terça-feira, 10 de dezembro de 2019

UM NOVO COMEÇO


Em quase dez anos de blog, acredito que jamais tenha escrito sobre romance. Não de uma forma positiva. Muitos aspectos inclusive totalmente negativo. O que eu vi, e vivi, nos últimos anos da minha vida me trouxeram uma visão tão desastrosa dessa loucura, que não havia nada de bom para falar a respeito. E pouco eu falava. Inclusive tentava nem falar sobre porque poderia parecer uma ofensa direta às pessoas que se relacionaram comigo, enquanto o problema pra mim era o relacionamento em si.
E agora começo a ver a coisa de uma forma totalmente diferente. E obviamente, isso tem um motivo.
Manja aquela situação que começa com tudo pra dar errado? Era isso. Como eu disse pra ela, de largada tomei uma fechada de porta nervosa, que me fez desistir de vez. E com o tempo iniciou-se uma amizade, que inicialmente não tinha a menor chance de sair disso. E de repente, se tornou a maior mordida de língua de todos os tempos. Eu diria que foi um dilaceramento completo.
Não sei posso fazer isso, mas diante da qualidade imensa da situação, vamos dar nomes reais. Essa mulher incrível chama-se Natália. E até agora ela tem me feito ver que eu estava totalmente errado em muitos dos meus pensamentos sobre a vida a dois.
Eu estava realmente duro e irredutível sobre qualquer possibilidade de um relacionamento sério. Conheci pessoas incríveis desde o meu divórcio, mulheres que passaram pela minha vida e pelo qual tenho um carinho e gratidão eternos. Mas todas com objetivos de vida e personalidades que tornariam impossível qualquer convivência, e de quebra poderiam transformar algo bom numa guerra. O que significa que diante dos meus objetivos de vida, da minha personalidade, e até dos meus traumas, pra mim era impossível encontrar alguma pessoa tão compatível, o que me deixava claro que eu jamais iria me relacionar outra vez.
Associado a isso, tive um experiência desastrosa chamada casamento. Especialmente depois que meu filho nasceu, aconteceram coisas que me deixaram não só decepcionado, como arrasado, furioso, vingativo e sombrio. Não era possível, aos meus olhos, alguém tirar isso de dentro de mim.
Mas ela está fazendo isso.
Quando começamos a conversar, a compatibilidade foi assustadora. Ela se definiu como minha “versão sem pau” (se você conversou comigo sobre ela, sem dúvida usei essa expressão. Porque é exatamente isso). Temos visões políticas muito próximas (inclusive esse foi o ponto de partida pra começarmos a amizade), tirando que ela não é necessariamente de esquerda. Visões de mundo, modo de tratar as pessoas, noções de justiça, amor pelos animais... ela não quer nem ouvir falar de casamento, é incrivelmente independente, gosta de crianças (nesse caso infinitamente mais evoluída que eu), mas não quer filhos. Ela é puro heavy metal! Personalidade fortíssima. Não recebe ordens.
Muita gente que leu isso deve imaginar que eu esteja me descrevendo. Mas tudo bem, ela tem uma crença espiritual bem intensa. Não em uma religião, mas apenas fé. O que me deixa até feliz, porque ela não está seguindo um grupo. Então posso assegurar que com isso não estava me referindo a mim.
Mas tive o prazer, com ela, de descobrir o conceito de parceria. Não tinha vivido até agora o verdadeiro sentido de ter alguém do seu lado, se preocupando com você, te incentivando a coisas boas, mesmo quando você está com uma vontade absurda de dilacerar pessoas. E essa fera que estava vivendo dentro de mim começou a se tornar apenas um gatinho ronronando. Sim, meus momentos de ódio praticamente acabaram.
Voltei a cuidar da minha saúde, o que estava deixando de lado há um bom tempo. Tenho prazer em andar de mãos dadas, sair pra jantar, buscar lugares novos. Estou ouvindo críticas de coração aberto. Mas o mais importante: consigo ser eu mesmo. Falo do meu passado sem medo, dos meus desejos, medos, traumas e de cada momento. E não sou julgado por isso. E vejo exatamente a mesma coisa vinda dela. Vejo uma mulher sincera, aberta e sem medo, que parece ter encontrado essa mesma parceria comigo.
