por exemplo. Não entendo a razão de
“torcer” pra alguém, ou para alguma equipe, porque a pessoa
nasceu neste país.
Claro que isso não significa que as
pessoas sejam apátridas. Mas não por causa de amor, e sim por uma
questão administrativa. Cada país organiza um compilado de leis, e
as pessoas que ali residem, sendo nascidas no país ou não, devem
obedecer tais leis. Do mesmo jeito constituem direitos dentro dessas
fronteiras. Seria impossível unificar tudo, administrando um mundo
tão heterogêneo e cheio de necessidades diferentes.
Respeito a cultura local, o que não
significa a cultura de um país. O Brasil, por exemplo, apresenta
manifestações culturais bem diferentes no Rio Grande do Sul e na
Bahia. Os gaúchos, por exemplo, têm características próximas aos
uruguaios. Dessa forma fica meio complicado aderir e idolatrar, sendo
patriota, algo que se assemelha a outro país.
Por outro lado, o Brasil é um dos
países do mundo mais miscigenados que existem. A formação do nosso
povo deu-se de uma forma incrivelmete misturada. Tanto nossos índios
nativos, quanto os europeus, de diversos países, negros da África,
japoneses, agora muitos chineses, coreanos, sírios... e uma
quantidade infindável de latino americanos que consideram nosso país
uma oportunidade.
Como podemos ser patriotas num país
que é uma salada de pátrias? Vou me considerar melhor que
argentinos, sendo aqui vivem tantos argentinos? Ou sabendo que a
Argentina recebe extremamente bem brasileiros, em intercâmbio
comercial e cultural de anos? Posso me considerar melhor (ou pior)
que eles só porque nascemos em pedaços de terras diferentes?
Não há como dizer que isso não seja
uma imbecilidade sem tamanho. Restaurada de uns tempos pra cá, numa
ideologia de direita incrivelmente retrógrada, busca-se um
sentimento de patriotismo como solução para problemas. Ao passo que
busca-se cegar as pessoas para nossos reais problemas. Mais uma vez,
numa tentativa de levar pessoas a fazerem grandes merdas em nome de
uma pedaço de terra marcada por limitações imaginárias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário