No aeroporto a caminho de Buenos
Aires fomos abordados por uma garota, estudante, vendendo assinaturas de
revista com desconto. Ela informou que ganhava comissão e tinha ajuda para
pagar a faculdade, então achamos que seria legal assinar a revista, até porque
eram três pelo preço de metade de uma. O que eu não sabia era que a revista
Época era tão ruim e tendenciosa.
Numa das primeiras edições que recebi
trazia uma reportagem contra o serviço público de uma forma geral, incluindo
greves, salários pagos e modo de evolução de carreira. A revista trazia
informações onde se colocava a favor da meritocracia. Para esta revista, o
serviço público consome recursos demais com altos salários, baixa produtividade
e falta de punição. Tudo o que o discurso popular adora trazer há tanto tempo.
O que a revista esquece é de fazer
uma análise completa da situação. E vamos começar, de cara, pensando nos nossos
professores, especialmente os da rede estadual. Todo mundo sabe que os salários
de professores são baixíssimos, não só pelo serviço desempenhado, como pela
exigência que lhes é imposta ao longo da vida, como pelo que aguentam em sala
de aula e a cobrança extrema que é feita pela sociedade. Todo mundo sabe que as
condições de trabalho são precárias, falta material para trabalho, o interesse
dos alunos e dos pais dos alunos é praticamente nulo, com raríssimas exceções.
A sociedade não da a importância devida, assim como a mídia, que tanto bate nos
professores.
Um professor, para conseguir um pouco
mais de conforto econômico, é obrigado a enfrentar uma dupla, ou até mesmo
tripla jornada. O desgaste a que são submetidos é inconcebível para esta área.
Uma carga horária de 60 horas semanais impede qualquer um de se aperfeiçoar. Um
professor quase não tem tempo para preparação de aulas, correção de atividades,
e menos ainda para pesquisas e leituras. Consequentemente, é óbvio que a
qualidade vai cair.
Depois de anos de estudo e gasto de
dinheiro em uma faculdade, o profissional que estudou, precisou se dedicar para
passar num concurso e encarar um sonho de uma vida, vê como prêmio por seu
esforço um salário baixíssimo, estrutura precária e pouca efetividade. Um prato
cheio para se tornar um profissional desestimulado. Consequentemente, em pouco
tempo irá se render ao sistema, sair de casa só pra ganhar seu dinheiro, e
voltar, frustrado e desiludido. Esta é a realidade de quase todos os
profissionais da educação, e você sabe disso!
Daí vem nosso brilhante governador
José Fascista Serra, e resolve implantar um sistema de meritocracia. Mas um
sistema ainda mais brilhante que sua cabeça, onde o profissional vai conseguir
sua evolução através da nota de um prova, se ele for um profissional sem
faltas. Isso mesmo, não importa como seja sua aula, quantos anos ele se dedique
à sua profissão, ele só vai ganhar progressão através de uma nota de prova. E
isso se o sistema financeiro do Estado permitir.
Será que é tão complexo assim
entender que este sistema implantando pela nossa tucanalha é danoso à nossa
educação? Será que é tão complicado entender que pra cobrar algo de um
profissional primeiro temos que dar condições de trabalho para que ele possa
apresentar um bom trabalho? Será que as pessoas não entendem que cada um dá o
resultado que está sendo pago a ele? Será que é tão difícil assim usar o
cérebro pra analisar uma situação tão clara?
A mídia ainda traz referências que o
aumento real dos servidores no governo Lula foi maior do que o proposto pela
iniciativa privada. Verdade? Mais ou menos. Foi maior neste período mesmo, mas
ela convenientemente esquece de informar que durante os oito trágicos anos de
governo FHC os salários de todo o serviço público esteve congelado, com exceção
aos dos nossos políticos. O governo Lula apenas cumpriu um de seus compromissos
de campanha ao devolver aos servidores o que era justo.
E um dos argumentos mais imbecis que
eu tenho visto do povo em geral é que se um trabalhador de iniciativa privada
fizer greve será demitido, e que eles têm que se contentar com o que ganham,
então não é justo que os funcionários públicos consigam mais. O que não é justo
é condenar um profissional por você ser um cidadão medíocre. Todos os
trabalhadores, independente de onde estejam lotados, têm o direito à greve. E
quando se unem numa empresa para exigir seus direitos, nem de greve precisam.
Só é necessário que parem de acovardar e briguem pelo que é justo. E parem
ainda mais de se acovardar, colocando a culpa de suas frustrações naqueles que
brigam pelo que é justo.
Sendo assim, é óbvio que a mídia é
nociva ao desenvolvimento do país. Tendenciosa e cheia de meias verdades. Basta
ler a entrevista do ministro Joaquim Barbosa à Folha de São Paulo, em 07 de
outubro. Ele traz a informação que não entende porque a mídia fala tanto sobre
o mensalão do governo Lula, mas ninguém comenta sobre o mensalão do PSDB. Seria
alguma preferência política?
E assim, as pessoas continuam achando
que caras como José Serra são honestos e fazem o bem pra São Paulo. Continuam
avaliando um péssimo governo Alckimin como ótimo ou bom, quando temos aumento
de violência, insegurança, o transporte público é um completo caos e a vida vai
ficando mais cara.
Mas claro, a culpa disso tudo é do
funcionário público, que é um vagabundo e só quer mamar na teta do governo. Até
porque, acusar o mais fraco é sempre mais fácil e não requer uso do cérebro.
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