Daqui a uma semana completo meus 39
anos. Beirando os 40. De uma vida turbulenta, cheia de problemas,
conflitos e sofrimento. Como qualquer um.
Escrevi aqui, no facebook e sei lá
mais em qual rede social, que sempre me considerei um vencedor.
Comprei minha casa própria, em um condomínio fechado. Comprei um
carro à vista. Tive várias nomeações em concursos públicos.
Tenho dois diplomas de nível superior. E hoje, quase quarenta anos
depois, eu vejo que tudo isso não passa de um monte de lixo inútil,
que trouxe pouca coisa útil à minha vida.
Eu vivi seis anos em casa que eu
comprei, que eram o sonho da minha vida. Tive por mais tempo esse
carro, pela qual até aprendi a dirigir, e fiquei bom nisso. Tive uma
família completa, que era meu grande sonho. Me tornei chefe no
cartório em que trabalho. E não fui feliz um único dia.
Eu vejo um monte de gente falando em
ganhar dinheiro, ser rico, montar negócio, viajar o mundo. Vejo
gente tentando ter o corpo dos sonhos. Pagar a escola mais cara do
mundo aos filhos. Gente que quer carro novo todo ano. O tempo todo. E
isso é nada. Não vale nada. E quando você menos espera, toda essa
merda sem sentido está te levando pro fundo.
Passado um ano do pior pesadelo que eu
poderia viver, não consigo expressar em palavras a grande mudança
que tive na minha vida. Vivo numa casa de aluguel, sem carro, fazendo
tudo no sacrifício, tendo basicamente a conta no vermelho todo mês,
tendo que bater boca com meio mundo no trabalho... mas nunca me senti
tão feliz como nesse momento.
Eu posso dizer que hoje sei quem eu
sou, descobri meu verdadeiro valor e minhas qualidades. Aprendi a
lidar com muitos dos meus defeitos, ainda tendo consciência dos
muitos que existem por lidar. Sei quais valores devem ser mantidos, e
quais eu quero longe da minha vida.
Sou um homem livre de qualquer
preconceito. Tenho relacionamento perfeito com pessoas de qualquer
cor, de qualquer orientação sexual, de qualquer religião... mas na
verdade tenho amigos que ao longo de quase quarenta anos fizeram uma
vida toda valer a pena. Pessoas diferentes de mim, que já travaram
altas discussões por motivos mais estúpidos o possível, mas que
podem ser considerados irmãos de uma vida.
Vi minha família, sempre
desestruturada, encontrar um norte. Cada um de seu jeito, com
problemas que não ficaram muito solucionados, mas com união. União
à distância, porque todo mundo mora longe pra caralho, e quem vive
com a conta no vermelho não tem muitas condições de ficar indo ver
toda hora. Mas união.
Eu tenho um filho lindo, espetacular.
E mais: eu nunca achei que teria capacidade de ser um bom pai. Quando
soube da gravidez entrei em pânico. Medos vieram como um bombardeio.
Mas as coisas se arrumaram. Hoje, com quase dois anos, esse menino é
quase um grude comigo. Não da um trabalho maior do que testar minha
capacidade física de acompanhar sua energia. Dificilmente está ao
meu lado de alguma forma que não seja sorrindo. Já tive que ouvir
muita merda sobre minha relação com ele. Até mesmo que não era
bom pai, que era ausente e que não ligava pro meu filho. Pessoas
viraram a cara pra mim por causa disso. Mas o resultado é evidente e
inegável. Quem me vê na convivência com ele percebe claramente o
quão podres e mentirosas são tais palavras, de pessoas que vivem
num amargor de ressentimento e frustração. Enquanto eu simplesmente
vejo o lindo sorriso desse pequeno ser. E vivo ouvindo “Quem diria,
hein?”
Aprendi a impor limites. Por muitos
anos vivi uma história infeliz, porque acreditava que tinha que
aturar coisas insuportáveis por viver uma posição social definida,
e por não poder abandonar uma pessoa que escolheu deliberadamente
viver em problemas. O resultado é que os problemas se aprofundaram e
tomaram conta de mim também. E hoje se a coisa for contra mim, o pau
come. Não aceito mais o que é errado, ou o que pode me ferir. O que
não significa que não aceite nada. Muitas vezes tomamos medidas que
não são as mais perfeitas, para adequar uma boa vida de um filho.
Até porque muitas vezes o outro lado tem uma boa parcela de razão.
Eu fiz uma tatuagem. Algo que eu
queria há 20 anos. E por motivos diversos nunca concretizava. Ainda
não consegui terminar, porque foram tortuosas 6 horas de dor,
restando ainda mais. Mas é questão de cicatrizar de vez a pele e
finalizar o processo. E o resultado é que estou completamente
apaixonado por essa maravilha! É um sonho estúpido virando
realidade. E já estou pensando em mais! Irei fechar meu braço
esquerdo de desenhos. Sim, isso irá acontecer, gostem ou não. E não
percam seu tempo tentando me fazer mudar de ideia. Nada vai. Se eu
vou perder algum cargo importante por isso? Foda-se! Não é o que me
preocupa na vida mais.
Comi mulheres ao longo desse tempo. E
só uso esse termo porque usei com elas. E tenho um orgulho absurdo
em dizer que elas se tornaram boas amigas. Pessoas que mudaram a
forma que eu me via. Levei alguns foras também. Talvez mais do que
as que tenha comido. E a maioria também virou minha amiga. E também
ajudou a melhorar o meu modo de ver e agir. Acredito que tenha sido
bom pra elas também. Pelo menos consegui arrancar delas sorrisos e
risadas. Acho que isso vale muito a pena.
Conheci muita gente bacana. Continuo
conhecendo. Vivi momentos que nem imaginava serem mais possíveis.
Encontrei muito do que eu buscava ao longo de quarenta anos. E ainda
falta coisa pra caralho pra encontrar. Minha saúde melhorou, meu
corpo melhorou, minha mente melhorou. As pessoas demonstram muito
mais felicidade em estarem ao meu lado. Eu escuto com uma frequência
incrível o quão melhor eu estou.
E eu encontrei o vegetarianismo. Está
entre as melhores coisas que me aconteceu. Ter a possibilidade de
viver sem fazer parte de um ciclo de morte e dor é algo que faz
muito, mas muito bem para o espírito. Saber que qualquer ser vivo é
digno de respeito e paz, e que na medida do possível eu faço minha
parte para isso, é fantástico. A sensação de felicidade em fazer
parte desse mundo é indescritível. E espero muito em breve fazer
parte do veganismo. Ainda faltam algumas etapas, mas eu chego lá.
E ainda veio o Eddie. Um gatinho magro
e abandonado que apareceu no quintal de casa. Um doce, que eu sabia
que faria parte da minha vida, e hoje, uns seis meses depois, dorme
agora no sofá, gordo pra cacete, extremamente dócil e o “brinquedo”
preferido do meu filho - “anedi”.
Eu perdi muita coisa ao longo desses
anos. Materialmente fui à ruína. Mas emocionalmente,
espiritualmente, nunca fui tão rico.
Depois de tanto tempo, nem tenho ideia
de qual foi a última vez, poderei passar um aniversário realmente
feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário