Em 2004 estava no auge da minha
depressão. Desempregado, tive que parar a faculdade de artes que eu
cursava naquele momento. Resolvi me arriscar nos concursos públicos.
Comecei pra escrevente. Um amigo me ajudou, mandando todos os artigos
de lei que cairiam na prova. Estudei feito um doido, partindo do
zero. Toda hora ligava pra esse cara tirando dúvidas do “juridiquês”
totalmente maluco naquele momento pra mim. Ouvi um monte de gente
dizendo que era besteira, muita gente concorrendo, que eu não tinha
preparação, não ia passar.
Ao final da prova, fiquei entre os
classificados para a prova de digitação. Cerca de 3000. Consegui a
aprovação total. Mas existia um problema no edital, pelo fato de
enxergar com um olho só me colocaram como deficiente visual, e isso
deu um rolo danado, sendo que acabei eliminado. Poderia ter
recorrido, e vi que ganharia o processo. Mas estava muito mal
psicologicamente pra pensar nisso. O fato é que eu passei.
Em 2007 tentei de novo. Estudei ainda
mais, nesse momento juntamente com a prova de professor de artes do
Estado. Consegui ser aprovado em ambos. Em 2009 prestei o concurso
pra professor de artes do Município de São Paulo. Uma prova
dificílima, conceitual, que levava o dia inteiro. Nesse acabei em
50º lugar, também aprovado.
Em abril de 2009, enquanto já era
professor do Estado, nomeado na primeira chamada, fui nomeado
professor da prefeitura, e escrevente técnico, vindo do concurso de
2007. Sim, sem um diploma de direito, contra 105.000 pessoas, eu
consegui. Fui nomeado. Contra todas as possibilidades, todas as
pessoas, e todos os problemas, eu venci essa batalha.
Ainda consegui algumas coisinhas aqui
e ali em concursos, apesar de ter prestado poucos. Em 2018, quando
meu filho nasceu, resolvi prestar o concurso pra Analista do TRT.
Estudei feito um doido, inclusive comprando briga com a mãe dele,
pois a partir de então não poderia mais dar atenção pra ele
enquanto não tivesse a prova. Foi um estresse desgraçado. Nesse
resolvi me inscrever na cota de deficiente, já que tenho o problema
com a visão. Passei em 18º lugar na lista especial. Até agora
foram nomeados seis dessa lista, sendo que estou no aguardo, sem
tanta esperança. Mas também passei.
Sou servidor público desde fevereiro
de 2008. Doze anos nessa brincadeira. E não é algo muito simples.
Os planos de carreira são muito engessados. Existe uma pequena
evolução por tempo, mas a diferença salarial é tão irrisória
que nem percebemos. E não há muita evolução em termos de cargo.
Você pode se tornar chefe e daí seguir nesse sentido hierárquico.
Se não gosta dos postos de comando, não há muito pra onde ir.
Tanto na educação quanto no
judiciário a falta de pessoas para o trabalho é notória. Há uma
quantidade absurda de serviço. Via de regra cada servidor faz
trabalho de três pessoas. Isso significa que ou o não da conta, ou
faz com tanta pressa que erros ocorrem. Não há como sair disso.
Nas demais áreas a situação é
parecida. Pouca gente, muito trabalho, muito desse trabalho urgente.
Salários apenas razoáveis e pouca evolução. A grande maioria,
depois de um tempo atuando, começa a ficar desanimada. A coisa é
sempre enxugar gelo e sempre ouvindo críticas e mais críticas,
sempre ao servidor, nunca ao gestor que deixa a situação em total
abandono.
Muitos trabalham de saco cheio.
Muitos, muitos mesmo, ficam doentes. Eu mesmo já tive problemas de
estresse, ansiedade, enxaqueca, muito relacionados ao trabalho. Já
briguei com colegas e chefes pela situação do trabalho. Já bati
boca com desembargador até. Mesmo assim, o trabalho que exerço está
sempre muito próximo de manter-se em dia. Tenho uma produtividade
alta, com índice pequeno de erros.
