Recebi com surpresa uma
informação de que uma exposição de arte havia sido cancelada por trazer obras
que incentivavam a pedofilia e a zoofilia. Imaginando que estes atos constituem
apologia ao crime, de bate e pronto fui
contra, imaginando que havia sido desta forma.
Vendo as notícias que vieram
a seguir, foi apavorante perceber que nossa sociedade está regredindo a
períodos medievais no trato com a manifestação artística.
Sendo minha primeira
formação acadêmica artes plásticas, por si só a defendo, não importa se gosto
ou não. O repertório histórico e contemporâneo trazem coisas que me agradam
muito, e outras que acho de extremo mal gosto. O mesmo pode ser dito para
outros apreciadores. Da mesma forma que entendo que algumas mensagens são
contestáveis. Aliás, a ideia geral da arte é mexer com o imaginário, com
emoções e fazer pensar (de uma maneira bem simplista para definir).
Não me lembro o nome correto
da exposição ocorrida no Rio Grande do Sul, e isso pouco importa. O que chocou
de forma intolerável foi saber que, por se tratar de uma exposição de abrangia
sexo de forma bastante ampla, o que incluía homossexualismo e outras formas
minoritárias, houve uma imensa contestação e informações inverídicas sobre o
que estava sendo pregado.
Na data de hoje procuradores
do Ministério Público averiguaram que não houve qualquer apologia a crimes. Mas
uma análise bastante básica às obras já seria suficiente. Um apreciador mediano
de arte já tem em sua mente que a obra em si é aberta (tomando emprestado o
grande Umberto Eco). Isso quer dizer que existem centenas de mensagens contidas
numa obra, uma vez que toda a composição é tratada para nos fazer viajar na
proposta do autor.
E tratando-se de um tema tão
polêmico, as possibilidade de conclusão são ainda maiores. É possível deixar o
imaginário fluir até o infinito, tirar diversas conclusões, recuar, abraçar
outras ideias. Não há um limite para chegar a algum lugar, mesmo que no fim das
contas não gostemos das obras em questão.
Exceto para seres como os
que compõe ou os que admiram o MBL. E a coluna deixada por um de seus
fundadores na Folha mostra claramente que não há capacidade intelectual para
que seus integrantes sequer tentem pensar no que estão observando. Não houve
sequer um debate, que é basicamente aquilo que se espera da arte.
Assim como ocorre ainda hoje
nos países mais atrasados do planeta, como Irã, Arábia Saudita, Coreia do
Norte, este grupo arcaico executou e apoiou um ataque total à página do museu,
até que a exposição fosse cancelada. Ou seja, censura ao que não se concorda.
Um retrocesso que beira o
período medieval. Uma aberração em momentos em que liberdade se tornou o mantra
de qualquer democracia.
Como artista plástico me
sinto indignado. Mas como cidadão, sinto um profundo nojo deste grupo, mas mais
ainda, uma tristeza imensa pela nossa sociedade se aproximar cada vez mais do
fundo do poço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário