quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Que porra de democracia é essa?


Ao longo de toda a minha vida eu convivi com manifestações teístas, de diversas religiões, como espíritas, católicas, evangélicas, etc. Manifestações que tentavam a todo custo me convencer sobre a verdade que traziam, a felicidade na aceitação de deus, os problemas que a falta me causaria. Quando estas pessoas exageravam na dose, eu ficava puto, mas raramente discutia ou brigava. Em geral, eu as deixava falar, porque uma hora a pessoa cansa.
Mas essa merda de religião na cansa nunca. Você passa a vida todo ouvindo mensagens e mais mensagens tentando te convencer a aceitar Jesus. E quando você está numa situação realmente difícil, estas mensagens se tornam praticamente um bombardeio. E se estas pessoas sabem que você é ateu, aí vira uma guerra psicológica.
E chegou um momento em que eu cansei de ficar quieto. Primeiro por ter que sair sozinho de situações extremas, onde eu precisava encontrar uma razão pra continuar nessa vida. Depois de ter ralado muito, ter ficado noites em clara, tentando me reerguer contra situações extremas, eu consegui com bons amigos me apoiando, mas sem nenhum Deus a quem eu tivesse recorrido.
Depois, vendo todos os nossos sonhos virarem pó, e pessoas excelentes tendo que passar por um sofrimento indescritível, eu tive certeza de esta merda de deus é uma bobagem que as pessoas usam apenas para controlar e machucar umas as outras. Ninguém tem ideia do sofrimento que foram os primeiros dez meses após a tragédia. Ninguém jamais poderá imaginar pelo que passamos, pelo que eu passei. Então ninguém jamais poderá querer dizer como eu devo pensar sobre tudo isso.
Sim, eu comecei a me manifestar. Comecei a expor com clareza o que eu penso, doa a quem doer. Porque ninguém vai ouvir as suas preces. Ninguém virá te trazer um milagre no último segundo. Se você não levantar a porra da bunda da cadeira e começar a fazer alguma coisa pra se ajudar, você vai se foder legal, meu amigo. E mesmo quando você toma as ações corretas e se prepara bem, ainda assim você corre o risco de ser pêgo pela fatalidade, e ter que começar a construir seu caminho de novo, passo por passo.
Mas é óbvio que se você tem uma opinião contrária à maioria, você sempre será o errado, o cara revoltado, o cara que quer aparecer. Contrariar a ideia de deus num país que 90% da população acredita nesse papai noel é errado. Esse é o tipo de pensamento que por si só ofende as pessoas. E isso sempre será assim, porque quem é ateu acredita que a Bíblia é uma besteira enorme, e que religiões serviram ao longo dos anos pra matar, torturar e criar infelicidade entre as pessoas. Basta estudar um pouquinho de história. E saber que você serve assassinos com certeza irá te ofender. Mas esta é a verdade.
E claro que eu entendo que pessoas pensam diferente de mim. Aliás, poucas vezes encontrei pessoas pensando da mesma forma que eu, exceto na política. Sei que meus comentários e meus textos serão alvos de críticas. E acreditem em mim: gosto disso. A polêmica gera a discussão, ideias divergentes. E acredito que isso seja extremamente saudável, pois é com o debate que se chega a um consenso, qualquer que seja o assunto.
Ao longo dos anos a humanidade se viu diante de polêmicas, e precisou pensar pra sair destas situações. A igreja católica um dia foi contestada em sua soberania, com a crítica de suas atitudes sanguinárias, para que se pudesse ter a religião protestante. Um dia as pessoas precisaram protestar, fazer greve e até mesmo dar a vida para que tivessem direitos trabalhistas. As mulheres precisaram protestar, reclamar, e chocar o mundo pra que pudessem ter sua liberdade e o direito a serem iguais, para que pudessem ter direito a ter uma vida sexual satisfatória.
E todas essas pessoas foram contestadas. Todas foram criticadas e acusadas de promoverem a desordem, ferirem a moral, de ofenderem os valores que havia na época. Com certeza quem foi contra escravidão de negros no século XIX ofendeu aqueles que ganhavam seu sustento disso. Esta é a vida, e provavelmente sempre será assim.
Agora querem que eu me cale porque minha opinião é contrária à massa. Eu devo manter o silêncio porque meu modo de pensar vai ofender a crença de todos. Claro, mocinhas, eu sei que irei ferir seus sentimentos expondo os meus. Mas, aceitar opiniões divergentes faz parte daquilo que ouvimos na infância de nossos pais, do “tornar-se homens”. Talvez vocês que nunca são contestados tenham uma grande dificuldade com isso, mas acreditem: respeitar o que nos contraria não é tão difícil assim.
Eu continuarei. Não me importo o quanto as pessoas irão me odiar. E menos ainda o que irão pensar sobre mim. Cara, você provavelmente não entendeu que eu sou ateu. Eu sou a negação de valores sociais, como outros 10% que pensam como eu. Eu já ouvi por causa disso todo tipo de crítica, ofensa e manifestação de ódio que você possa imaginar. Já conheci pessoas que pararam de falar comigo por causa do que eu penso. Você acredita mesmo que eu vou recuar por que você ficou com raivinha?
Eu não importo como as pessoas vão pensar no meu modo de me vestir. Não me importo se irão se indignar pelo fato de eu ser fanático por heavy metal, ou por ser um amante incondicional de gatos. Não me importo se vão ficar indignada quanto eu repudio valores tidos como intocáveis. E mais do que tudo isso: não me importo muito se você quiser continuar acreditando em deus, usar roupas da moda, se quiser ser um religioso moralista, nem se você gosta de pagode. Não me importo que você tenha sua opinião, desde que você seja consciente nem obrigue ninguém a seguir o que você segue, ou ouvir o que você ouve. Se você quer me ofender sobre isso, beleza, não vai ser o primeiro, e provavelmente não será o último. E também não vai fazer sequer um arranhão sobre meu modo de pensar.
Com certeza eu continuarei discutindo meu ponto de vista sobre suas manifestações que considero erradas, como a pena de morte, ataques a casamento gay, etc. E não vou me sentir nenhum pouco ofendido se minhas ideias ateias, do sexo livre, do casamento gay, e toda forma de polêmica forem contestadas. Porque isso é a democracia, porra. Isso é o que faz com que possamos evoluir, como gente grande. Ninguém precisa partir pra ofensas pessoais pra contestar ideias, a não ser que não se tenha argumento plausível pra debate-las, e se veja forçado a ser como um selvagem.
Doa a quem doer.