Um cara que conheço, dos mais
babacas, que adora meter o pau em servidor público, dizendo que é
vagabundo e não gosta de trabalhar, diz que eu sou exceção. Cortei
totalmente laços com esse trouxa, justamente porque não sou. A
grande maioria dos servidores tira leite de pedra. Com a falta de
material, de estrutura, e principalmente, de pessoal, faz muito além
do que seria possível, sem grande recompensa. Passa nervoso o tempo
todo por querer fazer algo melhor, e não conseguir.
Temos a estabilidade, como muitos
dizem. Mas infelizmente o motivo disso não é lá muito divulgado. A
ideia é não ficar à mercê do partido que estiver no poder. Nossa
submissão é apenas com o trabalho a ser executado, não importa
quem determine. E sempre de acordo com a lei, o interesse público, e
as possibilidades. Um governo altamente perigoso, autoritário e
ideológico, como o que ali está, não tem o poder para oprimir nem
obrigar nenhum servidor a fazer o que eles querem. Se não tivéssemos
a estabilidade, estaríamos recolhendo livros de escolas, proibindo
desenhos de beijo gay, arquivando ou ignorando ações contra
milicianos...
O ministro da defesa, Paulo Guedes,
disse, de forma bem clara, que os servidores públicos são parasitas
do Estado. Vamos lembrar que este ser ganha R$30 mil por mês, tendo
zilhões de assessores. Foi um dos membros do governo Pinochet, a
ditadura mais sangrenta da América Latina, sendo responsável pela
equipe econômico, cujas ações aumentaram vertiginosamente a
desigualdade social no país, levando a essa revolta extremamente
violenta que colocou o governo de joelhos.
Guedes também lucra com o nada. Um
verdadeiro especulador, que ganha dinheiro com bolsa de valores.
Aquele negócio que vende e compra ações. Ações, pra quem não
sabe, é basicamente, o nada. Você vende e compra o tempo todo
ideias, que podem enriquecer ou destruir uma empresa, com papeis que
não existem, um dinheiro basicamente fictício, que determina os
rumos de um país.
Paulo Guedes também tem algumas
investigações e acusações em curso, sobre fraudar informações
para lucrar com a crise. Algumas paradas atualmente por causa do foro
privilegiado, devido ao cargo que ocupa, algo que esses servidores
parasitas que ele diz não têm.
Um ser repugnante, desprezível,
altamente elitista, que acusa o pobre responsável por ser pobre, que
queria impor um reforma previdenciária absolutamente desastrosa (em
partes barrada pelo Congresso), culpado pela situação no Chile. E
agora elege como inimigo o servidor público. Porque pra esse ser
desprezível é importante aniquilar os direitos dessa classe pra
beneficiar totalmente o setor comercial que trará lucros para ele.
Paulo Guedes é o próprio retrato do
elitismo. É a personificação da concentração de renda, da
desigualdade. É o que faz com que o pobre seja pobre, e cada vez
mais pobre, e o rico cada dia mais rico. É o próprio parasita que
descreve, assim como todo e qualquer integrante desse governo
nitidamente nazista que de forma insana o brasileiro colocou ali.
É declarado inimigo do servidor
público. Assim como do aposentado, do pobre, e provavelmente, assim
que esses grupos foram derrotados, outros virão. Paulo Guedes,
conforme descrevi em texto anterior, é o ser mais perigoso do
governo. O cara que deve a todo custo ser derrotado pra não mais se
levantar. É o inimigo total. E todos aqueles que o apoiam devem ser
considerados também inimigos a serem vencidos. Paulo Guedes é uma
ameaça para qualquer pessoa que não esteja limpando a bunda com
notas de R$100.
Estou querendo muito assistir esse filme, me parece ter um senso crítico incrível.
ResponderExcluirhoroscopo diario