sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Liberdade de imprensa só com responsabilidade


 
Durante muitos anos o Brasil foi dominado pela censura. Não se podia falar alguma coisa contra os governantes ou contra quem detinha o poder real no país, que a pessoa sofria perseguição. Muitas pessoas foram torturadas e mortas em virtude desta abominação que se chama ditadura, e que muitos ainda estupidamente defendem com unhas e dentes.
Por causa disso, hoje fala-se muito em liberdade de imprensa. A mídia tem o direito de reportar a informação que quiser, manifestando a opinião que desejar. Nada poderia nortear os rumos da imprensa. E com isso, passamos totalmente do ponto, e hoje permitimos que pessoas sejam julgadas e condenadas por páginas de jornais, imagens editadas, depoimentos de terceiros e a opinião de apenas um dos lados da história.
O exemplo mas claro dessa situação é a maneira como é tratado o MST pela grande mídia. Todos tratam como se fosse criminosos, invasores de terras, que tentam tirar daqueles que batalharam para conquistar, e que têm o dinheiro que têm porque trabalharam duro. Raramente, para não dizer nunca, se ouve um dos representantes do MST dando sua versão dos fatos. Também não ouvimos que cerca de 1% da população brasileira detém cerca de metade das terras produtivas, o mesmo valendo para as riquezas, sendo recente estudo internacional divulgando o Brasil como o 10º país mais desigual do planeta (há cerca de dez anos, era o primeiro). Ou seja, os fatos são dados pela metade, fazendo-se crer que um dos lados é totalmente errado, e o outro é vítima.
E é exatamente o que ocorre na eleição presidencial, mais uma vez. A revista Veja, como é de praxe em seu editorial, divulga as matérias de acordo com sua opinião, ouvindo parte dos envolvidos, com manchetes definitivas e condenatórias, e poucas provas divulgadas. E nem estou duvidando da veracidade dos fatos, uma vez que está claro que o PT não é um partido exatamente correto e honesto, mesmo tendo alguns membros que eu mesmo chego a admirar.
Mas é estranho que tantas denúncias surjam na reta final da campanha, com o candidato preferido da mídia perdendo feio para uma desconhecida. Nesta hora se explora uma denúncia feita através de depoimentos, de pessoas ligadas a gente do governo, sem uma demonstração clara e definitiva que seja algo totalmente partidário (o que a capa da revista tenta de toda maneira associar). Porém, nunca ouvi um único comentário sobre a empresa da esposa do Serra, que fornece os alimentos para o Iamsp.
Da mesma forma, foi explorado de maneira exaustiva a quebra de sigilo fiscal de membros do PSDB por gente ligada ao PT. Mas poucos meios de comunicação divulgaram que os mesmos membros tucanos cansaram de fazer isso no passado, e até mesmo a governadora do Rio Grande do Sul é acusada de fazer o mesmo atualmente com candidatos da oposição em seu Estado. Ou seja, apresenta-se todos os defeitos de um lado da história, dando pouco espaço para que o mesmo se defenda, mas tenta-se deixar de lado os erros daqueles a quem se defende.
Você já reparou que sempre que um político do PT ou seus aliados são pegos em algum escândalo de corrupção eles são invariavelmente ligados ao partido, mas quando o escândalo é com gente do PSDB e seus parceiros, não se liga o nome do político ao partido, exceto em casos muito escabrosos, como o ocorrido no Distrito Federal? Seria essa uma coincidência?
O que assusta mesmo é que esse tipo de jornalismo é praxe no país. E não é só no caso político. Quando um suspeito de assassinato é preso, ele praticamente é condenado pela mídia. Não tem muita chance de se defender, e mesmo que consiga provar na justiça sua inocência, algumas vezes com processos onde até mesmo a acusação desiste do processo, ele tem sua vida completamente destruída pela simples acusação. A maior parte das pessoas, baseadas em manchetes jornalísticas e em matérias repletas de emotividade vai sempre lembrá-lo como assassino, e nutrir por ele um ódio desmedido.
Sendo assim, apesar de ter um completo repúdio por José Dirceu, e toda sua história desprezível para com o país, mostrando-se um político como outro qualquer, eu concordo com ele neste ponto. A imprensa brasileira é livre demais. Mas no sentido de poder se expressar da maneira que quiser, mas sim de ser responsabilizada pelo que divulga, por poder optar em não dar a palavra a ambos os lados, e por fazer de tudo para criar juízos de valores em pessoas que consigam refletir menos sobre determinados assuntos. Isso, na minha opinião, não é democracia, e sim manipulação descarada e barata das massas.

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