Nosso código penal traz alguns crimes
que estão aliviados por situações, que nada mais são do que
justificativas, chamadas atenuantes, que tornam as penas um pouco
mais brandas. Estar bêbado na hora do crime, tomado por grande
emoção, etc. Essas circunstâncias não acabam com a punição, mas
servem de justificativa para evitar que sejam tratados como
criminosos que tenham agido a sangue frio.
O
fato de ser mantida a punição tem não só o caráter corretivo (na
verdade eu vejo mais uma sociedade vingativa, porque aqui
dificilmente se corrige alguma coisa), como também evitar que por um
determinado tempo a pessoa que cometeu o crime esteja em contato com
a sociedade, sendo para ela uma ameaça. Assim, se a pessoa mata
alguém tendo transtornos mentais, ela será internada em um hospital
psiquiátrico, não só pra ela mesma, como pra evitar que mais
pessoas fiquem em risco ao terem contato com alguém doido e
assassino.
Comecei
com essa explicação porque tenho visto pessoas justificarem atos
bárbaros por diversos motivos. Desde o comunismo, passando por
bebida, crise hormonal, estresse, cansaço, e todo tipo de desculpa.
Logicamente, a mais comum, vontade de Deus ou provocação do Diabo,
e sem dúvida as duas mais odiosas.
Acredito
que todos passam por problemas sérios na vida. Até hoje não
conheci uma só pessoa que tivesse uma vida plena e feliz, sem riscos
e sem algum momento de extrema tensão, ou alguma doença grave. Isso
faz parte. E num sistema capitalista, onde é preciso enfrentar um
monte de situações ruins pra sobreviver, o que significa ganhar
dinheiro, o convívio com o estresse é regra.
E
a maioria das pessoas não consegue canalizar o problema. Geralmente
descontam a raiva, o problema, as angústias, em quem estiver perto.
Tratam mal filhos, pais, amigos, cônjuges… vira um problema imenso
que vai virar uma bola de neve. Afinal, ninguém gosta de ser tratado
de forma agressiva por um longo período. Em algum tempo, isso se
tornará um conflito.
Se
você não cometeu um crime no seu período de caos, mas cometeu
algum erro colossal, talvez não seja possível reverter a situação.
Alguns erros não tem como voltar atrás. Mas você pode analisar os
fatos, entender onde errou, assumir os erros, e tentar evitar que
eles voltem a se repetir em uma situação semelhante. Essa parte eu
creio que é a máxima dignificação da personalidade.
É
justificável você trair seu marido por carência. Existe um motivo
que leve a isso. Mas ainda assim, a mentira continua sendo um erro.
Provavelmente seria mais fácil conversar com ele, e se não surtir
efeito, partir pra algo que te deixe feliz. Até porque você ganha
dois problemas. Obviamente numa situação dessas existe culpa
recíproca. Mas não acredito que alguém vá atingir a felicidade
numa situação dessas.
Peguei
um caso inventado como exemplo, mas qualquer coisa poderia ser
enquadrada aqui. Mulheres são agressivas e culpam a TPM. Homens são
agressivos e culpam o estresse. Todo mundo faz merda no trânsito
porque está morrendo de pressa e não tem tempo. Pais não dão
atenção para os filhos porque trabalham demais. Os mesmos pais
deixam de corrigir atitudes ruins dos filhos por terem uma infância
autoritária e não quererem passar essa mesma imagem, e acabam indo
pro extremo oposto. Todo mundo faz merda, algumas vezes de forma
imensa. E todo mundo tem um motivo pra isso.
O
que eu não entendo, de verdade, é o fato das pessoas insistirem por
uma vida inteira em manter a justificativa, como se todas as demais
pessoas tivessem alguma obrigação de aturar essa merda porque ela
tem um motivo. Então vamos ser claros: ninguém tem obrigação de
nada. Se você trata alguém mal, essa pessoa vai se afastar. Isso é
um fato. Se você quer alguém perto de você, seja gentil, educado,
ou minimamente divertido. Você não precisa adular uma pessoa o
tempo todo, mas ficar batendo (metaforicamente falando) é algo que
só cria problemas. E tem certas coisas que se quebram e nunca mais
podem ser arrumadas.
Não
existe vergonha nenhuma em assumir os próprios erros. Mesmo que
tenham sido deliberados, que você queira ter prejudicado alguém, ou
que não tenha dado a mínima, o arrependimento é algo positivo,
pelo menos na minha visão. Se você entende que causou o mal, talvez
não o repita. E se você assume seus erros, independente dos motivos
que o levaram a errar, e sabe que a culpa é sua, você se da a
oportunidade de melhorar e não errar mais. E muito provavelmente
pessoas boas começarão a ter admiração por você.
Pare
de culpar uma porrada de fatores externos, e assuma suas merdas!
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