Um dos grandes sonhos da minha vida
sempre foi comprar a minha casa. E eu realizei. 2015, um sobrado, com
três quartos, em um condomínio fechado, com excelente acabamento.
Uma casa linda, incrível e perfeita. Morei ali de maio de 2015 até
janeiro de 2019. Não houve um só dia em que eu tivesse sido feliz
naquele lugar.
Por outro lado, nunca fui muito fã de
crianças. Diria que eu não gostava de crianças, mas acho que o
correto é que eu nunca tive jeito mesmo. Pra mim era estranho um ser
pequeno não ronronar quando está feliz. Então era um carinho e
fazer de tudo para que ela fosse brincar em outro canto.
De repente, em 26 de janeiro de 2018
tudo isso mudou. Nasceu o Eduardo. E isso ocorreu porque minha
ex-mulher fez muita pressão, uma vez que eu tinha certeza (como
ainda tenho), que aquele não era o momento, devido a crises
intermináveis que viviam nosso relacionamento (tanto que ele acabou
cerca de um ano depois). No começo foi bem complicado, porque eu
continuava não tendo muito jeito. Então me concentrava mais em
arrumar e limpar a casa, fazer comida, fazer as coisas da rua, pra
mãe ter liberdade de cuidado.
Só que hoje, menos de dois anos
depois, eu não consigo fazer nada sem pensar nesse moleque. Não só
me dou super bem, consigo entender praticamente tudo o que ele faz,
quer ou o jeito dele ficar de boa, como passei a gostar e brincar com
quase todas as crianças que vejo por aí. Tanto que uma das minhas
maiores revoltas na vida foi quando pessoas altamente mau caráter
resolveram fazer a festa de um ano do MEU filho sem me avisar. Algo
que jamais irei perdoar.
Por outro lado, moro hoje numa casa
alugada, de três cômodos, com uma escada gigantesca onde eu preciso
levar a bicicleta na mão, tendo que comprar praticamente todos os
móveis usados, bem como tendo ganhado alguns, e estou me sentindo
incrivelmente feliz e tranquilo.
Coisas que ocorreram ao longo da minha
vida abalaram muitas das minhas convicções. Na virada de ano,
incluindo natal, eu resolvi passar sozinho, em casa, assistindo filme
ou não fazendo nada. Fiz um fechamento para balanço. E passei um
ano boa parte recluso. E o que percebi é que minhas convicções não
me trouxeram muita coisa boa.
Não estou falando aqui de caráter ou
ideologias. Mas aquilo que eu acreditava que seriam grandes metas de
vida, ou focos a perseguir, não eram absolutamente nada. Coisas que
ocorreram contra a minha vontade, no geral, terminaram colocando
vários sorrisos no meu rosto.
Vamos deixar claro que isso não é
sempre. Mas ocorreu com certa frequência, e em coisas bem
importantes.
Por várias razões pessoais minha
mente se fechou bastante nos últimos anos. Eu me tornei um cara
duro, especialmente comigo mesmo. Por algumas frustrações
específicas deixei de cutir o acaso. E no fim foi ele quem me
devolveu a felicidade.
Mas eu vejo praticamente todos tendo
este mesmo pensamento. Pessoas fechadas, que não aceitam nada fora
daquilo que consideram correto para si. Criam modelos, dogmas e
conceitos intransponíveis. Acham absurdo tudo o que é diferente. E
deixam de viver a verdadeira felicidade.
Nesse meio tempo, como diz minha
incrível psicóloga, me permiti. Conheci gente diferente. Tive
conversas agradáveis com pessoas que pensavam diametralmente o
oposto de mim. Parei de me irritar com coisas que eu não concordava.
Algumas não quero pra minha vida, mas também não ligo tanto se
outros fazem. Maconha, por exemplo. Odeio o cheiro dessa merda, dá
vontade de vomitar. Até hoje não quero perto de mim, mas não me
importo mais em ter amizade com quem gosta disso. Conheci um cara
muito gente boa, extremamente honesto e altruísta, que fuma. Em
tempos antigos, nunca teria me dado a essa oportunidade.
Também conheci mais profundamente o
universo vegano. Sempre disse pra mim mesmo, e pros outros que era
algo radical e impossível. Como eu estava errado... a filosofia
vegana é incrível. Algo que faz bem pra alma, como um todo. Não
tem nada de radical e talvez seja ainda mais possível do que se
imagina. Tudo bem que ainda não consegui implantar por completo, mas
posso dizer que muita coisa que fiz já melhorou minha mente, e meu
corpo. E eu poderia ter me mantido fechado pra isso...
Com quase quarenta anos, fico pensando
em como temos que sofrer pra abrir a mente. Algumas pessoas talvez
nunca o façam. Vão permanecer fechadas em seu círculo, barradas
por suas crenças e ideias pré-concebidas, que muitas vezes nem
sabem de onde vieram. E irão permanecer infelizes em cada dia de
suas existência.
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