sábado, 21 de março de 2020

A INÚTIL ARTE DE REZAR


Estava lendo e ouvindo de alguns comentaristas políticos e de comportamento, sobre como o povo brasileiro tem sido diretamente influenciado pela religião e pela fé. Praticamente direciona todos os seus atos de acordo com o que acredita espiritualmente, e em geral, a fé cristã. E analisando os rumos que o país seguiu nos últimos anos, não é preciso ser um gênio pra perceber que deu merda pra caralho.
Agora, com o coronavírus, bem como o que ocorreu em Brumadinho, ou em outras catástrofes imensas, as pessoas se propuseram a ajudar as demais... rezando! Isso, elas se ajoelham, param na frente da pia, na escada, na privada ou sei lá mais onde, e rezam. E acreditam muito que isso vai fazer alguma diferença.
Tenho criticado imensamente essa postura de brasileiro. E como não poderia ser mais óbvio, já despertei a ira de alguns. E como os que me conhecem já sabem, eu não ligo a mínima pra isso.
Pra começar porque temos que ouvir o tempo todo comentários religiosos, espirituais ou crentes para absolutamente tudo (“se Deus quiser...”, “graças a Deus”, “vamos jogar nas mãos de Deus”). Então não há motivo nenhum pra essa gente dar xilique quando alguém coloca a opinião contrária. Provavelmente vocês não estão lá muito acostumados, porque não é muito comum no Brasil pessoas demonstrarem ideias diferentes no que diz respeito à fé, mas acreditem: pessoas pensam diferente de vocês. E acreditem mais ainda: enche o saco ficar ouvindo essa baboseira religiosa o tempo todo. Se vocês querem entuchar essa merda nos outros, não reclamem quando as pessoas se posicionarem.
Vamos no ponto que eu sempre digo: fé é uma ideia, e religião é a associação de pessoas que mantém essa ideia. A ideia não sofre, nem fica feliz, não sente dor, nem tristeza, nem ama. Ela é simplesmente um concatenado de pensamentos que tenta fazer algum sentido. Então você criticar essa ideia não representa ofensa alguma. Aliás, mentes pensantes criticam, elogiam, debatem. Essa ideia de que tem que ter respeito por religião é uma furada imensa. Eu respeito muito seu direito de pensar da forma como quiser, e de defender seu pensamento sempre. A ideia, se não for boa, eu vou criticar. A vida é assim. Sinta-se à vontade para criticar as minhas também.
Por fim, vamos ao tema central aqui proposto. A oração. Um jeito muito simpático de muita gente se sentir bem não fazendo porra nenhuma.
Acredito que existe sim um aspecto positivo no ato de rezar. O pensamento positivo, aquele que a pessoa acredita estar buscando e atingindo quando reza, é algo que pode motivar. Não só a mente e as ações, como o próprio corpo humano. Todo e qualquer pensamento positivo pode fazer isso. Nesse sentido não vejo qualquer problema no ato de rezar. E trazendo essa atitude como algo complementar à busca diária por evolução e pela sobrevivência(metaforicamente falando).
Agora, quando o camarada somente reza e espera a coisa cair do céu, ou se conforma com qualquer merda que acontece na sua vida justificando que é a vontade de deus, aí é de foder. E mais do que nunca, isso tem causado muitos danos à vida em comunidade. Eu, como ateu, tenho sentido os efeitos dessa merda na minha vida, sempre querendo a máxima distância desse tipo de pensamento.
Vamos colocar como exemplo a tragédia de Brumadinho. O que eu vi de gente pedindo pra orar por Brumadinho foi uma grandeza. Devo dizer que foi interessante algumas pessoas fazerem doações pelos necessitados. Mas somente ações paliativas ou inúteis. O que adianta rezar, se a empresa responsável pela tragédia está aí, livre pra continuar agindo, sem se responsabilizar ou indenizar todas as famílias, por perdas incalculáveis? Uma situação dessas era de revolta generalizada. O que tivemos foi uma barbárie humana. Um genocídio. Era preciso boicote à Vale, pressão popular e cobrança por punição e reparação. Mas não: temos muita oração, muitas famílias desoladas e sem nada, e mais um monte de barragens em grande risco. Lembrando que essa foi a segunda tragédia desse nível.
A fé e as orações trouxeram um nazista à presidência, apoiados por um grupo de pessoas que reza pra caralho. Passa necessidade, às vezes nem tem o que comer, casas precárias, sem um sistema de saneamento e saúde decentes. Mas estão sempre rezando e se conformando com a vontade de Deus (ou o que eles entendem ser).
Você pode rezar o quanto quiser, e basicamente eu to cagando pra isso. Mas não vai adiantar nada, absolutamente nada, nada mesmo, se você não tomar atitudes que justifiquem seus pedidos. Partindo do pressuposto que Deus exista, eu não imagino que ele vá te atender estalando os dedos e mudando tudo do nada. Provavelmente você terá alguns caminhos que poderá seguir pra conseguir vencer, mas vai depender exclusivamente de você.
Me perguntam o que um ateu faz na hora do aperto, a quem ele recorre. A resposta é a mais simples possível: a nós mesmos. Às vezes a pessoas de bom coração, porque nem sempre conseguimos vencer sozinhos. Mas no geral, à força de vontade, ao imenso e inabalável desejo de evolução, à vontade de aprender e melhorar sempre. Nenhum ateu vai sentar e esperar as coisas se resolverem sozinhas. Isso não rola.
E eu às vezes tenho dúvidas em quanto a maioria dos crentes realmente acredita em Deus. Pra mim essas pessoas apenas demonstram um imenso desespero no momento que não conseguem encontrar soluções, e usam essa possível espírito supremo como muleta. Jogam literalmente nas costas do ser divino toda e qualquer responsabilidade que tenham medo ou preguiça de assumir.
Conhecimento é o que faz as coisas mudarem. Conhecimento para saber se virar em cada situação. Conhecimento para entender como funciona seu corpo, sua mente. Conhecimento para ser melhor. E se você é teísta, tenha em mente que Deus pode ter dado esse conhecimento para que você consiga obter o que você pede na sua reza. Mas você prefere jogar isso fora, e apenas continuar rezando.

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