Não
chegamos ainda ao final de abril, e acredito que minha saúde está mais
estragada do que a maior parte dos demais anos. E olha que eu tive várias
escorregadas nos demais anos.
Pra
começar, dores de cabeça diárias, fortíssimas. Acho que criei uma certa
imunidade contra Dorflex, Neosaldina e Paracetamol. Uma amiga chega a dizer que
sou uma farmácia ambulante. Fora isso, devo ter apresentado quadro de torcicolo
umas três ou quatro vezes este ano. E mais remédio. Comecei a receber alguns
avisos que a coisa estava muito ruim quando tive refluxo. Eu jamais na minha
vida tive qualquer problema de estômago, e de repente estava vomitando e
sentido um gosto péssimo.
Mas
o ápice até o momento chegou até mim no dia 12 de abril. Surgiu um caroço
gigante no meu saco, que estava me causando dores incríveis. Tentei aguentar
durante o dia, pois raramente reclamo de dores a ponto de parar de fazer o que
preciso. Mas a dor foi mais forte, e terminei a noite no hospital, passando por
um clínico e um cirurgião, que constataram se tratar de mais um furúnculo (este
foi o de número 15). Tive seis nesta semana, mas todos com dores suaves e
suportáveis. Este não.
Passei
uma semana terrível. Bem verdade que fiquei em casa, dormi relativamente bem
quando a dor permitiu, mas a maior parte do dia foi repleta de dor. Quando essa
loucura estourou, sangue pela casa toda, o dia inteiro, misturado a pus. No dia
seguinte, quando tinha saído toda a infecção, fiquei com a ferida aberta, e
passei mais três dias ardendo até a alma. Sentar somente na ponta da cadeira, e
se fosse estofada. Andar até dava, mas com uma dor desgraçada. Passei a maior
parte dos dias deitado.
Além
do fato de fazer as coisas picadas e com muita dor, acho que pude aproveitar o
que restou de lucidez esta semana para refletir sobre a minha vida. É claro que
a situação é da minha inteira responsabilidade. Eu passei a vida inteira
querendo ser muito bom no que eu faço, me dedicando de corpo e alma a todas as
atividades que desempenho.
Acredito
piamente que realmente me tornei muito bom mesmo em tudo que faço. Sou muito
bom no meu trabalho, tiro excelentes notas na faculdade, e quando não acontece
tenho ótimos argumentos para contestar a avaliação sofrida, passei em vários
concursos, sendo nomeado em três deles. Em casa não tenho preguiça de fazer
nada, sendo que sei limpar uma casa perfeitamente bem, além de ser um excelente
cozinheiro (com exceção de doces). Até hoje sempre fui um bom amante. Não me lembro
de ter me relacionado com uma mulher uma única vez, pois todas que
experimentaram quiseram repetir a dose.
E
posso dizer hoje, sem medo de errar, que este foi o pior erro da minha vida.
Não porque eu não seja bom, ou que não seja legal pro ego. Mas o corpo não
aguenta. Eu me tornei um homem extremamente ansioso e exigente, e meu físico
não consegue acompanhar o que minha mente apresenta. E agora começa a definhar.
O quadro evoluiu nos últimos anos para uma claustrofobia que me deixa agressivo
e uma impossibilidade de ficar parado.
Graças
a dor, tive algumas vezes que ficar na frente da televisão, assistindo alguma
merda que estava passando. E então me dei conta que há muitos anos não fazia
isso. Caralho, eu não tenho tempo ocioso na porra da vida. Isso é ainda mais
assustador do que não ter emprego. Eu me dei conta que se as coisas não
mudarem, eu vou morrer muito em breve.
O
maior problema é que essa merda é um vício. Eu não sei como parar. Há algum
tempo faço terapia, mas não tinha me dado conta do nível que a coisa estava.
Aceitei que acho que chegou a hora de procurar ajuda psiquiátrica. Não me
parece que sozinho eu conseguirei mudar isso a curto prazo.
Depois
de uma luta interminável eu consegui, nós conseguimos, melhorar e fazer nosso
casamento se tornar algo maravilhoso. E eu ainda não consegui aproveitar isso.
Quase não vejo meus grandes amigos, os irmãos que tive em toda a vida. Há
quanto tempo que não pego pra desenhar ou pra pintar, que sempre foi uma das
paixões da minha vida?
E
estes dias, a dor dessa merda de furúnculo que parecia uma pedra enfiada dentro
do saco, me fez refletir, que nada, nada, nada é mais importante na minha vida
do que minha esposa e meus amigos (e volto a dizer, que aqui temos a família,
quando se portam como tal, sendo amigos de verdade). E que está na hora de trata-los
como são.
O
resto, é somente o resto. Só falta agora eu conseguir isso...