E pra falar bem a verdade, acho que a situação tem sido bem injusta. Ela tem feito muito mais pra me ajudar, por assim dizer, do que eu por ela. Da até uma sensação de dívida emocional.
Hoje, diante de um fato inusitado, , tinha a mais clara certeza que tinha criado um problema desnecessário, sendo sincero demais. E diria que eu estava bem errado nesse ponto. Entrei até num princípio de crise de ansiedade achando que tinha feito uma cagada monstro. Quando ela me mandou um texto sobre o que considerava, foi uma coisa tão incrivelmente linda, estimulante, empolgante e contagiante, além de muito positiva, que quase chorei de alegria. Parecia um idiota num lugar de trabalho. Obviamente, tendo que sair pra não ser tão explícito.
Aí alguns dizem que eu estou apaixonado. Tenho comigo que o conceito de paixão é algo muito ruim. Esse negócio de você ficar bobo, pensando na pessoa noite e dia, perder o rumo... isso é passageiro. É bem aquele fogo que uma hora se apaga. Está muito longe do que estou sentindo.
O que ocorre agora é diferente. De tudo o que eu vivi. É real. É um companheirismo imenso, parceria, carinho total, respeito sem perder a essência. É algo verdadeiro, de ponta a ponta. É algo que deixa definições aqui expostas mais confusas do que se eu não tivesse falado nada.
E por isso o que temos juntos não ganhou um nome ainda. Pra alguns eu digo que estou namorando, pra outros ficando, pra outros apenas que estamos juntos. E pelo que vi ela também está nessa pegada. Quase um lance filosófico.
E mais: nunca, em momento algum, fui tão elogiado quanto agora. O que essa mulher me joga pra cima é algo inacreditável. Eu fico pensando se eu mereço tudo isso. Se eu sou tudo isso. Algumas vezes me sinto a pessoa mais importante do planeta! Mas me sinto alguém que realmente consegue tirar sorrisos verdadeiros de uma pessoa espetacular.
Não só um novo começo. Mas o mais maravilhoso de todos!

ENQUANTO ISSO, O LIBERALISMO


Sim, eu sou um liberal. Nos costumes. Acredito piamente que as pessoas têm o direito de serem, viverem e acreditarem no que as fazem feliz. Seja opção sexual, religiosa, amorosa, musical, ou que porra ocorrer. A própria liberdade é pressuposto básico de qualquer democracia, assim como do capitalismo. Adam Smith trouxe em sua obra a individualidade e o respeito a cada ser humano, o que foi consolidado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. E isso já deveria ser pressuposto básico na mente de cada um.
Mas não é. E em muitos aspectos, o liberalismo econômico ajuda a manter esse quadro maluco. A ideia trazida à tona por Adam Smith, como a expressão máxima do capitalismo, que inclusive foi a responsável pela criação do comunismo, em resposta, que de liberal, na prática, não tem nada.
Se você ler o que diz o liberalismo certamente você vai se apaixonar. A ideia é excelente. As pessoas são responsáveis pelo próprio sucesso. Fazem suas escolhas, seu caminho, ganham ou perdem de acordo com seu mérito, partindo de igualdade de condições, cada um buscando de acordo com suas necessidades e seus sonhos.
Lindo, né?
Mas não precisa ser nenhum gênio pra ver com clareza que isso é uma imensa merda, e que na prática é impossível dar certo. Infelizmente quase 300 anos não foram suficientes para deixar claro pra muita gente isso.
Gostaria de começar me questionando sobre essa ideia de igualdade de condições. Eduardo Bolsonaro nasceu nas mesmas condições que um catador de lixo na sua época? Se é muito, pensemos no filho do Lula em comparação com o mesmo catador. Há igualdade de condições entre essas figuras? Eles terão que participar de batalhas minimamente semelhantes para atingirem o mesmo sucesso? Eles serão brindados com a mesma educação? Com as mesmas condições de transporte? Terão ambos alimentação adequada, da mesma forma?
