quarta-feira, 18 de maio de 2011

Os advogados atrapalham os processos


Hoje foi um dia do cão no cartório. Planejei terminar de pesquisar sobre as 400 petições que foram protocoladas em uma semana, que têm dado um trabalho danado, e depois do meu almoço receber os processos vindos do gabinete, e em seguida fechar os malotes que eu deveria mandar ao gabinete, o que demora um certo tempo.
O grande problema foi que tive a indesejada visita de advogados, que queriam ver minúcias. Petições juntadas sobre procuração, processos que ainda não foram publicados, e que consequentemente não estão contando prazos para resposta de qualquer uma das partes. E pensando que existem cerca de 5.000 processos que giram, por mês, em cada cartório, fica difícil imaginar o trabalho que é localizar o processo para um advogado ver algumas bobagens.
O pior é que o sistema do tribunal é atualizado. Cada vez que damos baixa em alguma coisa, aparece no sistema. Mas o cara quer ver pessoalmente. Ele quer que paremos tudo o que estamos fazendo, para cuidar da vontade dele, de acompanhar cada dia o que acontece no processo. Ele fica na fila, evita que o funcionário sente para fazer o seu serviço, espera quantos minutos forem necessários, abre o processo, olha, tira uma fotinho, e vai embora.
Pior quando recebemos um processo com despacho, e no mesmo dia, chega alguém querendo ver o processo. Muitas vezes temos que passar fax, expedir ofício, disponibilizar o despacho no sistema, mas temos que parar tudo isso, e tudo o mais que estivermos fazendo, para que o bonito veja o que estará disponibilizado em poucos dias no sistema.
As pessoas não têm a menor idéia da rotina de um cartório: publicar processos, incluir nas pautas de julgamento, juntar petições, dar os devidos andamentos conforme a petição, cadastrar recursos (embargos de declaração, agravo regimental, etc.), remeter os que não apresentam recursos para a vara de origem, antes dando o trânsito em julgado, juntar acórdãos digitalizados, depois de enviá-los e recebê-los da digitalização. É coisa pra burro. Coisa que temos que parar de fazer, porque alguém quer ver o que significa a petição juntada pela parte, para dizer que muda de advogado. Devemos procurar o processo, no meio dos cinco mil que temos, mais os volumes do mesmo, envolto aos volumes dos outros cinco mil.
Daí são protocoladas 400 petições na semana, e devemos juntar, pelo menos no mês. Só que antes, devemos triar todas as petições, saber se os processos já estão aptos a receber a juntada, procurar os mesmos, juntar, dar baixa no sistema, numerar todas as folhas juntadas, e dar o andamento. Fácil, até que chega uma maldita advogada, que acha que tem o direito de interferir no serviço de quem já está sobrecarregado e sem estrutura, e reclama que uma petição protocolada há nove dias não está no processo. Ela acha que um agravo regimental, onde o desembargador já negou liminar, e ainda por cima negou o pedido de reconsideração, é mais importante que todos os outros 399 pedidos. Provavelmente temos outros pedidos de liminar, onde pessoas dependem do pedido. Mas eu não posso dar a atenção a todos, porque a super advogada acha que ela tem mais direito do que todos!
E com isso, a coisa vai ficando. Muitos recursos vão sendo interpostos. Muitos pedidos são protocolados, algumas vezes autorização para pessoas verem o processo, outros para informarem besteiras. A coisa para, e todo mundo mete o pau na justiça, que é lenta. Mas foda-se a estrutura do serviço, as condições de trabalho, e a falta de funcionários. O que importa é se dar bem.
Claro que a OAB toma uma atitude: ela reclama do pouco horário que seus advogados são atendidos. Acha que são prejudicados. A OAB, que se diz guardiã da justiça, não se importa em quais condições estão os servidores. Não se importa muito que as verbas para a justiça sejam reduzidas, mas pressiona quando os servidores fazem greve, ou quando o horário não é o que eles desejam.
Pois é, sem o advogado não se faz justiça. Com ele a mesma anda parecendo uma tartaruga.

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