Tenho escutado algumas pessoas
reclamarem sobre a propagação das minhas ideias ateias, assim como das
polêmicas que tenho causado, especialmente em redes sociais. Isso não é de
hoje, mas é especial, pois é a primeira vez que estou mexendo com vontade nesse
ninho de marimbondo que é a fé. Em geral marquei minha vida por polêmicas,
defendendo comunismo, falando sobre política, criticando o PSDB, metendo o pau
em novelas e reality shows, falando mal de barulhos, cachorros, etc. As defesas
que fiz também foram de coisas que geram controvérsias, o que me acirrou no meu
nível de polêmica e de chatice.
Acredito que o brasileiro tenha um
péssimo hábito de ser acomodado. Mesmo que odeie a situação, aceita por temer
ser chato ao reclamar. É algo tipicamente brasileiro, e explica muita coisa
errada pela qual temos passado. E em certo ponto tenho ciúme do que vejo na
Argentina, na França, no Egito, na Grécia. Lá as pessoas não ficam sentadas
esperando o mundo desabar em suas cabeças, nem se contentam com o que é ruim
por achar que o mundo é injusto e não podemos fazer nada.
Sim, eu sou um chato para os padrões
brasileiros. Acho muita coisa errada na religião, e critico isso. A religião já
criou uma quantidade incontável de sofrimento e de assassinatos, e não acho que
eu tenha qualquer razão pra respeitar isso. Recentemente a igreja católica
apoiou o nazismo. Milhares de pessoas foram torturadas e assassinadas, roubadas
e tiveram seu pensamento cerceado por causa disso. Acredito que essas pessoas
dariam tudo na época por chatos que contestassem esses valores.
Também sou um chato com a política,
porque vivemos num país onde a corrupção impera. Aqui o normal é político ser
ladrão, e todo mundo dar risada da situação ou tentar tirar seu próprio
proveito disso. E falar sobre política é ser ainda mais chato, pois é um
assunto sem graça, e que exige grande conhecimento. Até se criou um discurso de
que política não se discute. Mais uma excelente explicação do porque as coisas
estarem como estão.
Sou um chato ao criticar reality
shows e suas consequências para um povo que não se interesse por um mínimo de
conhecimento mas perde horas e gasta dinheiro com programas estúpidos que ao
invés de agregarem cosias somente fazem com que tenhamos preguiça de pensar.
Assim como critico mídias que apresentam reportagens tendenciosas, mostrando
determinados grupos como arruaceiros e criminosos, enquanto outros, por agirem
das mesma forma ou de forma pior, são mostrados de maneira isolada e
independente, sem qualquer relação com a filosofia que praticam.
Sou chato pra caralho com barulho,
porque acredito que todas as pessoas têm o direito ao seu sossego, assim como
têm o direito de escolher não partilhar determinada festa, reunião ou
brincadeira. Todo mundo tem o direito de ficar em casa, sossegado, sem ter que
aguentar barulho dos outros. E sou chato com rojões, porque qualquer pessoa que
tenha um bebê ou animalzinho sabe que esta merda de divertido não tem nada.
Um amigo meu recentemente me disse
que o direito de um termina no direito de outro, e por isso sou tão chato e tão
polêmico. Acredito que o direito religioso transcendeu a própria fé, quando
matou tantas pessoas. O direito de não falar de política deixou de ser
individual quando eu estou sendo roubado no uso dos meus impostos. O direito da
pessoa se divertir acabou quando ela me força a ouvir a merda de uma música que
eu não quero ouvir, especialmente de madrugada. O direito de alguém assistir um
programa acaba quando ele quer me forçar a entender o que está bosta
representa, mas não quer sequer conversar sobre política.
Por isso eu sou chato, e insisto na
minha chatice. Não acredito e nem tenho a pretensão de que as pessoas irão
seguir minhas ideias. Não acho que ninguém vai virar ateu por minha causa, ou
se tornar um esquerdista, nem começar a ouvir heavy metal, ou sequer irá ser
amante de gatos porque eu gosto desse bicho.
