Ainda
sobre o carnaval, tivemos a prova viva de algo que todos já sabiam há muito
tempo: ter torcidas organizadas de futebol dentro de eventos maiores, é um
convite ao perigo. Ter três das maiores e mais violentas existentes, é assumir
um atestado de insanidade e tendências suicidas que qualquer um julgaria
impossível.
Sou
palmeirense, e apesar de não ser fanático, e nunca ter assistido meu time no
estádio, torço quando joga. Mas torço exclusivamente para o Palmeiras, não para
a torcida do Palmeiras. Não me importa se a Mancha Verde está disputando
carnaval, se ganha ou se cai. Eu não tenho, e não quero ter, nenhuma ligação
com pessoas que se organizam pra torcer. Aliás, eu posso torcer onde eu quiser,
e da forma como eu quiser. Não preciso estar em grupo pra continuar sendo
palmeirense.
Não
sei se é o fanatismo exacerbado a razão, mas os corinthianos transferem o amor
que sentem pelo clube (o que, por si só, mostra o quão imbecil é a relação
entre torcida e futebol neste país), para um grupo de torcedores, que
praticamente nada tem à ver com a equipe. Eles vêem, no carnaval, aquela
torcida como sendo a própria represente do Corinthians no samba. E,
sinceramente, não da pra entender de onde vem este tipo de pensamento, quando
sabemos que uma coisa tem pouco a ver com a outra, exceto pelo nome.
Eu
particularmente acho um barato tirar onda de corinthianos na Libertadores. É
legal ver que eles não têm qualquer argumento pra retrucar o fracasso deles no
torneio. Mas, por outro lado, tenho que agüentar os títulos nacionais,
especialmente no momento em que acontecem. E quando reclamamos do claro apito
amigo que recebem pra ganharem seus títulos, eles dizem que os outros
torcedores têm inveja de seu time. A gozação, por mais que gere alguns
palavrões, é uma das coisas mais naturais do futebol, e algo que deixa o
esporte tão interessante.
Quando
as pessoas transferem isso para o lado pessoal, torna-se um perigo. A vida
passa a não ter mais qualquer valor, apenas defender a honra de um time, que
não interfere em nada na vida de qualquer reles mortal. Agora, quando um grupo
de imbecis a este ponto, se reúne pra torcer, e transfere toda essa raiva, de
maneira coletiva, contra outro grupo, temos um altíssimo risco pra muita gente.
Sim,
são seres humanos que causam isso, e sabemos que existem torcedores de todos os
times que levam o jogo na esportiva. O grande problema é que a maioria não é
assim. E infelizmente, esta maioria guia as atitudes de torcidas organizadas.
Com isso, várias torcidas entram em confronto. Brigas de rua, depredações,
mortes e mais mortes, destruição de estádio. Os exemplos são fartos, e
suficientes para entendermos que estas organizações já são criminosas, e
representam um perigo para a sociedade.
Quando
o MP entrou com uma ação para extinguir estas aberrações, e começou com
sucesso, achei que teríamos um começo de paz. Mas o processo virou água, as
torcidas continuam aí, e explosões de violência acontecem quando menos se
espera. É o que vimos com a Gaviões na apuração do carnaval 2012. E pra sorte
de quem estava lá, as torcidas da Mancha e da Dragões da Real não estavam
presentes, senão teríamos vivido um verdadeiro banho de sangue.
Trazer
esses grupos criminosos para o carnaval é mostrar que as vidas não têm valor.
Manter estes grupos criminosos na ativa é um ato leviano e inconseqüente. Mesmo
quem simpatize pacificamente, não é suficiente pra mostrar que poucos são os
que criam situações de perigo. O ocorrido de hoje mostrou que não é. O que
ocorreu numa final de um torneio júnior, entre São Paulo e Palmeiras, mostrou
que não é. O assassinato de um adolescente corinthiano, nas ruas de São Paulo,
num confronto entre torcedores de Corinthians e Palmeiras, mostrou que não é.
Chegou
a hora de por fim a estas aberrações. Chegou a hora de dar um basta nesta selvageria.
Não da mais pra ver repetidas cenas de guerra e de morte, e acreditar que são
fatos isolados, cometidos por poucas pessoas. Ninguém vai deixar de torcer pra
time nenhum, apenas vai deixar de reduzir seu cérebro a pó de maneira coletiva.
E deixar de colocar a vida de inocentes, que às vezes nem gostam de futebol, em
tamanho risco.