quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A praga das torcidas organizadas


Ainda sobre o carnaval, tivemos a prova viva de algo que todos já sabiam há muito tempo: ter torcidas organizadas de futebol dentro de eventos maiores, é um convite ao perigo. Ter três das maiores e mais violentas existentes, é assumir um atestado de insanidade e tendências suicidas que qualquer um julgaria impossível.
Sou palmeirense, e apesar de não ser fanático, e nunca ter assistido meu time no estádio, torço quando joga. Mas torço exclusivamente para o Palmeiras, não para a torcida do Palmeiras. Não me importa se a Mancha Verde está disputando carnaval, se ganha ou se cai. Eu não tenho, e não quero ter, nenhuma ligação com pessoas que se organizam pra torcer. Aliás, eu posso torcer onde eu quiser, e da forma como eu quiser. Não preciso estar em grupo pra continuar sendo palmeirense.
Não sei se é o fanatismo exacerbado a razão, mas os corinthianos transferem o amor que sentem pelo clube (o que, por si só, mostra o quão imbecil é a relação entre torcida e futebol neste país), para um grupo de torcedores, que praticamente nada tem à ver com a equipe. Eles vêem, no carnaval, aquela torcida como sendo a própria represente do Corinthians no samba. E, sinceramente, não da pra entender de onde vem este tipo de pensamento, quando sabemos que uma coisa tem pouco a ver com a outra, exceto pelo nome.
Eu particularmente acho um barato tirar onda de corinthianos na Libertadores. É legal ver que eles não têm qualquer argumento pra retrucar o fracasso deles no torneio. Mas, por outro lado, tenho que agüentar os títulos nacionais, especialmente no momento em que acontecem. E quando reclamamos do claro apito amigo que recebem pra ganharem seus títulos, eles dizem que os outros torcedores têm inveja de seu time. A gozação, por mais que gere alguns palavrões, é uma das coisas mais naturais do futebol, e algo que deixa o esporte tão interessante.
Quando as pessoas transferem isso para o lado pessoal, torna-se um perigo. A vida passa a não ter mais qualquer valor, apenas defender a honra de um time, que não interfere em nada na vida de qualquer reles mortal. Agora, quando um grupo de imbecis a este ponto, se reúne pra torcer, e transfere toda essa raiva, de maneira coletiva, contra outro grupo, temos um altíssimo risco pra muita gente.
Sim, são seres humanos que causam isso, e sabemos que existem torcedores de todos os times que levam o jogo na esportiva. O grande problema é que a maioria não é assim. E infelizmente, esta maioria guia as atitudes de torcidas organizadas. Com isso, várias torcidas entram em confronto. Brigas de rua, depredações, mortes e mais mortes, destruição de estádio. Os exemplos são fartos, e suficientes para entendermos que estas organizações já são criminosas, e representam um perigo para a sociedade.
Quando o MP entrou com uma ação para extinguir estas aberrações, e começou com sucesso, achei que teríamos um começo de paz. Mas o processo virou água, as torcidas continuam aí, e explosões de violência acontecem quando menos se espera. É o que vimos com a Gaviões na apuração do carnaval 2012. E pra sorte de quem estava lá, as torcidas da Mancha e da Dragões da Real não estavam presentes, senão teríamos vivido um verdadeiro banho de sangue.
Trazer esses grupos criminosos para o carnaval é mostrar que as vidas não têm valor. Manter estes grupos criminosos na ativa é um ato leviano e inconseqüente. Mesmo quem simpatize pacificamente, não é suficiente pra mostrar que poucos são os que criam situações de perigo. O ocorrido de hoje mostrou que não é. O que ocorreu numa final de um torneio júnior, entre São Paulo e Palmeiras, mostrou que não é. O assassinato de um adolescente corinthiano, nas ruas de São Paulo, num confronto entre torcedores de Corinthians e Palmeiras, mostrou que não é.
Chegou a hora de por fim a estas aberrações. Chegou a hora de dar um basta nesta selvageria. Não da mais pra ver repetidas cenas de guerra e de morte, e acreditar que são fatos isolados, cometidos por poucas pessoas. Ninguém vai deixar de torcer pra time nenhum, apenas vai deixar de reduzir seu cérebro a pó de maneira coletiva. E deixar de colocar a vida de inocentes, que às vezes nem gostam de futebol, em tamanho risco.

