segunda-feira, 18 de julho de 2011

Quando o processo criativo voltou...


A poucas semanas do meu casamento, começo a pensar sobre o fato de ter passado a vida toda criticando o ritual e a instituição “casamento”, e agora, estar vivendo momentos artísticos, artesanais, e um verdadeiro processo criativo, graças ao evento. Desde que decidi fazer a maior parte das coisas eu mesmo, comecei a trabalhar duro na criação e desenvolvimento do convite, lembrancinhas, vídeo, etiquetas, caricatura, etc.
Não posso dizer que foi propriamente um processo artístico, a maioria das idéias foram tiradas de algo que eu gostei. A idéia do convite foi totalmente minha, mas eu usei modelos diversos para chegar ao resultado que eu quis. A idéia da lembrancinha também foi minha, mas eu também acabei por usar muitos modelos para a produção. E assim se sucedeu em todos os momentos da criação. Não sei exatamente se posso chamar isso de criação, apesar de todas as idéias serem minhas, e eu apenas usar modelos na concepção.
Mas, mesmo assim, tive que trabalhar idéias, planejar,pensar nas possíveis reações das pessoas, no que transmitiria cada artefato feito, e tive que improvisar muito, muito mesmo. Tive que conviver com alguns problemas que jamais convivi, que foi a falha de materiais. Amante da pintura como sou, sempre tive a tinta e o pincel ao meu favor, e tive que modelar aspectos formais e de composição para chegar ao resultado final, além, é claro, do fato de aos poucos encontrar as formas corretas. Só que aqui, quando você tem uma impressora, amaldiçoada por essência, que resolve imprimir cada dez cópias de maneiras diferentes, conforme próprio humor, você acaba tendo que se adaptar aos dissabores dessa merda tecnológica. Foi um estress maldito. Minha noiva chegou a se assustar de tão nervoso que eu fiquei. E eu tive que me segurar mais do que em qualquer outro momento para não arremessar a impressora pela janela. Mas, no fim, analisando o saldo, foi bom, pois eu comecei a aprender a lidar mais com o improviso, e com os acidentes que ocorrem no processo de criação.
Mais de um ano depois que comecei o procedimento, me sinto revigorado. Posso hoje pegar meus rascunhos e começar a pintar, cada dia mais. Estou com vontade de voltar a fazer isso, apesar de as condições hoje não permitirem que eu siga este rumo. Imagino que a finalização deste momento está abrindo novas portas pra mim. Tudo bem, isso é chover no molhado, todo novo momento abre centenas de portas no processo de criação artística. Mas é como se fazendo coisas totalmente diferentes do que eu sempre fiz, seguindo estilos que sempre foram o que eu achei um porre, se algo tivesse sido aderido pela minha mente criativa, e estive pronto para dar vida a novas formas.
Eu não quero sair da pintura, nem quero seguir a carreira na parte de design, vídeo ou qualquer coisa do tipo. Tenho muitas idéias para criação, todas elas hoje, envolvendo as formas e deformações do corpo humano. Tenho muita coisa pronta, esperando ser passada para a tela, esbarrando na barreira do espaço físico pra guardar.
Também tenho uma certa repulsa de salões, museus, galerias, e coisas do tipo. Quando você resolve entrar numa exposição, tem que aceitar regras e análise de críticos especializados. E a partir do momento que você tem regras, e tem pessoas dizendo se você é ou não melhor que os outros, a arte começa a passar longe. Tanto é que, historicamente, os maiores nomes da pintura, especialmente da moderna, foram esfolados por seus críticos, e depois fizeram com que a história da arte fosse canalizada por eles, enquanto seus críticos, quem são? Caso típico é o de Anita Malfati, criticada duramente pelo péssimo Monteiro Lobato, e com isso ter modificado radicalmente todo o modelo artístico nacional, enquanto a maioria das pessoas nem sequer sabe que ele foi crítico de arte (e acreditem, não estão perdendo nada!).
Não estou dizendo que sou bom o suficiente para deixar meu nome na história, e nem tenho essa intenção. Apenas acho que esse tipo de situação só ajuda a deixar o cara famoso ou pra baixo, mas não da qualquer melhoria ou piora à sua arte. Acho que salões independentes são muito mais qualificados, artisticamente, do que essas merdas institucionais, escritas por gente que acha que entende alguma coisa sobre algo que só a história vai explicar. E se algum artista for grande o suficiente, a história vai dizer, não um crítico de merda (aliás, crítico nada mais é do que o cara que não tem talento suficiente para fazer).
Por isso prefiro que a minha produção seja pessoal e livre de interesses econômicos ou de fama. Prefiro criar de acordo com a minha mente, e quem sabe um dia, ter alguma oportunidade de expor meu trabalho, não pelo dinheiro, mas pela possibilidade de representar alguma coisa para alguém, pela possibilidade de fazer com que pessoas parem pra pensar sobre o que eu crio. Minha fama com minha noiva, meus amigos e minha família já me faz suficientemente feliz.
De qualquer forma, esta idéia do casamento me trouxe bons frutos, em todos os sentidos: fazer uma mulher incrível ainda mais feliz, ter as pessoas que mais amo ao meu lado no momento mais especial da vida de uma pessoa, e ter mais idéias e aderir mais conhecimento para, como artista, poder seguir com novas criações. Me sinto realmente mais fortalecido do que nunca.

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