terça-feira, 5 de abril de 2016

1964 piorado



E apesar de termos a nossa disposição formas infindáveis de informação e da busca de conhecimento, estamos retorno a 1964. Sim, muita coisa está ocorrendo da mesmíssima forma, apesar de termos coisas diferentes, que tornam o atual momento ainda pior do que no século passado.
Em 1964 a ordem democrática foi rompida abruptamente, por um golpe, travestido de revolução, em virtude de acusações subjetivas contra o presidente, o que incluía corrupção, falta de apoio popular, incapacidade de guiar o país. O “processo” em curso atualmente apresenta as mesmas características. Quem acusa tenta transformá-lo em um procedimento dentro da legalidade sob acusações sem sentido.
Senão, vejamos: a nossa presidente está sofrendo este processo por pedaladas fiscais. O ato foi “cometido” também nos governos anteriores, de FHC e Lula, que tiveram suas contas aprovadas pelo mesmo Congresso que agora tenta imputar a culpa na atual presidente. Ou seja, criaram a jurisprudência que a favorece.
Fora isso, as suas contas nem sequer foram apreciadas pelo Congresso, o que quer dizer que o objeto da acusação nem existe. Fora que até agora ninguém conseguiu sequer demonstrar onde as tais pedaladas entram em algum crime, uma vez que foram recursos “desviados” em proveito de programas sociais, ou seja, na teoria, em benefício do país.
Outra justificativa, esdrúxula, é que a presidente perdeu apoio, sendo que o povo não a quer mais no poder. Fato é que seu governo é um desastre, dando demonstrações de incompetência e de incapacidade políticas fora do comum. Mas estes argumentos não são válidos para um processo de derrubada. A presidente está nesse cargo em virtude de vitória num processo eleitoral, que até agora mostrou-se dentro das leis brasileiras. Ela está ali porque a maioria do povo assim o quis. Infelizmente  a democracia indica que algumas pessoas são contrariadas. Não há nada de ilegal nisso.
Porém, deve-se falar sobre as diferenças com os acontecimentos de 1964, e neste ponto que os eventos que estão acontecendo estão nos levando para um abismo cujo fundo é difícil de enxergar.
Primeiramente, não temos agora apoio dos militares. Agora quem está tentando mudar as regras do jogo no meio da partida são os próprios políticos, ávidos pelo poder, muitos que perderam as eleições.
Mas o pior de tudo é o cenário que se constrói em âmbito internacional. Em 64 o mundo estava voltado à ditadura, com apoio irrestrito dos EUA, no caso dos países capitalistas, e da URSS, nos comunistas. Naquela época não havia nenhum constrangimento nisso. Atualmente, o processo democrático é exigido em qualquer relação internacional estabelecida.
Nesse sentido posicionaram-se contra o impeachment, na forma que está sendo imposto, a ONU, a OEA, e os países com as quais o país tem maior relação comercial, especialmente na América do Sul. Por este mesmo fato o Paraguai foi expulso do Mercosul, tendo sua condição econômica piorada em muitos níveis. E já existe a ameaça da suspensão do Brasil,  o que provavelmente irá ocorrer.
Fora que diante da fraqueza do país no cenário internacional, as instituições citadas irão impor sanções. Bem como a própria credibilidade do país, que não respeita suas próprias leis, sofrerá um significativo abalo.

Desta forma, não há uma situação lógica que possibilite justificar essa insanidade que está ocorrendo. Este impeachment, da forma que está sendo desenhado, é golpe, pura e simplesmente, da mesma forma que foi em 1964. E a defesa feita pelas pessoas, as poucas que o fazem com alguma tentativa frustrada de demonstrar inteligência, só demonstram um ódio irracional ao PT e uma incapacidade gritante em analisar o cenário completo do que ocorre no presente, e do que está para acontecer no futuro.
A afirmação, corretíssima, de que a presidente faz um péssimo mandato, e de que a população na aprova seu mandato, não pode em hipótese alguma ser utilizada para quebrar um processo democrático correto, nem uma tentativa de justificar uma absurda infração da lei, sob o risco de retornar a um período desastroso, com consequências ainda piores.