Em 2004 eu prestei meu primeiro
concurso para Escrevente do Tribunal de Justiça. Naquela época fiquei feliz por
ter competido com quase cem mil pessoas e chegado à segunda fase, numa boa
classificação. Por um problema burocrático referente à minha deficiência
física, acabei sendo eliminado. Na época estava mergulhado numa terrível
depressão, e não quis correr atrás desse
erro que cometeram.
Analisando hoje, acho que posso me
sentir feliz, por ter estudado tanto, ter me dedicado e me esforçado, e ter
chegado tão perto, mesmo tendo vindo sem qualquer preparo. Acho que consegui
superar muitas barreiras. Mas agi como um verdadeiro perdedor, ao deixar de
lado algo que poderia ter mudado minha vida naquele momento. Ainda mais vendo
alguns anos depois que quem esteve em situação equivalente à minha e tentou uma
ação judicial, saiu-se bem.
Posso dizer que na vida sou um
vencedor: consegui um ótimo emprego num órgão público, comprei minha casa, está
toda mobiliada, sem dívidas, fiz o casamento que eu queria, tenho meu carro,
estou cursando minha segunda faculdade... já fui chefe de setor. Tive um número
incontável de vitórias na vida. Mas tive muitas derrotas também. Algumas me
derrubaram de verdade, outras só me fizeram tropeçar.
Mas acho que posso olhar pra trás e
ter orgulho do meu passado, pois eu jamais desisti de alguma coisa sem tentar:
tentei ser professor, tentei ser chefe, tentei ser pintor, tentei manter
relacionamentos que demonstravam estar afundando... tentei até mesmo acreditar
em deus! Algumas vezes o resultado não foi o esperado, mas eu sei que se alguém
me venceu, teve que suar bastante pra conseguir. E acho que isso é o mais
gratificante: você saber que não é um perdedor, e que quem quiser te derrubar
tem que ser realmente bom. Tem que ser bom pra caralho!
E vemos tanta gente se acomodando com
o pouco que têm. As pessoas não querem melhorar, nem mesmo como pessoas.
Aceitam os problemas que as cercam como se fossem coisas naturais (uma das
coisas que mais me enojam nas religiões). As pessoas nem sequer se esforçam o
bastante.
Perder faz parte da vida. Saber
perder é essencial. Mas tirar proveito da derrota pra que na próxima luta você
se saia vencedor, isso é o diferencial. E isso que faz a diferença entre ser um
vencedor ou um perdedor. E quem se acomoda, ou deixa de tentar porque acha que
a desilusão é inevitável, ou que uma derrota será uma catástrofe, esta se
colocando num patamar de inferioridade que até mesmo pena desperta nos demais.
E não há nada pior pra se sentir de uma pessoa do que pena.
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