Hoje tive conhecimento de uma das minhas mais saborosas vitórias: passei em 50º lugar no concurso de professor da prefeitura para o cargo de Artes. De mais de 6000 inscritos, fiquei em qüinquagésimo lugar. Abandonei tudo para estudar, gastei dinheiro, deixei de viajar, de ver minha noiva, nem dormia direito. Abandonei meu treinamento físico. Fiz altos sacrifícios ao longo do período pré-prova. Mas consegui.
E a prova foi muito difícil. Me arrisco a dizer que foi mais difícil do que todas as provas jurídicas que tenho prestado, o que aumenta ainda mais minha felicidade em ter conseguido essa tão suada vitória.
E então, chego a um grande dilema na minha vida: faltam apenas 270 pessoas a serem nomeadas para o cargo de Escrevente do TJ para chegar a minha vez, o que deve ocorrer até março ou abril. O salário é de R$2600,00. Independente do Poder Executivo, ou seja, dos políticos, que me enojam. Horário normal de trabalho, com tempo para almoçar, estar com minha noiva à noite. Tudo o que eu quis.
Por outro lado, posso acumular dois cargos de professor. Ganhando cerca de R$3000,00 em ambos. Trabalhando como um condenado, agüentando tudo, mas dentro da área que eu amo, que são as artes.
Essa decisão é perturbadora. Ganhar um pouco mais, e trabalhar alucinadamente mais. Não ter qualidade de vida. Estar ao lado da profissão que eu amo, mas passar todo nervoso do mundo. Ou fazer um serviço burocrático, e possivelmente tedioso. Ganhar relativamente bem. Um exige toda minha capacidade profissional, meu diploma, meus estudos. O outro, exige que eu saiba executar tarefas.
Aí, eu penso com carinho: graças à área da educação estou passando por um final de ano de um estress incrível. Chego agora sem saber o que vai ser da minha vida no ano que vem, em que horário irei trabalhar, quantas aulas conseguirei pegar, em quais unidades. Pode ser que cheguemos ao final do ano e a Secretaria da Educação apronte novas conosco, como sempre faz. O povo mete o pau em professor, e ainda assim somos constantemente agredidos por nossos alunos, pelos pais, pela mídia em geral, pelo nosso maldito governo estadual.
Não da tempo pra estudar, pois o trabalho é árduo e esparramado ao longo do dia. Terei que dar cinqüenta aulas para poder ganhar o salário anteriormente referido. Não poderei limpar minha casa, nem terei tempo para preparar minha comida, o que significa obviamente que minha qualidade de vida irá despencar. Estarei tão cansado, que as brigas com a noiva poderão aumentar. Provavelmente o cansaço irá atrapalhar até mesmo minha libido. Não terei tempo de cuidar direito do meu gato de estimação, que é uma das maiores paixões da minha vida.
Quero continuar me dedicando à carreira artística, pintar novamente. Pena que não vai sobrar mais tempo para isso. Com cinqüenta horas de trabalho fica difícil se dedicar a qualquer outra coisa.
Por outro lado, na pior das hipóteses, se tudo der errado, vou trabalhar em local longe de casa, das 11h00 às 19h00, horários em que o trânsito já é menor. Terei a noite livre para fazer o que preciso. Ganharei bem com um horário humano de trabalho. Poderei por em prática meus planos.
Daí alguém vai vir falar que temos que lutar pela educação. Seria mais fácil se todo dia alguém não quisesse enfiar uma faca no seu pescoço.
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