É óbvio que não. As condições financeiras iniciais fazem com que o caminho dos filhos de políticos sejam incrivelmente mais fáceis. E se fosse não quer pensar nesses grupos, é só imaginar filhos de empresários com fortunas, de pessoas ricas em qualquer natureza. Em contrapartida a quem não tem qualquer condição. A luta já começa absurdamente desigual, e nunca a desvantagem será relativizada nesse tipo de sociedade.
Existem as exceções. Pessoas que vêm da pobreza e se dão muito bem, fazendo fortuna, enquanto existem ricos que afundam na miséria ou em algum tipo de desgraça. O primeiro caso é muito raro. Praticamente um milagre. O segundo, na nossa sociedade tão doente e problemática, tem se tornado mais próximo da regra do que da exceção.. Mas no geral, quem nasceu pobre, irá morrer pobre, não importa o quanto se esforce.
Quem detém os meios de produção detém o poder. E nesse caso, sendo bem claro, manda quem tem dinheiro. Quem tem poder financeiro escolhe como a coisa caminha. Quem não tem, precisa dele pra sobreviver. Precisa de emprego, e este será oferecido por quem tem dinheiro. E as condições de como será essa relação será dada pelo dono do capital. Porque se o pobre não quiser se sujeitar, muitos outros famintos estão esperando por isso.
Daí temos jornadas extenuantes, cobrança de produtividade desumana, salários muito abaixo do que seria justo e muito assédio. E diante do poder nulo do trabalhador, é aceitar ou morrer de fome. Daí entramos no conceito de mais-valia, de Karl Marx, que é absolutamente perfeito. O rico ficará cada vez mais rico. E o pobre mais pobre. A desigualdade social no liberalismo econômico aumenta cada vez mais.
E o Estado pouco interfere. Não há leis de proteção, não há direitos, não há programas de incentivo, nem carga tributária que garanta a distribuição de renda. Apenas uma imensa passividade diante do caos espalhado por quem tem poder. E pensando no sistema capitalista, o objetivo é o lucro. E este se dará acima de qualquer coisa.
Não sem motivos em todos os momentos que essa aberração foi implantada, foi um desastre. Às vezes não de cara. Em geral, costuma ter alguns momentos de estabilidade, diante de problemas deixados sem solução em outros sistemas. Mas a desigualdade social cresce de forma geométrica nesse sistema, até o anseio social explodir. Isso pode ocorrer na mudança de rumos em eleições, ou em revoluções, como o que ocorre no Chile atualmente.
Até tivemos o neoliberalismo, onde o Estado intervinha, mas bem pouco. Não nego que seja melhor que o liberalismo puro, até porque pouca coisa é pior que esse caos. Mas ainda assim o capital manda e desmanda. Empresas e empresários, com dinheiro, dão as cartas. Existem limites, mas nem sempre são respeitados.
E agora o que se começou a perceber é que o liberalismo anda de mãos dadas com o autoritarismo. Para que se tire direitos e deixe-se de haver um Estado regulador, é preciso um Estado opressor. Pessoas tendem a se rebelar contra injustiças. Aí entra o governo, pra desintegrar tais manifestações. Tira-se de circulação os desordeiros, trazendo suas figuras como criminosos, enquanto as pessoas perdem cada vez mais sua dignidade.
Basta ver Paulo Guedes. Esse ser abominável esteve presente na ditadura mais sanguinária da América Latina. Foi responsável por um sistema que trouxe a pobreza extrema, especialmente aos mais velhos, o que agora transformou o país num barril de pólvora e ódio, incontrolável (e que espero que sirva de inspiração para o nosso país!). Mas não só isso: ele quer inserir essas ideias cretinas no nosso país. Acredita que pobres não poupam porque não querem (comer é só um luxo dispensável). Defende abertamente um AI-5, o ato mais repugnante da história do nosso país. Defende que direitos sejam eliminados, que pobres paguem mais e mais impostos, inclusive pra trabalhar. E a mesma pobreza na velhice. E para isso, precisa tratar quem pensa diferente como inimigo. Agora seu alvo são os servidores públicos (categoria da qual eu faço parte). Ameaça regras que dão ao Estado o poder de cortar salários.
