O presidente, em mais uma de suas
intermináveis pérolas, em uma conferência de igrejas evangélicas,
afirmou que já está na hora de colocar um evangélico no STF, um
“cristão assumido”, numa reação à decisão do órgão supremo
em classificar homofobia como crime, além de demonstrar sua total
ignorância ao afirmar que o judiciário legislava, 31 anos depois da
CF ter sido promulgada sem regulamentação da lei.
Pelo que podemos entender, ao colocar
no STF um evangélico, o ministro em questão seria guiado por dogmas
religiosos e bíblicos. Segundo sua informação, destilando
preconceito e isolando grupos que, segundo a interpretação de
alguns líderes, são contrários à doutrina cristã. Nosso
presidente afirma que os evangélicos são preconceituosos,
homofóbicos e não se pautam pela lei do país. Uma quantidade
incrível de problemas em poucas palavras.
Primeiramente, falando sobre os
evangélicos em si. Sou um “ateu praticante”, como já me
definiram. Apesar disso, meu melhor amigo é evangélico. Amigo há
uns 30 anos, que conhece minhas críticas ferozes à religião, e
isso nunca virou motivo de brigas. Da mesma forma que ele manifesta
com certa frequência sua fé, sem gerar qualquer problema.
Além dele, conheço inúmeros
evangélicos que são pessoas excelentes, com opiniões diferentes
das minhas, mas que respeitam quem com eles não concorda. Costumo
ter uma relação melhor com pessoas dessa religião do que muitas
outras, consideradas mais light.
Dessa forma, o presidente coloca os
evangélicos numa situação altamente desconfortável,
classificando-os como pessoas incrivelmente separatistas, inimigas de
tudo o que é diferente. Não sou capaz de afirmar a porcentagem de
pessoas que realmente pensam assim dentro da religião, talvez
metade. Mas existem muitos que apenas seguem a fé, mas de forma
alguma nutrem preconceito ou ódio por ninguém. Espero que dentro do
grupo sejam a maioria. Ou seja, o presidente age contra os
evangélicos.
Mas o maior problema dessa fala é a
regulamentação legal dentro do país. Qual a importância do cara
ser evangélico, católico, espírita, ateu, ou qualquer merda,
dentro de um poder como o judiciário? E o mesmo deveria valer para
os demais poderes!
Juízes estão ali pra julgar todos os
cidadãos, de acordo com a lei nacional. E a nosssa CF da liberdade
para as pessoas seguirem a fé que quiserem, para agirem
ideologicamente como quiserem, e para se relacionarem como quiserem.
Se sua religião não permite algum tipo de relação, de ideias,
dentro da sua fé você faz o que acha correto. O que não pode, em
hipótese alguma, é trazer isso como uma determinação para todas
as pessoas.
A homofobia tem sido classificada como
crime porque pessoas são mortas especificamente pelo fato de serem
homossexuais. Além do crime do homocídio, já definido em lei, há
um agravante, que poderia ser classificado motivo torpe, mas diante
do crescente número de pessoas mortas por isso, podendo também ser
enquadrado numa categoria dentro do racismo, fez-se necessário o
enquadramento penal.
Um juiz, seja da crença que for, da
ideologia, da idade e do gênero que for, deve interpretar o fato de
uma pessoa ter o direito de seguir o que quiser, transar com quem
quiser, bem como a ofensa desse direito, e a ofensa do direito à
vida.
O que importa é o juiz ter respeito
pelos direitos, pelos seres humanos e seres vivos em geral, respeito
pelo fato de sermos um país democrático, laico e plural. Não há
problema algum no cara ser evangélico. O problema é se ele usar
isso como desculpa para implantar sua crença, e não a lei.
Essa foi uma imensa bola fora do
presidente, combinada com mais um monte, que torna constantemente
nosso país como motivo de piada total.
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