Hoje foi um dia do cão no cartório. Planejei terminar de pesquisar sobre as 400 petições que foram protocoladas em uma semana, que têm dado um trabalho danado, e depois do meu almoço receber os processos vindos do gabinete, e em seguida fechar os malotes que eu deveria mandar ao gabinete, o que demora um certo tempo.
O grande problema foi que tive a indesejada visita de advogados, que queriam ver minúcias. Petições juntadas sobre procuração, processos que ainda não foram publicados, e que consequentemente não estão contando prazos para resposta de qualquer uma das partes. E pensando que existem cerca de 5.000 processos que giram, por mês, em cada cartório, fica difícil imaginar o trabalho que é localizar o processo para um advogado ver algumas bobagens.
O pior é que o sistema do tribunal é atualizado. Cada vez que damos baixa em alguma coisa, aparece no sistema. Mas o cara quer ver pessoalmente. Ele quer que paremos tudo o que estamos fazendo, para cuidar da vontade dele, de acompanhar cada dia o que acontece no processo. Ele fica na fila, evita que o funcionário sente para fazer o seu serviço, espera quantos minutos forem necessários, abre o processo, olha, tira uma fotinho, e vai embora.
Pior quando recebemos um processo com despacho, e no mesmo dia, chega alguém querendo ver o processo. Muitas vezes temos que passar fax, expedir ofício, disponibilizar o despacho no sistema, mas temos que parar tudo isso, e tudo o mais que estivermos fazendo, para que o bonito veja o que estará disponibilizado em poucos dias no sistema.
As pessoas não têm a menor idéia da rotina de um cartório: publicar processos, incluir nas pautas de julgamento, juntar petições, dar os devidos andamentos conforme a petição, cadastrar recursos (embargos de declaração, agravo regimental, etc.), remeter os que não apresentam recursos para a vara de origem, antes dando o trânsito em julgado, juntar acórdãos digitalizados, depois de enviá-los e recebê-los da digitalização. É coisa pra burro. Coisa que temos que parar de fazer, porque alguém quer ver o que significa a petição juntada pela parte, para dizer que muda de advogado. Devemos procurar o processo, no meio dos cinco mil que temos, mais os volumes do mesmo, envolto aos volumes dos outros cinco mil.
Daí são protocoladas 400 petições na semana, e devemos juntar, pelo menos no mês. Só que antes, devemos triar todas as petições, saber se os processos já estão aptos a receber a juntada, procurar os mesmos, juntar, dar baixa no sistema, numerar todas as folhas juntadas, e dar o andamento. Fácil, até que chega uma maldita advogada, que acha que tem o direito de interferir no serviço de quem já está sobrecarregado e sem estrutura, e reclama que uma petição protocolada há nove dias não está no processo. Ela acha que um agravo regimental, onde o desembargador já negou liminar, e ainda por cima negou o pedido de reconsideração, é mais importante que todos os outros 399 pedidos. Provavelmente temos outros pedidos de liminar, onde pessoas dependem do pedido. Mas eu não posso dar a atenção a todos, porque a super advogada acha que ela tem mais direito do que todos!
E com isso, a coisa vai ficando. Muitos recursos vão sendo interpostos. Muitos pedidos são protocolados, algumas vezes autorização para pessoas verem o processo, outros para informarem besteiras. A coisa para, e todo mundo mete o pau na justiça, que é lenta. Mas foda-se a estrutura do serviço, as condições de trabalho, e a falta de funcionários. O que importa é se dar bem.
Claro que a OAB toma uma atitude: ela reclama do pouco horário que seus advogados são atendidos. Acha que são prejudicados. A OAB, que se diz guardiã da justiça, não se importa em quais condições estão os servidores. Não se importa muito que as verbas para a justiça sejam reduzidas, mas pressiona quando os servidores fazem greve, ou quando o horário não é o que eles desejam.
Pois é, sem o advogado não se faz justiça. Com ele a mesma anda parecendo uma tartaruga.
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