E apesar de
termos a nossa disposição formas infindáveis de informação e da busca de
conhecimento, estamos retorno a 1964. Sim, muita coisa está ocorrendo da
mesmíssima forma, apesar de termos coisas diferentes, que tornam o atual
momento ainda pior do que no século passado.
Em 1964 a
ordem democrática foi rompida abruptamente, por um golpe, travestido de
revolução, em virtude de acusações subjetivas contra o presidente, o que
incluía corrupção, falta de apoio popular, incapacidade de guiar o país. O “processo”
em curso atualmente apresenta as mesmas características. Quem acusa tenta
transformá-lo em um procedimento dentro da legalidade sob acusações sem
sentido.
Senão,
vejamos: a nossa presidente está sofrendo este processo por pedaladas fiscais.
O ato foi “cometido” também nos governos anteriores, de FHC e Lula, que tiveram
suas contas aprovadas pelo mesmo Congresso que agora tenta imputar a culpa na
atual presidente. Ou seja, criaram a jurisprudência que a favorece.
Fora isso, as
suas contas nem sequer foram apreciadas pelo Congresso, o que quer dizer que o
objeto da acusação nem existe. Fora que até agora ninguém conseguiu sequer
demonstrar onde as tais pedaladas entram em algum crime, uma vez que foram
recursos “desviados” em proveito de programas sociais, ou seja, na teoria, em
benefício do país.
Outra
justificativa, esdrúxula, é que a presidente perdeu apoio, sendo que o povo não
a quer mais no poder. Fato é que seu governo é um desastre, dando demonstrações
de incompetência e de incapacidade políticas fora do comum. Mas estes
argumentos não são válidos para um processo de derrubada. A presidente está
nesse cargo em virtude de vitória num processo eleitoral, que até agora
mostrou-se dentro das leis brasileiras. Ela está ali porque a maioria do povo
assim o quis. Infelizmente a democracia
indica que algumas pessoas são contrariadas. Não há nada de ilegal nisso.
Porém, deve-se
falar sobre as diferenças com os acontecimentos de 1964, e neste ponto que os
eventos que estão acontecendo estão nos levando para um abismo cujo fundo é
difícil de enxergar.
Primeiramente,
não temos agora apoio dos militares. Agora quem está tentando mudar as regras
do jogo no meio da partida são os próprios políticos, ávidos pelo poder, muitos
que perderam as eleições.
Mas o pior de
tudo é o cenário que se constrói em âmbito internacional. Em 64 o mundo estava
voltado à ditadura, com apoio irrestrito dos EUA, no caso dos países
capitalistas, e da URSS, nos comunistas. Naquela época não havia nenhum
constrangimento nisso. Atualmente, o processo democrático é exigido em qualquer
relação internacional estabelecida.
Nesse sentido
posicionaram-se contra o impeachment, na forma que está sendo imposto, a ONU, a
OEA, e os países com as quais o país tem maior relação comercial, especialmente
na América do Sul. Por este mesmo fato o Paraguai foi expulso do Mercosul,
tendo sua condição econômica piorada em muitos níveis. E já existe a ameaça da
suspensão do Brasil, o que provavelmente
irá ocorrer.
Fora que
diante da fraqueza do país no cenário internacional, as instituições citadas
irão impor sanções. Bem como a própria credibilidade do país, que não respeita
suas próprias leis, sofrerá um significativo abalo.
Desta forma,
não há uma situação lógica que possibilite justificar essa insanidade que está
ocorrendo. Este impeachment, da forma que está sendo desenhado, é golpe, pura e
simplesmente, da mesma forma que foi em 1964. E a defesa feita pelas pessoas,
as poucas que o fazem com alguma tentativa frustrada de demonstrar
inteligência, só demonstram um ódio irracional ao PT e uma incapacidade
gritante em analisar o cenário completo do que ocorre no presente, e do que
está para acontecer no futuro.
A afirmação,
corretíssima, de que a presidente faz um péssimo mandato, e de que a população
na aprova seu mandato, não pode em hipótese alguma ser utilizada para quebrar
um processo democrático correto, nem uma tentativa de justificar uma absurda
infração da lei, sob o risco de retornar a um período desastroso, com
consequências ainda piores.