A exposição Queer Musian e a
recente performance com um homem nu, com a infeliz permissão de uma criança
tocá-lo acenderam no país uma antiga e já superada batalha no mundo, sobre o
que pode ser considerado ou não arte. Batalha esta que teve seu auge em 1917,
bem como nos anos seguintes. Ou seja, estamos 100 anos atrasados em relação ao
próprio questionamento.
E para piorar, não são
levadas questões estéticas ou filosóficas, que são aquelas que guiam a arte ao
longo do tempo. No Brasil estamos envergonhando grandes artistas ao colocar a
arte dentro de um leque moral ou religioso, que era sua pauta no Século XVI.
Neste caso, nosso atraso é colossal.
Mas o que me deixa mais
perplexo é que as pessoas que passaram a criticar ou se manifestar duramente
sobre a produção artística atual, em geral, não têm o menor conhecimento sobre
o que é arte, como ela evoluiu ao longo dos séculos, e menos ainda, quem são os
grandes expoentes que levaram ao que ocorre hoje.
Possivelmente há o
conhecimento sobre Leonardo da Vinci, que por sua vez já trabalhava com a
figura humana em nudez, cheios de conteúdos eróticos ou com mensagens
subliminares, utilizando crianças, querubins e animais. Também devem conhecer
Michelangelo, pela incrível fama de suas obras.
Mas será que tais pessoas
seriam capazes de diferenciar suas obras renascentistas das que vieram
posteriormente, barrocas? Será que com o estilo artístico que era utilizado,
com técnicas pictóricas, seriam capazes de entender o que era uma coisa ou
outra? Será que poderia diferenciá-las do realismo do século XIX, uma tarefa
incrivelmente simples para qualquer estudioso da arte.
Mas conheceriam os
principais conceitos da arte moderna, fruto da grande controvérsia da Semana de
Arte de 1922? Saberiam qual teoria artística utilizou Picasso para ter a fama
que tem hoje? Será que sabem quem é Henri Matisse e como ele foi o principal expoente
do Fauvismo? Será que conhecem Renné Magrite, a meu ver, o maior nome do
Surrealismo (ao contrário da crença popular, que é Salvador Dali)? E
conseguiriam linkar com a criança de Paul Gaguin, cerca de um século antes?
Aliás, conheceriam essas pessoas
o incrível trabalho de Marcel Duchamp, e como em duas obras ele revolucionou
toda a história milenar da arte, dando início ao que vemos como arte moderna?
Será que saberiam entender o que foi o dadaísmo, e como isso teve impactos
irreversíveis para a arte atual?
Com algumas exceções, creio
que não. Pelo que tenho visto, a arte tem sido objeto de duras críticas por
quem sequer conhece sua história. Pessoas que cravam o que é o ou não arte, mas
jamais tentaram entender os conceitos aplicados nos primórdios da arte. Como
levar em consideração tais manifestações, totalmente desprovidas de
conhecimento?
Claro que a arte pressupõe
crítica. Nem todas as produções atuais poderão ser consagradas como obras de
arte. Muitas são meras tentativas, frustradas. Outras talvez desprovidas de
criatividade suficiente para sobreviverem ao tempo. Mas a gama de
possibilidades de criação artística jamais poderia ser limitada por críticas,
mesmo aquelas de pessoas que se dizem entendidas no assunto. Afinal, Van Gogh,
Renóir, Monet, Picasso, entre tantos nomes imortalizados na arte foram
duramente criticados por especialistas, que se mostraram pífios em seu
trabalho.
No entanto, jamais, em
qualquer situação, a arte pode ser objeto de crítica baseado em valores morais,
totalmente parciais, e ainda mais em religiões. A arte não está a serviço
dessas futilidades, mesmo que às vezes possa trazer tais temas em suas obras. E
se você ainda não percebeu isso, é melhor se informar e estudar mais.
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