Mas acredito que as pessoas irão
comentar alguns assuntos, se eles forem propostos. E irão pensar a respeito. E
esta é a ideia: se questionar. Duvidar dos limites que têm sido impostos, ou de
até onde se está chegando, e de que isso vai trazer benefícios. Se questionar
se as atitudes que temos tomado são as melhores pra se viver em uma sociedade,
se conseguimos viver em grupo. Se questionar se você está praticando o que sua
própria fé prega, ou se você tem sido hipócrita. Se questionar se os seus líderes
religiosos agem de acordo com o que pregam, se agem de acordo com sua fé.
Questionar se temos o direito de impedir a liberdade das pessoas por elas
fazerem escolhas diferentes.
Pra muitos eu quero aparecer. Talvez
eu queira mesmo. Mas infelizmente as pessoas ainda estão olhando pro meu nome,
e as ideias ficam de lado. Eu gostaria de aparecer como a pessoa que está
provocando a discussão, como alguém que tenta acrescentar alguma coisa. Pra
isso estudei arte por um longo tempo, com dedicação, e estou apenas aplicando
algumas coisas que aprendi.
Claro, sou um cara isolado. Tenho
alguns poucos amigos que gostam de falar de política, mas em muitos assuntos,
estou isolado, e talvez isso me faça ridículo pra muita gente. Mas, quer saber,
quando que vocês me viram me preocupar com o que os outros pensam a meu
respeito? Um outro grande amigo quando foi questionado disse que estava fazendo
sua parte para o bem estar do país. Pois é isso que penso. Não consegui agir
desta forma como professor, porque existiam muitas rédeas, apesar de aplicado
muita polêmica dentro do conteúdo que passava, e ter sido feliz em fazer as
pessoas refletirem muitas vezes. Mas faço o que posso como cidadão, até porque
jamais alguém deixará de ser um artista ou um professor, e agora, um
profissional do direito.
Eu espero que meus amigos continuem
seguindo sua fé, sua ideologia política, continuem ouvindo as músicas que
gostem, os programas de televisão que amam... espero que continuem defendendo
seus pontos de vista, e entendo que de vez em quando agente perca um pouco o
controle quando os defenda enfaticamente. Isso é bom, e acho que só tem a
agregar ambas as partes. Acredito que adquiri bastante conhecimento e um pouco
mais de percepção “do outro lado” com essas discussões. Isso tem feito com que
mude alguns enfoques que eu abordo, e enfatize outros.
Mas fico feliz que pelo menos um
seleto grupo de pessoas está pensando e argumentando, e provavelmente fazendo
algumas pessoas, por menor que seja o número, pensar a respeito do que tem sido
discutido. Analisar pontos das duas partes ou mais partes que argumentam. Em
qualquer país do mundo isso é o que diferencia um país subdesenvolvido de um
país justo. E acho que precisamos disso pra atingirmos um bom grau de respeito
e de convivência das nossas infinitas e diversas expressões.
Por isso eu agradeço imensamente aos
meus grandes amigos, Igor Félix, André Luis, Rodrigo Gallo, Nivaldo Menezes,
Rodrigo Reis, Wagner Novais, Alessandro Lima, e minha esposa Vanessa Vieira, e
as pessoas que pela minha terrível memória eu esqueci de mencionar, pelos
inúmeros debates. Mesmo que vocês não acreditem, acho que me sinto um homem
muito melhor depois deles, do que era antes. Se para o resto das pessoas não
tiver servido pra nada, pelo menos pra mim ajudou bastante.
Roberto, concordo bastante com os seus pontos, aliás sempre concordei. Mas na minha opinião você ser chato não é o problema, todos gostamos de você assim. O que gerou estes ultimos problemas é o seu extremismo. Como você disse precisamos viver em sociedade, em grupos e nem todas as pessoas interpretam da mesma forma, que não só por sua culpa deixamos de compartilhar pelo menos dois momentos de confraternizaçao com amigos. Veja bem não estou tirando a mi há culpa, do meu marido Rodrigo ou até da Vanessa, mas gostaria que você voltasse a ler os comentários referente ao vídeo de ateísmo que o gallo compartilhou para ver a opinião dos seus amigos e sua esposa.
ResponderExcluirEspero que no ano que vem você continue sendo chato como sempre, pois gostamos de você assim, mas que os assuntos sejam mais claros para continuarmos vivendo em grupo. Feliz ano novo!
Juliana Luzio Reis