domingo, 22 de dezembro de 2013

TOLERÂNCIA ZERO



Eu sempre quis acreditar que eu era um cara muito bom, sempre disposto a fazer o bem a quem precisava, aguentar o tranco pacientemente, tentar entender as pessoas em seus momentos de revolta. Sempre achei espetacular filosofias como as de Gandhi e de Chico Xavier, apesar de ser ateu. Sempre acreditei que o bom exemplo serviria pra melhorar muita gente.
Mas eu lembro como se fosse ontem, de pessoas me dizendo que meu maior defeito sempre foi o de “perdoar” cegamente, me fazendo esquecer todo o mal que as pessoas fazem, voltando a ser grande amigo de quem tentou me fazer mal. Um amigo chegou a dizer para uma namorada uma vez que eu era inocente demais.
Comecei a refletir, baseado em experiências: você já parou pra pensar que as pessoas mais exaltadas têm uma incrível mania de descontar toda sua revolta no cara bonzinho? São os bonzinhos que tomam a “descarga” que estava reservada e que a pessoa não conseguiu expelir em quem merecia. São eles que recebem seus cônjuges com carinho e tomam aquele monte de porrada do estresse do trabalho.
Perdi a conta de quantas vezes tentei ajudar pessoas ao longo da minha vida, dando apoio, perdendo meu tempo, e tomando patada pra cacete, porque a pessoa estava nervosa com alguma merda que muitas vezes eu nem fazia ideia do que era. E quantas vezes eu não me matei pra fazer o meu melhor, e por um equívoco, que em situações que ninguém perceberia, eu não tomei aquele esporro? Não foi num só lugar, trabalhando, que tive todo meu trabalho em dia e muito bem executado, e tomei bronca pelo tempo que eu demorei no banheiro!
O mais engraçado é que eu sempre vi que aquelas pessoas que são mais agressivas, que devolvem a patada na mesma intensidade, ou pior, costumam ser tratadas com uma cautela muito maior. Não entendo se é medo, se é impaciência pela discussão que será iniciada, se é a certeza de ser desmoralizado, mas fica claro pra que os mais nervosinhos não conseguem reagir da mesma forma com quem devolve a porrada e com quem fica quieto.
E a conclusão que eu chego, no meio de tantas situações repetitivas na vida, é que eu sou um grande trouxa. Sim, pode dizer, encher a boca, e gritar aos quatro cantos. Eu faço parte não das boas pessoas, mas das pessoas bobas. Das que apanham e ficam quietas, pra não magoar os outros. E isso não é ser bom, e nunca será. Isso é ser bobo. Isso é ser trouxa.
Mas um dia acordamos, não é? Acho que tive meu ponto “G” atingido, numa dessas andanças. Fato é que meus últimos dois anos foram terríveis infernos, onde tive que enfrentar fatos que jamais imaginei que iria enfrentar. Não que alguma pessoa tivesse culpa, pois fatos horríveis aconteceram. Infelizmente nunca estamos preparados para traumas. Mas não tem como negar que meu sistema nervoso não é nem de perto o que era quando comecei esta brincadeira.
O bom é que aprendemos. Isso é sensacional. Aprendi que não adianta esperar que as pessoas vão entender que quem faz o bem merece ser tratado com o bem, e que gentileza deve ser retribuída com gentileza. Infelizmente as pessoas são agressivas com quem as trata bem. E agora meu lado Gandhi está morto e enterrado, e espero que tenha sido pra sempre, pois estou aprendendo a devolver a porrada com a mesma intensidade.
Você pode estar se perguntando se com isso não estou me sentindo mal, por afastar as pessoas de mim. Não. Estou me sentindo maravilhosamente bem. Além do fato de você devolver a porrada, o que é uma delícia, ver a cara de surpresa de uma pessoa que achava que ia te esmurrar de novo e ficar de boa, vale o sacrifício. E no mais, se uma pessoa que trata mal quer virar a cara pra você porque você simplesmente começou a trata-la da mesma forma, como vou me sentir mal com isso/?
E sinceramente, assim as pessoas aprendem. É nítido como muita gente começou a maneirar os modos, baixar o tom de voz, e usar tons mais suaves. Consequentemente, estou ficando manso, de novo. Claro, vai ser proporcional, se voltarem a dar pancada, vamos abrir o ringue outra vez.
Porque a paciência dura, mas um dia ela acaba.

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