Confesso que eu jamais pensei em escrever um texto como esse sequer há seis meses atrás. Estava bastante desiludido com relacionamento amoroso. Depois de um casamento desastroso e um namoro anterior bastante decepcionante, estava muito decidido a pensar exclusivamente nos meus problemas emocionais, cuidar da minha saúde, e conhecer mulheres para aventuras ou só amizade. Mas aí, ela veio mudar tudo.
No começo eu não me empolguei tanto. Obviamente achei uma pessoa fantástica, mas ela mora em Santos e eu em São Paulo. Ela tem 47 anos e eu 39, o que não me causa preconceito, mas geralmente mulheres mais velhas não têm interesse em caras mais novos. Ela estava saindo do segundo casamento frustrado e eu já estava em outra fase de superação. Tinha tudo pra dar errado.
Fora que de todas as mulheres que eu já me relacionei, ela é a que tem os gostos mais diferentes dos meus. Ela é fã de Legião e eu abomino essa banda, só pra ter uma ideia. Então é de se imaginar que é um relacionamento repleto de brigas, discussões e tensões, certo? Completamente errado.
Eu nunca imaginei viver uma relação tão tranquila e positiva como essa. Nós não brigamos. Discordamos muito, mas não brigamos. Em duas ocasiões a situação ficou um pouco mais tensa e talvez mais ríspida. Em ambas a conversa ocorreu, as partes esclareceram seu ponto de vista, e quem estava errado pediu desculpas. Tudo isso em cerca de uma hora. Sem drama, sem fúria, sem desespero. Sempre com objetivo de solucionar o problema e viver bem.
Mas agora eu vejo que existem coisas que são essenciais num relacionamento. A primeira delas é empatia. Eu diria que falta isso para a raça humana. E quando ambas as partes têm muita empatia um pelo outro, tudo fica muito mais fácil. É preciso se colocar no lugar do outro, pra saber que existe uma história, cheia de feridas e mágoas, cheia de estresse, que pode ter gerado um monte de problemas de saúde. É preciso saber que existem inseguranças por problemas vividos. E é preciso saber que as pessoas têm um passado, que nem sempre é dos mais legais. Mas é preciso entender que sempre é tempo de recomeçar, e que as pessoas se esforçam para evoluir e corrigir os problemas.
A segunda coisa que eu vi como essencial é um desejo ardente de solucionar os problemas rápido, de forma positiva e sem deixar rastros. Se você quer ter um bom relacionamento, deixe o ego do lado de fora. Você vai errar, falar coisas erradas, na hora errada, dar um descompensada em algum momento. O importante é saber reconhecer o erro, e ter humildade de pedir desculpas. E também desculpar a outra pessoa. Isso faz com que qualquer problema se torna um pequeno tropeço, e as coisas fiquem extremamente boas em pouco tempo.
Também vi a necessidade de respeito pelo outro. Você tem seu jeito, suas preferências, seus desejos… e a pessoa tem os dela. Pode ser que ela não se vista do jeito que você mais adora, mas é o jeito dela. Do mesmo jeito que ela pode vir a ter gostos musicais diferentes do seu. Mas tudo bem. É perfeitamente possível viver muito bem assim. Você não tem que mudar ninguém, querer que a pessoa se vista de uma determinada forma que você gosta, tenha comportamento que você queira. Apenas curta a pessoa que está ao seu lado. Foi por ela que você se apaixonou ou por um modelo idealizado que você nem conhece?
Mas também é legal fazer pequenos agrados. Tipo comprar cerveja porque a pessoa gosta (sim, eu fiz isso), ou experimentar os testes alimentícios que o outro inventa, fazendo cara de desespero e tentando dizer que tá bom (adoro essa careta!!!!). No meu caso, esses pequenos agrados, que não mudam a personalidade de ninguém, mas fazem o outro se sentir querido, ocorrem direto, de parte a parte, o que deixa a situação muito mas alegre e divertida.
E muitas vezes rir dos erros alheios. Tudo bem que conviver na mesma casa é difícil, mas pequenos erros, como derrubar o pote de molho no chão, ou esquecer a pazinha em cima de cama, são apenas toques que você da pra pessoa perceber a distração. Fazem parte. Não adianta ficar puto com isso. E mutias vezes são engraçados.
Debates com opiniões diferentes também fazem parte. Todo mundo tem. Como você encara relacionamentos passados, como é a relação com os pais, com filhos de outros casamentos, como trata os animais de estimação, como analisa uma música, gostos de filmes… tudo pode ser objeto de discussão. Porque as pessoas pensam diferente. E tudo bem ser assim. Eu acredito que da pra aprender muito com pessoas que pensam diferente. Com isso aprendi a me conhecer como nunca antes ocorreu. Já consegui tirar uma tonelada das minhas costas, e voltar a ser leve, apesar de estar com um problema crônico de sono que impede chegar num nível lega.
Enfim, o que posso dizer que muita coisa faz um relacionamento ser bom e leve. Mas acho que nada se compara a empatia e respeito. Você tem que conseguir se colocar no lugar do outro, entender o que ocorre, o que causa sofrimento, e saber que aquela pessoa tem o jeito dela, que você conheceu dessa forma, e não vai mudar. E e por acaso mudar, a pessoa será infeliz, e fará a relação infeliz.
Se por acaso no futuro esse meu relacionamento não der certo, vão dizer que o que eu escrevi aqui é besteira. Mas não é. O que pode acontecer é essas coisas deixarem de serem aplicadas, e o relacionamento afundar.
Mas posso garantir que jamais me senti tão feliz e tão leve com alguém, fazendo realmente parte de um “time”, onde o que eu penso, o que eu sinto, o que eu quero, é extremamente importante, e sabendo que as coisas que eu faço fazem o mesmo por ela. É uma sensação indescritível, que agora percebo, nunca senti antes. E vale cada segundo!
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