O liberalismo é sofrimento. É o caos. A fome, e a miséria. E a tirania. Esse sistema jamais foi implantado em qualquer sociedade que tenha atingido um mínimo de igualdade social. Não há justiça. Só sofrimento e dor. É comprovadamente um desastre. A não ser para quem está cagando para seus semelhantes. Curiosamente, boa parte se auto-denomina cristãos.

AH, ESSE CAPITALISMO


Nunca escondi de ninguém meu viés de esquerda. Entendo e deixo claro que as ideias propostas por pensadores de esquerda, em sua maioria, apresentam soluções muito mais apropriadas para o bem estar da raça humana, do que as da direita. Colocando num âmbito atual, em que isso quer dizer que de uma forma geral são as que melhores podemos aproveitar, enquanto os que são trazidas pelo pensamento de direita também conseguem remeter a boas ideias, mas a meu ver em menor grau.
Não há como atualmente aderir a uma ideologia de forma pura. Entendo esquerda e direita como meros pontos de partida, onde você tem um norte sobre a forma de atingir um objetivo, que precisará necessariamente mesclar um monte de coisas. Se você é uma pessoa inteligente, você nunca será um esquerdista total, ou um direitista total. Isso é radicalismo puro, e os fatos históricos já mostraram que não funciona.
Por isso tenho ficado perplexo quando digo que sou de esquerda, e um monte de gente vem me perguntar se eu acho que o comunismo deu certo, como eu consigo seguir um regime totalitário que levou à pobreza de centenas e não dava possibilidade da manifestação do pensamento diverso.
Isso sempre me irritou, pois eu jamais na minha vida fui comunista. Adoro os escritos de Karl Marx, como todo esquerdista. Mas vejo falhas gritantes em sua obra, algumas corrigidas por outros pensadores posteriormente, enquanto outras seguem sendo idolatradas e criando problemas por onde passam. E essas falhas me impedem de seguir o que ele escreve.
Por outro lado, alguns dos grandes pensadores do capitalismo, especialmente Adam Smith, trouxeram pontos muito interessantes em suas obras. Não vejo como algo que se mantém de pé por si só, mas há coisas que jamais poderiam ser descartadas. Especialmente a evolução pessoal e a busca individual pela felicidade e pelo progresso. Algumas dessas ideias hoje são mais usadas por pessoas que se dizem de esquerda do que as que se dizem de direita.
O que posso dizer é que sou um capitalista. E gosto da ideia de ser um funcionário. No caso atual, um funcionário público. Mas jamais quis ter um negócio próprio. Como empreendedor, nem no mais remoto delírio. Enquanto ainda estava trabalhando como artista, a ideia de “vender” o meu trabalho, ou divulgar minhas ideias me causava um imenso calafrio. A própria ideia de um blog demorou décadas, sendo que escrevo desde a adolescência. E só ocorreu quando não havia qualquer possibilidade profissional, de sucesso ou de ganhos financeiros.
Mesmo assim, cumpro meu horário, realizo muito bem meu trabalho e dou uma boa dose do sucesso para minha autarquia. E faço a mais absoluta questão de ter meu salário no início do mês. Tenho algumas futilidades típicas do capitalismo, como a internet que uso agora, duas máquinas de café expresso, meu hd que enchi de heavy metal e uso o dia todo. Uso valores financeiros o tempo todo.
Sendo assim, sou um capitalista. Um capitalista de esquerda, como praticamente todos os que se dizem de esquerda hoje. O comunismo está morto. Sei que isso é triste para alguns, e fake news para outros. Mas se você estiver fora da Coréia do Norte e não estiver falando com alguns poucos resistentes em Cuba, ninguém mais é comunista. Com exceção de alguns doidos espalhados por aí, que ainda têm um desejo utópico de resgatar as ideias originais de Marx.
A esquerda atual não tem nada de comunista. Alguns se dizem comunistas, mas claramente não agem dessa forma (e ainda trouxeram a maldita fama de socialista de iphone). Qualquer pessoa de esquerda mais ou menos normal, com uma capacidade intelectual normal, vai defender ideais de justiça social, distribuição de renda equalitária, direitos humanos respeitados, entre todos os ideias que possam demonstrar igualdade. Isso é ser de esquerda.
E é perfeitamente possível. Os países nórdicos nos mostram que isso é real, possível e maravilhoso. Estes países apresentam, em sua maioria, a mais alta carga tributária do mundo, incentivos a empresas privadas e à livre iniciativa como um todo, mas a distribuição de renda mais perfeita do mundo. As pessoas recebem do governo a prestação do serviço pelas quais pagaram seus impostos. Você tem educação de qualidade, saúde de primeira, segurança e o maior IDH do planeta. Todos inseridos num sistema capitalista. Não há ricos, mas também não há pobres. Simplesmente há justiça.
Não quer dizer, de forma alguma, que não há problemas. Todas as sociedades têm seus problemas. E não quer dizer que esses países chegaram à perfeição. Mas com certeza é o mais perto que podemos imaginar. É o ideal de esquerda aplicado da forma mais linda e espetacular o possível.
A ideia cretina de que a esquerda está atrelada ao comunismo cresceu com o crescimento da extrema direita. Especialmente aqui e nos EUA. Caras como John Bannon, especialista em divulgar notícias falsas e difamar todos os que pensam contra ele, na propagação do extermínio de adversários, são os típicos responsáveis por essa babaquice.
Aqui temos seres ainda mais repulsivos, como Olavo de Carvalho, que em qualquer momento normal da história seria considerado um doente mental, trancafiado num hospício, fazendo vídeos engraçados para tentar recuperar a sanidade. Mas aqui se tornou um ícone para muitas pessoas, e o guru do governo. Daí o fato de não surpreender o nível caótico dos nossos líderes.
Olavo trouxe à tona ideias incrivelmente cretinas, como o terraplanismo, o heavy metal propagar o satanismo, as vacinas serem a propagação do autismo, e especialmente, a Pepsi ser feita com fetos abortados como adoçantes, colocando as pessoas como abortistas terceirizados (acreditem, esse vídeo é ótimo. Vale a pena assistir!). Colocando esse doente num país onde o nível de escolaridade e de educação é medonho, fica claro o motivo dele ter se tornado uma lenda para um número incrível de pessoas.
E essa aberração levantou a ideia de que estávamos para sermos pegos por um golpe comunista, no governo do PT, que foi iniciado pelo “Foro de São Paulo”. Um monte de gente com nível intelectual baixíssimo caiu facilmente nessa falácia. Porém, algumas pessoas incrivelmente inteligentes ainda seguem esse cara. Quer dizer, inteligentes numas. Ouvir muito as bobeiras desse doente tendo-as como sérias é incrivelmente danoso ao cérebro.
E seres como esses, trazendo ideias arcaicas e mortas, foram os responsáveis pela associação da esquerda ao comunismo. Algo que jamais se comprovou, que numa pesquisa bastante simples pode ser derrubado, e que só favorece popuistas de direita. E de quebra ainda aumenta muito a divisão entre as duas alas, fazendo com que as boas ideias de ambas as partes não se encontrassem nunca mais.

sábado, 7 de dezembro de 2019

O MOMENTO MAIS SOMBRIO


Tenho 39 anos. Quando encerrou-se a ditadura militar eu tinha oito anos. Era pequeno demais, e com pouco conhecimento social para entender o momento. Aquele sem dúvida foi nosso momento mais triste.
Porém, do que eu vivi, sem a menor sombra de dúvida estamos vivendo o momento mais triste da história desse país. A eleição do fascista e mais alguns que vieram a tira colo, seus ministros e aliados, revelaram o lado mais podre e desprezível do nosso povo. Pessoas, até então tidas como boas e sensatas, se revelaram, ou ficaram completamente malucas. Eu diria que cerca de um terço do nosso povo mostrou seu lado repulsivo. E isso não tem volta.