O lamentável fim do carnaval paulista


A única parte do carnaval que gosto de acompanhar é a apuração. Gosto de números, do lado competitivo. Acho interessante acompanhar a tensão e o desespero das pessoas aguardando notas para celebrar ou para chorar. É interessante ouvir o grito de campeão ao final, ou o inconformismo com a derrota. É hora onde a festa acaba, e começa o drama.
Todos sabem como funciona, há anos e anos. Algumas pessoas, ditas como entendidas, irão avaliar com notas os quesitos estipulados no regulamento. Sua interpretação será baseada no conhecimento sobre o determinado assunto, assim como sua interpretação pessoal sobre o desenvolvimento. Todos sabemos que isso poderá gerar controvérsias, injustiças sob os olhos de alguns. Não adianta reclamar depois que tudo ficou decidido.
Então, o que leva algumas pessoas, que dirigem agremiações que movimentam milhões por ano, entrarem em conflito físico por causa das notas atribuídas? O que leva alguém a estimular um quebra quebra, agressões, roubo de documentos, só porque não se conforma com as notas recebidas? Por que não apresentou mudanças antes da competição começar?
O que vimos em São Paulo, no dia 21 de fevereiro, foi uma das maiores vergonhas da nossa longa história. Conseguiu ser mais abominável do que as brigas entre torcidas de futebol. Ali estava dirigentes, líderes de escolas, que devem sempre ser o exemplo. E eles promoveram o início de uma barbárie incompatível com o espírito festivo da época.
Um líder, que rasgou notas de jurados, foi preso, e descobriu-se que o cara tinha diversas passagens pela polícia, assim como condenações, por vários crimes. Recentemente, em operações militares, líderes de escolas de samba no Rio foram presos ligados ao crime organizado. Não são raros os caras de presidentes de escolas presos por estarem envolvidos com o tráfico. É uma bandidagem comandando a festa.
A conseqüência disso é óbvia: líderes exaltados estimulando torcedores, passionais, a extravasarem suas frustrações. Um bando de animais irracionais, urrando freneticamente, sedentos por sangue, destruindo tudo em seu caminho. Quando estes animais vestem camisas de torcidas organizadas, o banho de sangue promete ser ainda maior.
Carros incendiados por sambistas. A razão de estarem ali era colocada abaixo por pura selvageria. A irracionalidade ganha limites tão gigantescos, que eles se voltam contra aquilo que pagaram pra ver, que esperam um ano todo. Nada mais imbecil. E estendem sua ira para quem não tem nada a ver com isso, depredando pedaços de vias públicas, colocando vidas em risco ao andarem numa via rápida repleta de carros. Algo impensável, ainda mais com a situação em que o país está inserido.
Tiramos daí uma importante lição: não temos requisitos mínimos de civilização. Aqui perder um jogo é o mesmo que ofende a honra. Ver o outro vencer é um convite à vingança, de preferência sangrenta. Imaginem numa final de Copa do Mundo, se a seleção brasileira perde pra Argentina, no Maracanã. Se o jogo for decidido por um erro de arbitragem então, teremos o início de uma guerra civil. Isso não pode ser considerado uma coisa normal.
Acho que temos muita coisa pra repensar, e especialmente, ponderar, se vale mesmo a pena manter uma festa de tais proporções, para colocar a vida de tanta gente em tamanho risco. E depois rockeiros é que são revoltados...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A direita e a queda


