Mais uma vez lembro daquele fatídico ano de 2004, e o ano renascente de 2005. Mas minhas lembranças pairam sobre os fatores que me ajudaram a sair do buraco. Obviamente, ver que muitas pessoas estão não só tristes, como desesperadas por você, é algo que mexe demais. Mas acho que você ter pessoas que realmente se importam, e muitas vezes deixam de lado o próprio conforte pra te ajudarem, sem cobrar nada por isso, é algo realmente indescritível.
Eu sou um afortunado, tenho muitos bons amigos. E como já citei anteriormente, não só os amigos de sangue, que algumas pessoas têm a infelicidade de chamar de família (porque aí você acaba incluindo os familiares que são seus amigos, e outros que mesmo tendo seu sangue, querem a todo custo te foder), como os amigos que você encontra na vida. E foram muitos os nomes que me ajudaram naquele momento, como meu pai, meus avós, o André, etc. Mas ninguém fez mais por mim do que fez o Igor. O cara morava numa situação complicada, cheio de brigas de família, e mesmo assim, encarou brigas pra poder me ver sair da crise. Foram nove meses de tortura, e mesmo assim, o cara acreditou em mim, como ninguém mais acreditou. Como nem eu mesmo acreditava.
E hoje eu estou muito bem. Fui convidado a um cargo de chefia, tenho um bom emprego, comprei meu apartamento, moro muito bem sozinho, continuo tendo os melhores amigos que um homem pode ter, tenho o gato de estimação mais especial do universo, e tenho uma noiva incrível, da qual faz a vida valer a pena. Se ele não tivesse feito esse pequeno sacrifício por mim, pode ser que eu demorasse bem mais pra conseguir chegar onde cheguei. E isso me abriu os olhos, porque eu entendi que muitas vezes, por mais que agente queira desistir, não podemos fazer isso, não temos o direito, porque tem sempre alguma pessoa, que mesmo que agente não saiba, está colocando sua fé em nós. Uma pessoa que sofreria muito se por acaso tomássemos algum rumo idiota na vida. Não temos o direito de destruir a vida de alguém agindo como fracos e perdedores.
Engraçado ver como a vida da voltas, e hoje eu me sinto um pouco na posição do Igor anos atrás. Tudo bem, não é nem metade do que eu vivi naquela época, porque acho que ainda está pra nascer algum posso de depressão maior do que foi Roberto Lazaro até 2004. Mas a dificuldade em se lidar com alguém que se acha o pior ser humano do mundo é indescritível.
Gostaria de me sentir uma ótima pessoa fazendo isso, mas na verdade, sinto como se estivesse pagando uma dívida que eu tenho com a própria vida. É como se, um dia eu precisasse de uma grande ajuda, e agora, é a vez de eu oferecer ajuda. E só agora que eu vejo como é difícil fazer uma pessoa tirar a venda dos olhos. E como é terrivelmente difícil manter a calma em todos os momentos, quando eles vão se sucedendo. É algo como um campo minado, totalmente pressionado, onde qualquer passo em falso desencadeia uma série de explosões nucleares.
Fazia tempo que eu não agia tão dominado pelos nervos. Fazia tempo que eu não tinha uma crise de fúria. E fazia tempo pra cacete que eu não sentia a situação tão fora de controle. Parece que eu sou impotente em tentar reverter uma catástrofe, por mais que eu me esforce. Parece que o mal é tão forte, que palavras são somente como um mosca diante de um incêndio. E agora eu vejo que tantas pessoas tentaram falar pra mim, tentaram me fazer ver o mundo com outros olhos, e demoraram tanto tempo pra conseguir, até eu chegar no extremo.
Mas eu tenho um consolo. A dificuldade é imensa, mas quando a pessoa vale a pena, agente aceita o desafio, e suporta a provação (mesmo que de vez em quando com o humor meio deteriorado). Quando você vê uma pessoa incrível em um momento terrível, você percebe que não pode assistir esse tipo de injustiça em silêncio. Você percebe que por mais que você sinta dor, você tem obrigação moral de dar pelo menos um apoio pra essa pessoa enquanto ela retoma o caminho.
E eu tenho essa pessoa na minha vida, a mais especial de todas. Uma pessoa encantadora, esforçada, inteligente, simpática, alegre e agradável, que faz não só da minha vida algo melhor, como de todos os que estão ao lado dela. Uma pessoa que merece a suprema felicidade. E por algum motivo, está vivendo um pequeno nevoeiro. Mas está tão desesperada, que o vê como uma terrível tempestade sem fim. E é como tentar salvar uma pessoa se afogando, já em desespero, onde ela se debate e parece afundar mais e mais, sem nenhuma corrente puxando. E você toma uma série de bordoadas quando tenta impedir esse afogamento. Mas no fim, você sabe que ela vai ficar um pouco assustada, cuspir um pouco de água, mas vai voltar a te dar aquele lindo sorriso, como sempre fez.
Por isso eu entendo e aceito a importância que pessoas queridas têm na nossa vida. Eu precisei desesperadamente de uma, de várias. Hoje uma pessoa precisa de mim, e algum dia alguém irá precisar dela. E todos precisarão, precisam, ou precisarão de alguém em algum momento. Não há verdadeira felicidade em se viver sozinho. Nem há qualquer tipo de felicidade em se agir como covarde, e deixar alguém na mão quando ela te oferece problemas por causa da infelicidade. Por isso eu acredito que alguém sempre estará ao nosso lado, quando a situação parecer insustentável. É só ter paciência e o coração aberto, que as coisas sempre darão certo.
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