Todos os dias eu acordo
aproximadamente 4h50, às vezes durmo dez minutos a mais, porque o cansaço não
permite acordar de pronto. Via de regra faço meu café, lavo o rosto, tomo café
da manhã, brinco um pouco com o gato, dou comida e água para ele, troco de
roupa, e vou pegar o ônibus. Começo com o intermunicipal, por volta das 6h15,
num dos pontos da rua Pedro de Souza Lopes. Tenho três opções para ir pro metrô
Tucuruvi: duas que passam na Parada Inglesa, uma custando agora R$3,35 e outra
R$3,95 (já incluído o aumento de junho), além de uma linha que vai para o metrô
Tietê, custando R$4,30.
Via de regra espero passar uns quatro
ou cinco ônibus para conseguir embarcar em algum deles, pois os primeiros nem
sequer param no ponto de tão cheios que estão, e os dois seguintes se param
somos obrigados a irmos pendurados na porta. Às vezes até vem todos em seguida,
e o mais vazio costuma aproveitar que os demais pararam no ponto e passarem
batidos, ignorando quando damos sinal, o que nos faz esperar mais algumas
oportunidades para conseguirmos ingressar no transporte.
Quando finalmente consigo pegar o
ônibus, nunca vou sentado. Na verdade há anos eu nem mesmo tento. Primeiro
porque muitas vezes nem é possível, segundo porque, quando é, não há espaços
suficientes para abrigar idosos, portadores de deficiência (quando conseguem
subir no ônibus), grávidas, etc. Eu sei que mais cedo ou mais tarde acabo por
ter que levantar, o que me faz nem ter vontade de sentar. Mas claro, antes
disso, pra pagar a tarifa devo passar pelo motorista. Sim, pelo motorista, pois
a EMTU retirou os cobradores, e agora os motoristas devem dirigir e fazer a
cobrança, contando quanto foi pago e quanto deve ser dado de troco.
Chego no metrô Tucuruvi por volta de
6h40 às 6h50, quando o trânsito não está caótico além da conta. Isso porque o
trajeto da Vila Galvão até o metrô é bastante curto. Lá, algumas vezes pegamos
filas outras não, para passarmos pela catraca. Via de regra, ao chegar à
plataforma, espero o primeiro trem partir para ficar em boa posição para
entrar. Quando o metrô chega, fico na parte destinada a cadeirantes, porque lá,
por não ser área de embarque e desembarque, consigo me alojar para ler durante
a viagem. Quando chega um cadeirante, cedo o meu lugar, e é o fim da leitura.
Isto porque fora daquela região é uma lotação incrível, onde não há como uma
pessoa se movimentar o suficiente sequer pra mexer no celular sem ficar dando
cotovelada nos outros.
Em geral a viagem até a estação São
Joaquim, local onde fica a faculdade, dura cerca de 30 minutos. Mas claro, uma
vez por semana o metrô “viaja com velocidade reduzida e maior tempo de parada,
devido à falha na estação X”. Nesses dias uma hora de viagem é um tempo
excepcional. Neste dia as pessoas que estão indo pro trabalho ficam com medo de
se atrasarem, e acabam por querer entrar todas ao mesmo tempo no mesmo vagão,
pois sabem que o próximo vai demorar pra cacete. Neste dia não da pra abaixar o
braço, nem coçar o nariz. É a típica situação de se viver como uma sardinha na
lata.
Quando eu chego na faculdade em geral
me sinto aliviado por ter passado dessa situação caótica mais um dia. Em geral,
meu sono por acordar quando o dia está escuro fica ainda maior devido ao
cansaço da viagem. Isso faz com que eu tenha maior dificuldade em me concentrar
na aula, assim como me manter acordado, da mesma forma que prejudica bastante
minha qualidade no trabalho. Mesmo assim ainda continuo tirando boas notas e
tendo um excelente desempenho profissional.
Pago o preço, sem dúvida: vários
problemas de saúde, sendo a maioria em grau de suspeita, poucas horas de sono,
imensa irritabilidade, propensão a brigas... e o pior de tudo é a pouca vontade
de ficar inventando coisas pra fazer nas minhas horas de laser, diante do
extremo cansaço.
Meu relato é de alguém que mora
pertíssimo da capital paulista, viajando poucos minutos dentro desse ônibus
caótico, e consegue pegar o metrô na primeira estação da linha azul, a linha
menos agitada de todas. Fico imaginando
cara que mora em Taboão da Serra e precisa trabalhar no centro de São
Paulo, ou o coitado que mora em Itaquera, que está feliz da vida porque seu
timão terá um estádio, custeado com SEU dinheiro público, enquanto você
continua sofrendo feito um condenado pra conseguir voltar pra casa às 18h00.
Podem ter certeza que quem vive esta realidade acha o que eu coloquei aqui como
uma oportunidade de viver no paraíso por alguns minutos.
E é por isso que R$0,20 se tornam o
tiro de misericórdia no meio de um massacre.
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