Não é de hoje que regimes de direita estão levando ao colapso uma série de nações pelo mundo. Os regimes orientais, apesar de ligados ao islamismo, mostraram que não servem mais ao mundo. Regimes totalitários, discriminatórios, racistas e fundados em religião, algo típico da direita, estão esfacelando. E levando milhares de civis à morte, numa clara atitude direitista de reprimir com violência.
O que ninguém poderia esperar era a queda dos EUA e da Europa, da maneira que vem ocorrendo. Aliás, ao longo da minha vida não pensei que teria o imenso prazer de ver o fim da hegemonia norte americana, como está ocorrendo agora. Se tivéssemos falado sobre isso dez anos atrás, alguém diria que eu estava louco. Meu pai mesmo chegou a dizer que era utopia minha ver esta queda. Ainda bem que sonhos se tornam realidade!
O que desencadeou esta crise interminável foi a atitude de um partido de extrema direita, os republicanos, em investir bilhões de dólares em armamentos, para combater no Iraque. Todo mundo sabe que o interesse era o petróleo advindo do país, o que enriquece somente alguns poucos que conseguem comercializar o produto.
O grande problema é que todo e qualquer investimento em outras áreas ficou menor. Com o tempo, aumentou o desemprego, o consumo caiu, e o país entrou em recessão. Graças a tal crise, deixou de comprar de mercados externos, o que levou, por sua vez, países que tenham tal dependência à ruína.
Daí vem a idéia fajuta de que o Estado distante não serve para nada em momentos de crise. Nos EUA, que a maior parte dos serviços essenciais é privado, o Estado, com sua interferência mínima, não consegue tomar medidas para mudar o quadro. Seja a direita dos democratas, seja a extrema direita dos republicanos, tudo fica na mesma. Até mesmo para se criar medidas para mudar o sistema de saúde é uma guerra. O povo vai ficando mais pobre, menos ativo economicamente, e o país vai contraindo mais dívidas.
A Europa também entra de cabeça nesta maré, onde países tomam medidas absurdas para tentar frear algo que parece já atropelá-los. Demissões em massa, cortes de investimentos, empréstimos vultuosos. Muita gente passa a não ter trabalho, e consequentemente, não ter dinheiro pra nada. Ninguém tem como consumir. As pessoas passam a entrar em desespero para conseguirem comprar o essencial para sobreviverem. Países como Grécia, Portugal e Espanha ficam à beira da quebra, trazendo junto todos os seus devedores.
Os líderes, na imensa maioria também atolados em crise (com exceção da Alemanha), tomam medidas imperativas em relação aos menores, interferindo diretamente na política local. Deixam o povo insatisfeito, criam manifestações, e ajudam a aprofundar em muito a crise. Uma grande bola de neve.
Se pegarmos por outro lado a esquerda, teremos um quadro pouco atrativo. Bem, pra começar, esquerda propriamente dita não existe em nenhum país do mundo. Alguns países europeus conseguem ótimos níveis de justiça social, como é o caso da Bélgica e da Suécia, mas pautados numa centro esquerda, bem moderada, onde você paga muito imposto, mas recebe em troca os serviços necessários, de altíssima qualidade. Nos outros países que se dizem de esquerda, como é o caso da China e de Cuba, há na verdade uma ditadura fortíssima, onde ninguém tem direito a nada, o que, sem precisar de muita reflexão, não constitui uma esquerda de verdade.
O Brasil, por sua vez, parece não sentir tanto os efeitos da crise. Obviamente que se ele durar muito mais e se agravar, todos os países irão sentir, uma vez que vivemos num mundo globalizado. Mas para nós, os efeitos são menores. Isto porque, apesar de todos os gigantescos e conhecidos problemas que existem aqui, vivemos num país onde o Estado interfere na economia. As coisas são controladas até um certo ponto, além de existir uma certa política assistencialista, o que facilita o aumento do poder aquisitivo.
Por outro lado, o desemprego é baixo, não existe uma deflagração de políticas de corte em empresas, e a negociação em torno de empréstimos e redução de impostos em casos extremos não é totalmente rígida. Isso não faz com que combatamos nossos maiores problemas, como a extrema desonestidade que existe nesse país, mas temos condições maiores de fazer a economia girar, mantendo, por menor que seja, um crescimento. E olha que somos uma esquerda pra lá de fajuta, onde os ricos ganham cada vez mais. Mas os pobres parecem ter cada dia menor seu estado de pobreza, o que, por si só, já é um grande passo.

O massacre à polícia.


Vi uma declaração infeliz, do ministro Levandowsky , que por vários motivos tem mostrado ser um dos magistrados mais imbecis que existe, afirmando seu posicionamento em considerar criminosa a conduta da polícia em entrar em greve. A Constituição proíbe esta categoria de brigar pelos seus direitos, direitos estes que todos os trabalhadores têm.
A polícia deveria ser considerada como uma das categorias mais importantes do país, ao lado dos médicos e dos professores. Deveriam ser os profissionais mais bem remunerados e valorizados, idolatrados pelo povo. Ser policial, médico e professor, deveria ser uma honra concedida aos melhores estudantes dentre todas as faculdades.
Porém, ao contrário, são os mais difamados, hostilizados e mal remunerados profissionais do país. E no caso da polícia, temos alguns agravantes, pois estas pessoas arriscam todos os dias suas vidas para garantir a segurança do povo. Mesmo assim, tem-se que suas vidas não valem muita coisa.
Quanto pior for o salário das pessoas, maiores suas chances de serem corrompidos. Todo mundo quer ter um salário digno, e se isso não ocorre, outras fontes serão buscadas. Como são proibidos de exercerem outra profissão, ou irão buscar serviços na ilegalidade, ou irão ajudar bandidos, desde que lhes seja rentável.
Da mesma forma, quando precisam exigir seus direitos, como melhores salários, condições de trabalho dignas e maior reconhecimento, são tratados como criminosos, tendo ordens de prisão contrárias a si, execrados pelo governo, que faz de tudo pra manter uma imagem de policiais criminosos.
Ou seja, não têm direito de brigar pela melhoria da categoria, mas ao mesmo tempo são crucificados quando entram para o outro lado. O que faz-se concluir que os policiais devem ficar quietos, aceitar tudo de ruim que ocorre em sua carreira, aceitar ganhar mal, e aceitar, em especial, que suas vidas não valem nada, além de saberem que mesmo suas famílias estarão sempre em constante ameaça, de criminosos buscando vingança.
Não é difícil entender porque a segurança pública é uma calamidade. Não é difícil entender que os bons são poucos, raros, e cada dia mais a polícia torna-se inimiga. Não, nós nos tornamos inimigos da polícia, os fuzilando todos os dias, comprando drogas, afirmando que maconha não faz mal e financiando o crime, condenando toda e qualquer atitude, dando cobertura para bandidos e reclamando de suas greves. Apoiando o governo quando pede prisões, subornando o guarda de trânsito que vem multar. Tudo pra fazer da polícia ainda pior. E é tudo culpa sua!

