segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

UM BRINDE À VIDA

 

Eu não sei se em virtude da nossa realidade, se existem fatores sociais, a mídia digital, a velocidade… de repente tudo, mas nunca ouvi falar tanto sobre suicídio quanto agora. Além de ouvir vários relatos de pessoas que tiraram a própria vida, ainda ouvi algumas tentativas e pessoas que têm esse interesse. E parece que o tema traz um tabu imenso, porque poucas pessoas falam abertamente sobre isso.

Esse assunto deve ser abordado, como qualquer outro. E é algo que me sinto incrivelmente confortável em conversar. Quem me conhece mais intimamente sabe, mas eu passei por isso. Exatamente dia 30 de novembro de 2004. Eu posso dizer que sou uma pessoa que já atentei contra a minha vida. Já vivi a sensação da vida não fazer sentido e não querer mais saber dessa merda toda. E hoje, quinze anos depois, posso dizer que é algo que não vale a pena.

Existem momentos merda na vida. Todo mundo passa por isso. E se não passou, vai passar. Perder uma pessoa que amamos muito, ter uma infância difícil, viver um relacionamento abusivo, ter problemas profissionais… se for pra relatar os problemas que a vida impõe eu teria que fazer uma planilha gigante. Não tem como escapar disso. Mas tem como mudar o modo como as coisas são vistas.

Geralmente os momentos ruins não são pequenas brisas que passam e derrubam os guarda napos na mesa. São tornados em graus mais elevados que arrasam toda a cidade. Quando você está no meio, tem certeza que vai morrer. Quando vê os resultados, parece que não tem mais como arrumar aquela merda toda. Mas tem sim.

Depois da minha incrível estupidez na vida, eu vivi momentos muito ruins. Apesar de ter feito isso em 2004 considero o ano de 2018 o mais desastroso e esquecível da minha existência. Se eu pudesse passar uma borracha nesse pesadelo maldito, eu faria sem pensar duas vezes. É bem verdade que foi o ano que meu filho nasceu, mas ainda assim foi uma das coisas mais malditas que eu já vivi. Nunca tantas coisas deram errado em sequência. Eu considero que tive uma involução pessoal que tento arrumar até hoje (já chegando muito próximo de colocar a casa em ordem). Mas a diferença é que eu não vejo mais as coisas como acontecia naquele momento. Hoje eu sei que momentos vêm e vão. Alguns são muito ruins, outros muito bons. Mas tudo passa.

Hoje eu me sinto realmente incrivelmente bem. Apesar do ano ruim pra todos que foi 2020, eu posso dizer que tirei o ano pra filosofar muito. Me entender, entender o que eu quero da minha vida. Conheci a Adriana, que está entre as pessoas mais incríveis que conheci na vida, de uma forma absolutamente impensável (um grupo de gatos no Instagran), e há seis meses tenho o relacionamento mais espetacular que já vivi, e que nunca imaginei ser possível. Daquelas coisas tão perfeitas que parecem que tem uma pegadinha escondida (calma, brincadeira esse final. É só perfeito). Tenho três gatos maravilhosos e carinhosos, um filho lindo e incrivelmente engraçado, e moro sozinho, que é algo que sempre desejei. Como qualquer um, tenho muitos problemas, e esse ano eles estiveram presentes. Mas acho que o tornado já virou uma tempestade de verão, com o sol raiando a cada manhã.

Eu sei que existem pessoas com a doença da depressão. Algo que faz com que você simplesmente não consiga ver nada além da tristeza. Mas sério, se você está vendo essa realidade que estamos vivendo, pessoas altamente individualistas, desumanas e cheias de ódio, e não tem algum dos milhares de problemas emocionais da modernidade, você não entendeu nada. Não tem como sair ileso.

Então, se você tem isso, você faz parte do mundo. E não há nada de errado em tratar isso, pra tentar uma vida equilibrada. Não que os momentos de tristeza vão sumir, mas pelo menos você vai viver mais emoções ao longo da sua vida. E a partir do momento que você conseguir enxergar as coisas de uma forma mais ampla, com várias possibilidades, e sabendo que você está vivendo apenas um dos milhares de momentos da sua vida, você vai conseguir superar tudo.

Fora o fato que você vive em uma comunidade. Você tem pai, mãe, irmãos (ou pode ter vivido com eles um dia, e eles já partiram). Mas sempre há um bom grupo de pessoas que nos amam muito. Algumas pessoas simplesmente não conseguem demonstrar, mas sentem isso. Então um ato impensado e idiota como esse pode levar pro buraco uma cadeia imensa de pessoas, que você nem pensava. Imagina o que é ter que superar uma pessoa amada tirando a própria vida.

O sol sempre vai voltar a brilhar pela manhã. Pode ser que essa manhã demore uma semana, pode ser que seja um pouco mais demorada. Pode ser que você esteja vivendo o inverno nórdico, que dura seis meses. Mas ele acaba. E tudo vai ter uma nova cor. Você tem que fazer sua parte, sem dúvida, mas a vida muda, o tempo todo. E sempre há um excelente motivo pra seguir. E você vai encontrar motivos pra sorrir, mais cedo ou mais tarde.

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