Em quase dez anos de blog, acredito
que jamais tenha escrito sobre romance. Não de uma forma positiva.
Muitos aspectos inclusive totalmente negativo. O que eu vi, e vivi,
nos últimos anos da minha vida me trouxeram uma visão tão
desastrosa dessa loucura, que não havia nada de bom para falar a
respeito. E pouco eu falava. Inclusive tentava nem falar sobre porque
poderia parecer uma ofensa direta às pessoas que se relacionaram
comigo, enquanto o problema pra mim era o relacionamento em si.
E agora começo a ver a coisa de uma
forma totalmente diferente. E obviamente, isso tem um motivo.
Manja aquela situação que começa
com tudo pra dar errado? Era isso. Como eu disse pra ela, de largada
tomei uma fechada de porta nervosa, que me fez desistir de vez. E com
o tempo iniciou-se uma amizade, que inicialmente não tinha a menor
chance de sair disso. E de repente, se tornou a maior mordida de
língua de todos os tempos. Eu diria que foi um dilaceramento
completo.
Não sei posso fazer isso, mas diante
da qualidade imensa da situação, vamos dar nomes reais. Essa mulher
incrível chama-se Natália. E até agora ela tem me feito ver que eu
estava totalmente errado em muitos dos meus pensamentos sobre a vida
a dois.
Eu estava realmente duro e irredutível
sobre qualquer possibilidade de um relacionamento sério. Conheci
pessoas incríveis desde o meu divórcio, mulheres que passaram pela
minha vida e pelo qual tenho um carinho e gratidão eternos. Mas
todas com objetivos de vida e personalidades que tornariam impossível
qualquer convivência, e de quebra poderiam transformar algo bom numa
guerra. O que significa que diante dos meus objetivos de vida, da
minha personalidade, e até dos meus traumas, pra mim era impossível
encontrar alguma pessoa tão compatível, o que me deixava claro que
eu jamais iria me relacionar outra vez.
Associado a isso, tive um experiência
desastrosa chamada casamento. Especialmente depois que meu filho
nasceu, aconteceram coisas que me deixaram não só decepcionado,
como arrasado, furioso, vingativo e sombrio. Não era possível, aos
meus olhos, alguém tirar isso de dentro de mim.
Mas ela está fazendo isso.
Quando começamos a conversar, a
compatibilidade foi assustadora. Ela se definiu como minha “versão
sem pau” (se você conversou comigo sobre ela, sem dúvida usei
essa expressão. Porque é exatamente isso). Temos visões políticas
muito próximas (inclusive esse foi o ponto de partida pra começarmos
a amizade), tirando que ela não é necessariamente de esquerda.
Visões de mundo, modo de tratar as pessoas, noções de justiça,
amor pelos animais... ela não quer nem ouvir falar de casamento, é
incrivelmente independente, gosta de crianças (nesse caso
infinitamente mais evoluída que eu), mas não quer filhos. Ela é
puro heavy metal! Personalidade fortíssima. Não recebe ordens.
Muita gente que leu isso deve imaginar
que eu esteja me descrevendo. Mas tudo bem, ela tem uma crença
espiritual bem intensa. Não em uma religião, mas apenas fé. O que
me deixa até feliz, porque ela não está seguindo um grupo. Então
posso assegurar que com isso não estava me referindo a mim.
Mas tive o prazer, com ela, de
descobrir o conceito de parceria. Não tinha vivido até agora o
verdadeiro sentido de ter alguém do seu lado, se preocupando com
você, te incentivando a coisas boas, mesmo quando você está com
uma vontade absurda de dilacerar pessoas. E essa fera que estava
vivendo dentro de mim começou a se tornar apenas um gatinho
ronronando. Sim, meus momentos de ódio praticamente acabaram.
Voltei a cuidar da minha saúde, o que
estava deixando de lado há um bom tempo. Tenho prazer em andar de
mãos dadas, sair pra jantar, buscar lugares novos. Estou ouvindo
críticas de coração aberto. Mas o mais importante: consigo ser eu
mesmo. Falo do meu passado sem medo, dos meus desejos, medos, traumas
e de cada momento. E não sou julgado por isso. E vejo exatamente a
mesma coisa vinda dela. Vejo uma mulher sincera, aberta e sem medo,
que parece ter encontrado essa mesma parceria comigo.
E pra falar bem a verdade, acho que a
situação tem sido bem injusta. Ela tem feito muito mais pra me
ajudar, por assim dizer, do que eu por ela. Da até uma sensação de
dívida emocional.
Hoje, diante de um fato inusitado, ,
tinha a mais clara certeza que tinha criado um problema
desnecessário, sendo sincero demais. E diria que eu estava bem
errado nesse ponto. Entrei até num princípio de crise de ansiedade
achando que tinha feito uma cagada monstro. Quando ela me mandou um
texto sobre o que considerava, foi uma coisa tão incrivelmente
linda, estimulante, empolgante e contagiante, além de muito
positiva, que quase chorei de alegria. Parecia um idiota num lugar de
trabalho. Obviamente, tendo que sair pra não ser tão explícito.
Aí alguns dizem que eu estou
apaixonado. Tenho comigo que o conceito de paixão é algo muito
ruim. Esse negócio de você ficar bobo, pensando na pessoa noite e
dia, perder o rumo... isso é passageiro. É bem aquele fogo que uma
hora se apaga. Está muito longe do que estou sentindo.
O que ocorre agora é diferente. De
tudo o que eu vivi. É real. É um companheirismo imenso, parceria,
carinho total, respeito sem perder a essência. É algo verdadeiro,
de ponta a ponta. É algo que deixa definições aqui expostas mais
confusas do que se eu não tivesse falado nada.
E por isso o que temos juntos não
ganhou um nome ainda. Pra alguns eu digo que estou namorando, pra
outros ficando, pra outros apenas que estamos juntos. E pelo que vi
ela também está nessa pegada. Quase um lance filosófico.
E mais: nunca, em momento algum, fui
tão elogiado quanto agora. O que essa mulher me joga pra cima é
algo inacreditável. Eu fico pensando se eu mereço tudo isso. Se eu
sou tudo isso. Algumas vezes me sinto a pessoa mais importante do
planeta! Mas me sinto alguém que realmente consegue tirar sorrisos
verdadeiros de uma pessoa espetacular.
Não só um novo começo. Mas o mais
maravilhoso de todos!