domingo, 14 de fevereiro de 2010

O antes e o depois

O assunto do momento no rock é a incrível briga entre os membros do Aerosmith, e seu vocalista, Steven Tyler. Três dos quatro membros da banda já deram declarações públicas que procuram por um novo vocalista, aceitando que Tyler não pode ser substituído. E ninguém imagina a banda sem o lendário Steven Tyler, ou qualquer um que tenha gabarito para substituí-lo no Aerosmith.

E com isso conseguimos pensar que muitas bandas passaram por tal problema, com a saída, por um motivo qualquer, de seu vocalista, que havia consagrado a banda, e a entrada de um novo vocal para tentar manter a fama. Exemplos não faltam: a saída de Ozzy Osbourne do Black Sabbath para a entrada de Ronnie James Dio; a saída do incomparável Bruce Dickinson do Iron Maiden para ser substituído por Blaze Bayley; morre Bon Scott do AC/DC e entra Brian Johnson; Sai Ian Gillan do Deep Purple e entra David Coverdale. Michael Kiske é expulso do Helloween e em seu lugar aparece Andi Deris; até em bandas brasileiras temos tais exemplos, como a saída de Max Cavaleira do Sepultura, sendo substituído por Derik Greeners, assim como a saída de André Matos do Angra para a entrada de Edu Falaschi.

E em todos os casos os fãs entraram em colapso ao saberem da notícia, e se revoltaram com a performance do substituto. Em todos os casos o novo membro da banda mostrava extrema competência para assumir o microfone, fazendo um grande trabalho (nem sempre melhor que o anterior, mas sempre bom). Mesmo assim, o caso do Maiden não teve jeito: Bayley agüentou pouco tempo até ser chutado da banda, para a volta triunfante de Dickinson.

Em outros casos vimos o substituto, senão superar, se equiparar ao original, tomando boa parte das rédeas da banda, conquistando os fãs, e marcando seu nome na história, como fizeram Andi Deris e Brian Johnson. E quando não se tornaram ícones em suas bandas, ou ficaram por pouco tempo, foi o suficiente para erguer sobremaneira suas carreiras, como ocorreu com Dio e Coverdale.

As pessoas parecem que se acostumam com o que gostam, e tendem a “paralisar” no tempo, não aceitando nada de diferente. E como sabemos, vocais não são iguais, muito menos parecidos. Daí, quando alguém deixa uma banda, cria-se aquela expectativa para saber quem poderia “substituir à altura”o anterior. E quando os fãs ouvem o novo vocal, percebem que as semelhanças com o anterior são poucas, e detonam o cara.

Aí vem aqueles malditos argumentos de todo típico fã imbecil, onde “o cara não agüenta tal nota”, “ o cara não tem a pegada do anterior”, e algumas imbecilidades incríveis, como “o cara não canta nada”, “o cara ta estragando a banda”.

É bem verdade que alguns deles têm a extrema infelicidade de lançarem péssimos álbuns, como ocorreu com Bayley, no “Virtua XI”, e com o excelente Gary Cherone, ao entrar no Van Halen, e lançar o mediano “Van Halen 3”. Daí, além de sentirem saudade de anterior, os fãs ainda enlouquecem por não terem em suas mãos mais um clássico como esperavam.

O mais incrível é que via de regra comentamos sobre alguns dos maiores nomes do rock. 90% dos citados cantam absurdamente bem. Os outros pelo menos são muito competentes. Eu mesmo tive o prazer de assistir quatro shows do Helloween com Andi Deris nos vocais, e posso afirmar que o cara canta pra caralho! Eu nunca vi um cara cantar tanto! Não importa se ele não atinge o maldito tom de Michael Kiske, ele tem o modo dele de cantar, e o faz de maneira excelente. E para melhorar, ainda dá sua cara para as músicas da fase Kiske.

O mesmo posso afirmar de Derick, do Sepultura. Todas as vezes que presenciei a banda, não há do reclamar. Ele consegue fazer aquele vocal vomitado do Max, e ainda colocar coisas novas dentro das melodias do Sepultura. Não deixa nada a dever em relação ao seu anterior.

Um caso um pouco diferente podemos dizer sobre Edu Falaschi. Eu assisti a dois shows do Angra. O cara dá umas desafinadas grosseiras de vez em quando, porque ele ainda insiste em copiar o tom de André Matos, esquecendo de cantar como ele mesmo. Mas, mesmo assim, acho os álbuns que ele fez com o Angra excelentes, e seu estilo de vocal é algo bastante agradável aos meus ouvidos. Ouvindo ele cantar suas músicas ao vivo, assim como as antigas de tons mais baixos, da pra perceber que ele é muito bom, precisando apenas de alguns ajustes para colocar seu nome definitivamente na história do heavy metal. E pelo que percebo, este detalhe vem com o nome de “Almah.

O fato é que, apesar de estarmos dentro de um estilo musical que prega a liberdade e a quebra de fronteiras, a busca pelo novo, a possibilidade de ser você mesmo o tempo todo, ainda vemos muitos dos fãs viverem um mundo conservador e cheio de barreiras. As pessoas se impõe limites absurdos, e depois têm dar o braço a torcer, com aquele “é, até que ele canta legalzinho”, tudo porque não conseguem esperar com mais paciência, conhecer primeiro o que irão ouvir, e não se fixarem em malditos modelos pré definidos.

Ai vem as malditas comparações entre estilos, o que é melhor (o antes ou o depois), etc. Um monte de gente ignorante que deixa de curtir uma ótima música porque a banda abandonou o modelo que a consagrou. Isso quando a pessoa curte o novo, mas tenta mostrar para o mundo que sua pose de “headbanger” não permite que ele afirme isso.

Às vezes parece que esse público ainda é meio crianção demais...

E coitado do novo vocalista do Aerosmith.

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