Já escrevi muito sobre as ações desse psicopata. É um show de horrores sem fim. E eu definitivamente não consigo aceitar seres humanos não tendo um pingo de compaixão com outros seres humanos. O que temos aqui nesse momento é uma perseguição imensa contra vários tipos de minorias, bem com um estímulo institucional a essa perseguição, muitas vezes violenta. E o povo que apoiou esse doente ao invés de se revoltar com essa situação tenta usar todo tipo de argumento para justificar a barbárie.
Desde que ele se tornou o nome forte da extrema direita, o que tivemos foi uma perseguição declarada aos homossexuais, inclusive com declarações diretas desse boçal afirmando que o Brasil não gosta de gays. Seguiu-se na mesma época a perseguição às mulheres, especialmente as que seguem o movimento feminista.
Depois disso tivemos ataques diretos ao meio ambiente e aos povos indígenas, com queimadas e desmatamento recorde e absoluta inércia do governo, sendo atacados inclusive por outros países, revoltados com a letalidade desse atual governo. No embalo seguiu-se assassinatos a ambientalistas, e uma série infindável de ameaças.
O movimento negro também foi alvo, com declarações desprezíveis de que o Brasil não teve escravidão, seguidas de que a escravidão ocorreu por causa dos próprios negros, e depois afirmando que a escravidão foi boa para os negros. Aquela coisa que tentava arrumar e ficava ainda pior.
Uma pregação religiosa imensa, onde o programa evangélico passou a fazer parte do programa de governo, e todos aqueles que não eram evangélicos passaram a ser alvos desse governo doente. Especialmente os seguidores das religiões de origem africana. Com tentativa de imposição de culturas, costumes e regras.
Os funcionários públicos passaram a ser perseguidos. Foram tratados como culpados pela situação do país, como se estivessem recebendo verdadeiras fortunas e não trabalhassem para isso. Iniciamos uma série de projetos de retirada total de direitos, cortes de salários, xingamentos.
Por fim, essa semana veio o massacre de Paraisópolis. Um baile funk, repleto de pessoas pobres, negras e com baixa escolaridade, foi reprimida com absurda violência. Nove mortos, um de 14 anos. Pessoas espancadas apesar de rendidas. E olha que eu abomino baile funk e os exageros na perturbação que causam. Mas você não reprime barulho com assassinato.
Isso pensando no que eu fui capaz de lembrar agora. Vários grupos, geralmente fazendo parte de minorias, tratados com ódio. Atacados, especialmente com fake news (vai dizer que você nunca recebeu declarações que feministas tinham pelo no sovaco?). Que passaram a ataques reais. O programa de ódio se espalhou.
Uma das regras básicas para ser considerado humano é ter compaixão pelos semelhantes. Analisar o sofrimento alheio e ter um pingo de sensibilidade. Tentar ajudar, de alguma forma, nem que seja criticando atos criminosos, ainda mais os cometidos de forma institucional.
Aqueles que não conseguem agir de forma minimamente humana, que não só não ligam, como justificam e enaltecem o sofrimento, não podem, em hipótese alguma, serem chamados de seres humanos. Não merecem respeito, não merecem qualquer atitude positiva.
Pessoas assim não devem fazer parte de uma sociedade. Esse tipo de pensamento deve ser estirpado. Muitas dessas coisas já deveriam ter sido tornadas crime há muito tempo.
O apoio a este governo psicopata não é só o apoio ao atraso. É o apoio ao ódio, à morte, ao sofrimento. E o apoio a que todos os que pensam diferente sejam esmagados. Não há nada mais entre direita e esquerda, até porque ser feminista, ser laico, não ser racista, ou tudo aquilo que foi descrito, não é uma característica de alguém da esquerda. É de alguém com um mínimo de vergonha na cara. E existem sim muitas pessoas da direita que sabem disso e defendem pontos de vista que valorizem a raça humana.
Até quando vamos aceitar essa barbárie sem fazer nada? Já passou da hora de nos levantarmos e mostrar que ainda temos um pouco de decência como seres humanos.