Eu sempre quis acreditar que eu era
um cara muito bom, sempre disposto a fazer o bem a quem precisava, aguentar o
tranco pacientemente, tentar entender as pessoas em seus momentos de revolta.
Sempre achei espetacular filosofias como as de Gandhi e de Chico Xavier, apesar
de ser ateu. Sempre acreditei que o bom exemplo serviria pra melhorar muita
gente.
Mas eu lembro como se fosse ontem, de
pessoas me dizendo que meu maior defeito sempre foi o de “perdoar” cegamente,
me fazendo esquecer todo o mal que as pessoas fazem, voltando a ser grande
amigo de quem tentou me fazer mal. Um amigo chegou a dizer para uma namorada
uma vez que eu era inocente demais.
Comecei a refletir, baseado em
experiências: você já parou pra pensar que as pessoas mais exaltadas têm uma
incrível mania de descontar toda sua revolta no cara bonzinho? São os bonzinhos
que tomam a “descarga” que estava reservada e que a pessoa não conseguiu
expelir em quem merecia. São eles que recebem seus cônjuges com carinho e tomam
aquele monte de porrada do estresse do trabalho.
Perdi a conta de quantas vezes tentei
ajudar pessoas ao longo da minha vida, dando apoio, perdendo meu tempo, e
tomando patada pra cacete, porque a pessoa estava nervosa com alguma merda que
muitas vezes eu nem fazia ideia do que era. E quantas vezes eu não me matei pra
fazer o meu melhor, e por um equívoco, que em situações que ninguém perceberia,
eu não tomei aquele esporro? Não foi num só lugar, trabalhando, que tive todo
meu trabalho em dia e muito bem executado, e tomei bronca pelo tempo que eu
demorei no banheiro!
O mais engraçado é que eu sempre vi
que aquelas pessoas que são mais agressivas, que devolvem a patada na mesma
intensidade, ou pior, costumam ser tratadas com uma cautela muito maior. Não
entendo se é medo, se é impaciência pela discussão que será iniciada, se é a
certeza de ser desmoralizado, mas fica claro pra que os mais nervosinhos não
conseguem reagir da mesma forma com quem devolve a porrada e com quem fica
quieto.
E a conclusão que eu chego, no meio
de tantas situações repetitivas na vida, é que eu sou um grande trouxa. Sim,
pode dizer, encher a boca, e gritar aos quatro cantos. Eu faço parte não das
boas pessoas, mas das pessoas bobas. Das que apanham e ficam quietas, pra não
magoar os outros. E isso não é ser bom, e nunca será. Isso é ser bobo. Isso é
ser trouxa.
Mas um dia acordamos, não é? Acho que
tive meu ponto “G” atingido, numa dessas andanças. Fato é que meus últimos dois
anos foram terríveis infernos, onde tive que enfrentar fatos que jamais
imaginei que iria enfrentar. Não que alguma pessoa tivesse culpa, pois fatos
horríveis aconteceram. Infelizmente nunca estamos preparados para traumas. Mas
não tem como negar que meu sistema nervoso não é nem de perto o que era quando
comecei esta brincadeira.
O bom é que aprendemos. Isso é sensacional.
Aprendi que não adianta esperar que as pessoas vão entender que quem faz o bem
merece ser tratado com o bem, e que gentileza deve ser retribuída com
gentileza. Infelizmente as pessoas são agressivas com quem as trata bem. E
agora meu lado Gandhi está morto e enterrado, e espero que tenha sido pra
sempre, pois estou aprendendo a devolver a porrada com a mesma intensidade.
Você pode estar se perguntando se com
isso não estou me sentindo mal, por afastar as pessoas de mim. Não. Estou me
sentindo maravilhosamente bem. Além do fato de você devolver a porrada, o que é
uma delícia, ver a cara de surpresa de uma pessoa que achava que ia te esmurrar
de novo e ficar de boa, vale o sacrifício. E no mais, se uma pessoa que trata
mal quer virar a cara pra você porque você simplesmente começou a trata-la da
mesma forma, como vou me sentir mal com isso/?
E sinceramente, assim as pessoas
aprendem. É nítido como muita gente começou a maneirar os modos, baixar o tom
de voz, e usar tons mais suaves. Consequentemente, estou ficando manso, de
novo. Claro, vai ser proporcional, se voltarem a dar pancada, vamos abrir o
ringue outra vez.
Porque a paciência dura, mas um dia
ela acaba.
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