sábado, 18 de abril de 2015

CONFISSÕES DE UM VICIADO

Não chegamos ainda ao final de abril, e acredito que minha saúde está mais estragada do que a maior parte dos demais anos. E olha que eu tive várias escorregadas nos demais anos.
Pra começar, dores de cabeça diárias, fortíssimas. Acho que criei uma certa imunidade contra Dorflex, Neosaldina e Paracetamol. Uma amiga chega a dizer que sou uma farmácia ambulante. Fora isso, devo ter apresentado quadro de torcicolo umas três ou quatro vezes este ano. E mais remédio. Comecei a receber alguns avisos que a coisa estava muito ruim quando tive refluxo. Eu jamais na minha vida tive qualquer problema de estômago, e de repente estava vomitando e sentido um gosto péssimo.
Mas o ápice até o momento chegou até mim no dia 12 de abril. Surgiu um caroço gigante no meu saco, que estava me causando dores incríveis. Tentei aguentar durante o dia, pois raramente reclamo de dores a ponto de parar de fazer o que preciso. Mas a dor foi mais forte, e terminei a noite no hospital, passando por um clínico e um cirurgião, que constataram se tratar de mais um furúnculo (este foi o de número 15). Tive seis nesta semana, mas todos com dores suaves e suportáveis. Este não.
Passei uma semana terrível. Bem verdade que fiquei em casa, dormi relativamente bem quando a dor permitiu, mas a maior parte do dia foi repleta de dor. Quando essa loucura estourou, sangue pela casa toda, o dia inteiro, misturado a pus. No dia seguinte, quando tinha saído toda a infecção, fiquei com a ferida aberta, e passei mais três dias ardendo até a alma. Sentar somente na ponta da cadeira, e se fosse estofada. Andar até dava, mas com uma dor desgraçada. Passei a maior parte dos dias deitado.
Além do fato de fazer as coisas picadas e com muita dor, acho que pude aproveitar o que restou de lucidez esta semana para refletir sobre a minha vida. É claro que a situação é da minha inteira responsabilidade. Eu passei a vida inteira querendo ser muito bom no que eu faço, me dedicando de corpo e alma a todas as atividades que desempenho.
Acredito piamente que realmente me tornei muito bom mesmo em tudo que faço. Sou muito bom no meu trabalho, tiro excelentes notas na faculdade, e quando não acontece tenho ótimos argumentos para contestar a avaliação sofrida, passei em vários concursos, sendo nomeado em três deles. Em casa não tenho preguiça de fazer nada, sendo que sei limpar uma casa perfeitamente bem, além de ser um excelente cozinheiro (com exceção de doces). Até hoje sempre fui um bom amante. Não me lembro de ter me relacionado com uma mulher uma única vez, pois todas que experimentaram quiseram repetir a dose.
E posso dizer hoje, sem medo de errar, que este foi o pior erro da minha vida. Não porque eu não seja bom, ou que não seja legal pro ego. Mas o corpo não aguenta. Eu me tornei um homem extremamente ansioso e exigente, e meu físico não consegue acompanhar o que minha mente apresenta. E agora começa a definhar. O quadro evoluiu nos últimos anos para uma claustrofobia que me deixa agressivo e uma impossibilidade de ficar parado.
Graças a dor, tive algumas vezes que ficar na frente da televisão, assistindo alguma merda que estava passando. E então me dei conta que há muitos anos não fazia isso. Caralho, eu não tenho tempo ocioso na porra da vida. Isso é ainda mais assustador do que não ter emprego. Eu me dei conta que se as coisas não mudarem, eu vou morrer muito em breve.
O maior problema é que essa merda é um vício. Eu não sei como parar. Há algum tempo faço terapia, mas não tinha me dado conta do nível que a coisa estava. Aceitei que acho que chegou a hora de procurar ajuda psiquiátrica. Não me parece que sozinho eu conseguirei mudar isso a curto prazo.
Depois de uma luta interminável eu consegui, nós conseguimos, melhorar e fazer nosso casamento se tornar algo maravilhoso. E eu ainda não consegui aproveitar isso. Quase não vejo meus grandes amigos, os irmãos que tive em toda a vida. Há quanto tempo que não pego pra desenhar ou pra pintar, que sempre foi uma das paixões da minha vida?
E estes dias, a dor dessa merda de furúnculo que parecia uma pedra enfiada dentro do saco, me fez refletir, que nada, nada, nada é mais importante na minha vida do que minha esposa e meus amigos (e volto a dizer, que aqui temos a família, quando se portam como tal, sendo amigos de verdade). E que está na hora de trata-los como são.

O resto, é somente o resto. Só falta agora eu conseguir isso...

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