O crime e a política de exclusão


Estava eu assistindo agora há pouco “Tropa de Elite”, um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos (superado apenas pelo seu sucessor). No filme, criminoso é tratado como margem da sociedade, uma doença a ser extirpada, sem dó. Neste filme, a idéia propagada é a eliminação de bandidos, aos moldes bárbaros. Fato este corrigido, na parte 2.
O grande ponto em questão é a reflexão feita pelas duas sequências, inclusive levando-se em conta os interesses envolvidos na morte de bandidos. Já citei, em texto referente sobre a pena de morte, sobre a total ineficiência deste sistema. E tratando-se de algo legalizado, já marcado pela total incompetência, se deixarmos os julgamento à mercê da polícia, teremos então, como já está comprovado, uma desproporção incrível.
Talvez por isso a polícia seja a instituição mais odiada na periferia. O lema é bater, machucar, e quando possível matar. Obviamente, quando não são corruptos, compactuando com a propagação do crime.
O grande problema é que o crime só aumenta. Cada dia mais o tráfico de drogas toma conta da cidade, cada dia aumenta o número de assaltos, assassinatos, sequestros, etc. Cada dia mais estupros ocorrem, mesmo ferindo o código de conduta da criminalidade. As execuções em massa feitas pela polícia, assim como suas ações truculentas, não servem em nada para inibir a ação de bandidos. Na verdade, parece que tem encorajado mais esta atitude, talvez levado mesmo pela revolta.
Seria chover no molhado dizer que é imprescindível um sistema educacional eficiente, pelo menos, para que o crime diminua. Pessoas educadas e instruídas têm maiores chances de obterem sucesso, e menos chance de serem agarradas pela vida do crime. Fora isso, saúde. Pessoas que são bem atendidas pelo sistema de saúde sabem que estão seguras quando precisarem de um médico. Não precisarão pagar planos particulares, o que lhes poupará dinheiro.
Também precisamos de segurança pública de extrema eficiência. E isso não quer dizer matar bandido, e sim garantir a segurança do povo, protegendo de seqüestros, assaltos, assassinatos, estupros, etc. Sabendo que a polícia age para garantir a ordem, a tendência a querer criar as próprias regras e garantir a própria segurança através de armas irá cair. Isso é uma lógica até pra retardados mentais, de tão simples.
Por outro lado, um sistema penitenciário minimamente humano não é uma questão de tratar bandido melhor que cidadãos, nem ser apenas defensor de direitos humanos em detrimento das vítimas. Garantir que criminosos tenham a chance de redenção é benéfico para todos, é garantir que, quando em liberdade, estarão aptos a integrarem a sociedade, sem representar grande ameaça. Dar trabalho a estas pessoas, dentro da cadeia, não pode ser considerado uma pena cruel, e sim uma chance de desenvolverem algo. Ter na cadeia a fábrica do crime é mais perigoso para quem está do lado de fora, do que para os próprios bandidos.
Mas claro que todos têm que pagar pelos crimes que cometem. Nós, cidadãos honestos, quando cometemos erros, em geral somos levados pela própria vida a respondermos pelos nossos atos. Necessariamente um criminoso deve ser punido. O que não significa ser tratado como lixo, nem ser morto. Punição é apenas pagar pelo seu erro, refletir sobre suas atitudes, e ter a chance de mudar, e todos merecem uma chance (acho que vocês podem corroborar com isso melhor do que eu, amigos cristãos).