Eu nunca tive um ente querido meu tirado por um assassino. Não sei exatamente qual deva ser esta dor. Sei que a saudade é insuperável. Mas posso imaginar o tamanho da infelicidade que é ter ódio mortal de alguém pelo resto da vida. Você querer fazer com que a pessoa sofra pelo que fez, e que pague com isso com a própria vida. Um sentimento que deve consumir, apagar qualquer indício de felicidade. Acho que, mesmo que você consiga sua vingança, você sempre irá ser acompanhado por esta raiva.
Eu senti um ódio mortal da minha ex, pelas mentiras e pela dor que ela me fez sentir. Quis fazê-la sofrer de verdade. Queria que ela pagasse por todos os erros. Queria que ela sentisse muito mais do que eu senti. E depois de uns seis meses, percebi que eu é que estava sofrendo. Não faço a menor idéia se ela pensava nisso, se ela sentiu prazer em me fazer sofrer, se ela se divertiu, se ela se arrependeu. Só sei que o ódio me consumiu e me impediu de encontrar um novo e melhor relacionamento.
Mesmo quando percebi isso e lutei em tirar estes sentimentos ruins do meu coração, a luta foi difícil, e chegou mesmo a atrapalhar um pouquinho meu relacionamento com a Vanessa. O ódio ainda fazia com que eu temesse alguns velhos problemas.
Até que você percebe que o que aconteceu, aconteceu, e nada no mundo irá mudar o passado. As coisas estão feitas, e por mais que você se vingue, nada será diferente. A sua vida continua, e você continua tendo a chance de ser feliz, mas você continua estragando a sua própria felicidade, mantendo fantasmas do passado vivos na sua mente. E isso vai te consumindo por dentro.
Hoje, nos raros momentos que encontro minha ex, simplesmente não sinto nada. É uma estranha. Cheguei mesmo a me sentir feliz por ela quando soube que ela casou, quando soube que teve seu primeiro filho. Consegui me sentir bem pelo fato de saber que ela estava bem. E como isso foi bom. Isso me ajudou a ser feliz sem magos, a perceber que este ódio não valia nada.
E então entendemos porque os cristãos e a maior parte das religiões fala tanto no perdão. Agente não têm que perdoar ninguém porque somos bons e puros de coração, temos que perdoar porque se não o fizermos, o ódio que sentimos irá destruir a nós mesmos. Nós é que iremos viver este sentimento, dia a pós dia. Iremos ser consumidos por ele. Mesmo que matemos a pessoa que irá morrer, ela simplesmente não sentirá mais nada, e nós continuaremos a sofrer.
Perdoar não significa que você precise amar a pessoa que te prejudicou, que você seja amigo dela, ou qualquer coisa assim. Significa que você tenha que arrancar esse ódio de dentro de você. Seu agressor pode não significar nada para você, e na verdade este é o melhor caminho, mas você não deve ter a presença dele em sua mente por nada.
E como prova viva disso, posso afirmar que depois que consegui este perdão verdadeiro, me libertei totalmente, e consegui um relacionamento maravilhoso, com liberdade para ambas as partes, onde consigo amar com todo meu coração a Vanessa pela pessoa que ela é, e consigo ser feliz assim, confiando nela totalmente.
Da mesma forma que, mesmo sem que ela pedisse, perdoei minha mãe por todo o sofrimento que ela me causou no passado, e vivi a minha vida da melhor forma possível. Perdoei a pessoa que criou uma grande briga com o meu pai e acho que ele está entre os grandes amigos da minha vida. Perdoei meus próprios grandes erros, e tive a certeza de que poderia aprender com eles, e ser sempre uma pessoa melhor.
O perdão deve ser o mais nobre dos sentimentos, além do mais necessário. Acho que é o que nos faz mais crescer como pessoas.
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