domingo, 27 de março de 2011

Estagiários


Depois de uma longa discussão, onde o assunto acabou pendendo para a lei do estágio, resolvi finalmente deixar um espaço para comentar minha opinião a respeito do assunto. Com experiência de dois estágios, ambos não remunerados, um na área de Design, outra na educação, posso dizer que acabei por tirar bastante proveito das minhas experiências, melhorando bastante minha qualidade técnica, mostrando meu valor, a ponto de substituir uma licença maternidade da professora que orientava meu estágio.
Acredito, como afirma a lei do estágio, que a função do estágio é a melhoria técnica do estagiário. A idéia é adquirir novos conhecimentos, novas técnicas, e experiência na rotina de trabalho. Todo mundo sabe que o estagiário é o ser que “faz merda” dentro da empresa, até porque a experiência é nula. Mas, se pensarmos que os melhores profissionais têm seus momentos de       “branco”, quando cometem erros infantis, por que querer algo profissional de um estagiário?
Quando uma empresa contrata um estagiário, presume-se que ela tenha paciência para ensinar, e para corrigir erros, que certamente irão aparecer. Imagina-se que não esperam resultados de produção num nível igual a um profissional. Sabe-se que os serviços serão “menores” destinados a um estagiário, até porque a responsabilidade não é a mesma.
Na prática, não é o que acontece. As empresas contratam estagiários para que produzam o “serviço braçal”, que ninguém quer fazer na empresa. Esperam que o burro de carga faça força. O aprendizado na maior parte das vezes acontece mesmo, mas tem como contrapartida o uso da força do novato. Nas poucas vezes em que um estagiário tem a oportunidade de realizar um trabalho onde realmente vá aprender, a cobrança sobre ele é exatamente a mesma que ocorre em um profissional da empresa.
Por outro lado, muitas empresas, ainda contra a legislação vigente, exigem experiência profissional de estagiários. Se existe algum absurdo na área trabalhista maior do que este, eu realmente não conheço. Se todo mundo sabe que a idéia de um estagiário quando entra numa empresa é aprender sobre a rotina profissional, o que raios leva a empresa a exigir experiência? Será que não passa somente de uma manobra para pagar menos para uma pessoa fazer o mesmo serviço? Será que não é somente uma forma de se livrar de encargos trabalhistas?
Obviamente, temos os problemas gerados pelos estagiários. Na maior parte das vezes, são jovens que realmente não ligam muito para nada. Como boa parte da nossa população, são guiados pela “lei do menor esforço”. Fazem o necessário, cumprem apenas ordens, recebem o dinheiro e vão embora. Usam o direito que têm de metade do expediente para estudar para provas, para irem para casa dormir, ou irem para o bar beber com amigos. O que não justifica o fato de se mudar a lei, pois não é porque alguns abusam dos direitos, que temos simplesmente que tirar os direitos de todos.
O problema aí é o que tenho me referido há muito tempo: a educação no país é uma lástima. Já refleti um bocado sobre o tema, e tenho certeza de que se não melhorarmos estes pontos urgentemente, teremos uma bola de neve que se espalhará por todas as outras áreas: profissionais pouco qualificados, cidadãos enganados, insegurança, violência, etc. O reflexo pode ser visto claramente na sociedade já nos dias de hoje.
E sabendo o quanto no Brasil as empresas adoram explorar seus consumidores, o quanto usam a lei para pagarem pouco aos trabalhadores, não é de se espantar que queiram usar os estagiários como mais uma forma para terem lucro fácil. Óbvio que não vou generalizar, sabendo que muitas empresas, especialmente as pequenas, enfrentam a burocracia e a imensa taxa tributária, e não têm condições de oferecem bons salários, nem muitas vagas de emprego. Mas infelizmente a mentalidade do brasileiro ainda é levar vantagem em tudo, especialmente nos menos poderosos.

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