Sim, eu sou um liberal. Nos costumes.
Acredito piamente que as pessoas têm o direito de serem, viverem e
acreditarem no que as fazem feliz. Seja opção sexual, religiosa,
amorosa, musical, ou que porra ocorrer. A própria liberdade é
pressuposto básico de qualquer democracia, assim como do
capitalismo. Adam Smith trouxe em sua obra a individualidade e o
respeito a cada ser humano, o que foi consolidado na Declaração
Universal dos Direitos Humanos. E isso já deveria ser pressuposto
básico na mente de cada um.
Mas não é. E em muitos aspectos, o
liberalismo econômico ajuda a manter esse quadro maluco. A ideia
trazida à tona por Adam Smith, como a expressão máxima do
capitalismo, que inclusive foi a responsável pela criação do
comunismo, em resposta, que de liberal, na prática, não tem nada.
Se você ler o que diz o liberalismo
certamente você vai se apaixonar. A ideia é excelente. As pessoas
são responsáveis pelo próprio sucesso. Fazem suas escolhas, seu
caminho, ganham ou perdem de acordo com seu mérito, partindo de
igualdade de condições, cada um buscando de acordo com suas
necessidades e seus sonhos.
Lindo, né?
Mas não precisa ser nenhum gênio pra
ver com clareza que isso é uma imensa merda, e que na prática é
impossível dar certo. Infelizmente quase 300 anos não foram
suficientes para deixar claro pra muita gente isso.
Gostaria de começar me questionando
sobre essa ideia de igualdade de condições. Eduardo Bolsonaro
nasceu nas mesmas condições que um catador de lixo na sua época?
Se é muito, pensemos no filho do Lula em comparação com o mesmo
catador. Há igualdade de condições entre essas figuras? Eles terão
que participar de batalhas minimamente semelhantes para atingirem o
mesmo sucesso? Eles serão brindados com a mesma educação? Com as
mesmas condições de transporte? Terão ambos alimentação
adequada, da mesma forma?
É óbvio que não. As condições
financeiras iniciais fazem com que o caminho dos filhos de políticos
sejam incrivelmente mais fáceis. E se fosse não quer pensar nesses
grupos, é só imaginar filhos de empresários com fortunas, de
pessoas ricas em qualquer natureza. Em contrapartida a quem não tem
qualquer condição. A luta já começa absurdamente desigual, e
nunca a desvantagem será relativizada nesse tipo de sociedade.
Existem as exceções. Pessoas que vêm
da pobreza e se dão muito bem, fazendo fortuna, enquanto existem
ricos que afundam na miséria ou em algum tipo de desgraça. O
primeiro caso é muito raro. Praticamente um milagre. O segundo, na
nossa sociedade tão doente e problemática, tem se tornado mais
próximo da regra do que da exceção.. Mas no geral, quem nasceu
pobre, irá morrer pobre, não importa o quanto se esforce.
Quem detém os meios de produção
detém o poder. E nesse caso, sendo bem claro, manda quem tem
dinheiro. Quem tem poder financeiro escolhe como a coisa caminha.
Quem não tem, precisa dele pra sobreviver. Precisa de emprego, e
este será oferecido por quem tem dinheiro. E as condições de como
será essa relação será dada pelo dono do capital. Porque se o
pobre não quiser se sujeitar, muitos outros famintos estão
esperando por isso.
Daí temos jornadas extenuantes,
cobrança de produtividade desumana, salários muito abaixo do que
seria justo e muito assédio. E diante do poder nulo do trabalhador,
é aceitar ou morrer de fome. Daí entramos no conceito de
mais-valia, de Karl Marx, que é absolutamente perfeito. O rico
ficará cada vez mais rico. E o pobre mais pobre. A desigualdade
social no liberalismo econômico aumenta cada vez mais.
E o Estado pouco interfere. Não há
leis de proteção, não há direitos, não há programas de
incentivo, nem carga tributária que garanta a distribuição de
renda. Apenas uma imensa passividade diante do caos espalhado por
quem tem poder. E pensando no sistema capitalista, o objetivo é o
lucro. E este se dará acima de qualquer coisa.
Não sem motivos em todos os momentos
que essa aberração foi implantada, foi um desastre. Às vezes não
de cara. Em geral, costuma ter alguns momentos de estabilidade,
diante de problemas deixados sem solução em outros sistemas. Mas a
desigualdade social cresce de forma geométrica nesse sistema, até o
anseio social explodir. Isso pode ocorrer na mudança de rumos em
eleições, ou em revoluções, como o que ocorre no Chile
atualmente.
Até tivemos o neoliberalismo, onde o
Estado intervinha, mas bem pouco. Não nego que seja melhor que o
liberalismo puro, até porque pouca coisa é pior que esse caos. Mas
ainda assim o capital manda e desmanda. Empresas e empresários, com
dinheiro, dão as cartas. Existem limites, mas nem sempre são
respeitados.
E agora o que se começou a perceber é
que o liberalismo anda de mãos dadas com o autoritarismo. Para que
se tire direitos e deixe-se de haver um Estado regulador, é preciso
um Estado opressor. Pessoas tendem a se rebelar contra injustiças.
Aí entra o governo, pra desintegrar tais manifestações. Tira-se de
circulação os desordeiros, trazendo suas figuras como criminosos,
enquanto as pessoas perdem cada vez mais sua dignidade.
Basta ver Paulo Guedes. Esse ser
abominável esteve presente na ditadura mais sanguinária da América
Latina. Foi responsável por um sistema que trouxe a pobreza extrema,
especialmente aos mais velhos, o que agora transformou o país num
barril de pólvora e ódio, incontrolável (e que espero que sirva de
inspiração para o nosso país!). Mas não só isso: ele quer
inserir essas ideias cretinas no nosso país. Acredita que pobres não
poupam porque não querem (comer é só um luxo dispensável).
Defende abertamente um AI-5, o ato mais repugnante da história do
nosso país. Defende que direitos sejam eliminados, que pobres paguem
mais e mais impostos, inclusive pra trabalhar. E a mesma pobreza na
velhice. E para isso, precisa tratar quem pensa diferente como
inimigo. Agora seu alvo são os servidores públicos (categoria da
qual eu faço parte). Ameaça regras que dão ao Estado o poder de
cortar salários.
O liberalismo é sofrimento. É o
caos. A fome, e a miséria. E a tirania. Esse sistema jamais foi
implantado em qualquer sociedade que tenha atingido um mínimo de
igualdade social. Não há justiça. Só sofrimento e dor. É
comprovadamente um desastre. A não ser para quem está cagando para
seus semelhantes. Curiosamente, boa parte se auto-denomina cristãos.
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