São Paulo quase Rio


Antigamente quando ouvíamos notícias do Rio de Janeiro, tínhamos a clara sensação de que estávamos diante de uma terra em guerra civil, onde a polícia era refém dos criminosos, e praticamente lutavam todos os dias apenas para sobreviver. A população não tinha segurança, e saía de casa num clima de “roleta russa”, sem saber ao certo se voltaria para casa viva ou não.
Agora basta abrir a porta de casa para nos sentirmos assim. Enquanto o Rio teve significativas melhoras nos últimos anos, São Paulo se tornou uma praça de guerra e de extermínio como poucas vezes se viu. Policiais têm sido mortos todas as noites, em execuções por vingança, mostrando que a segurança em nosso Estado não passa de uma piada.
Muita coisa no governo estadual é uma tragédia, mas pouca coisa vem à tona. Agora com as mortes de policiais, não há como esconder. O crime organizado está destruindo todo nossos sistema policial, mostrando que ele não é nada. A polícia está com medo, e em evidente desvantagem.
Pra quem já precisou dos serviços da polícia, sabe o quão ruim as coisas são. Sequer pra coibir o excesso de barulho eles têm eficiência. Parece que nos últimos anos a polícia vinha tentando não atender ocorrências, não sei se pela extrema falta de pessoal, ou se por comodidade mesmo. Quem um dia precisou fazer um boletim de ocorrência deve ter ideia da tragédia que é isso.
E nosso ilustre governador... esse tem extrapolado todos os níveis de lucidez que poderíamos imaginar. A afirmação de que São Paulo é a maior cidade do mundo e que os índices de assassinatos são proporcionais é algo que deixa qualquer um estupefato. Acho que ele não entendeu que a polícia está sendo massacrada. Aqueles que deveriam ser os responsáveis pela segurança estão sendo destruídos, o que deixa clara a mensagem para o povo que ele governa que cada um será obrigado a cuidar da sua própria segurança. Mas acho que a inteligência de nosso picolé não atingiu este nível ainda.
Mas para ele, a mídia faz propaganda contra São Paulo. Claro, só porque estão matando alguns policiais todos os dias, é preciso noticiar? Aliás, ele nem está acostumado mesmo a ter as merdas do governo divulgadas na TV, assim como várias CPIs engavetadas na administração tucana, o sustento da editora Abril com verbas públicas pra que esta editora não os ataque, arrocho salarial, sucateamento do serviço público. Agora que eles são obrigados a responder uma crítica feroz, é claro que ele não sabe como fazer.
O povo sabe que aqui virou uma terra sem lei. Sabe que nosso governo é fraco e incompetente. E sabe que temos uma polícia sem condições de agir. O povo começa a buscar soluções extremistas, como sair matando todo mundo. Ninguém mais confia no governo, apesar de pouca gente conseguir raciocinar sobre a culpa desse partidinho de merda sobre o que está acontecendo. E agora sabemos que São Paulo está com muito medo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Vergonha verde


Dia 18 de novembro de 2012. Dez anos depois, o Palmeiras é rebaixado pela segunda vez no Campeonato Brasileiro. Eu deveria dizer que como palmeirense estou triste, mas não estou. O que aconteceu foi plenamente justo e previsível. Incrível mesmo foi ser campeão da Copa do Brasil no primeiro semestre.
Entendo que tudo na vida deve provir de organização. As pessoas precisam ser minimamente organizadas pra conseguir algum tipo de sucesso na vida. Você obtém êxito num concurso público se você estudar regularmente, tiver uma dedicação mais ou menos razoável, etc. Consegue comprar uma casa se for uma pessoa controlada com dinheiro, que entenda que juntar dinheiro é quase que uma obrigação. Tudo na vida precisa de organização.
E não é o que temos visto no Palmeiras há um bom tempo. Facções política diferentes disputam avidamente o poder no clube. Mais parece a máfia do que dirigentes. Até aí tudo bem, todo clube tem disputa de poder. Mas em geral as partes divergentes querem que seu time do coração vença e seja campeão, independente de quem está no comando.
No Palmeiras é cada um por si. E não só isso, como quem comanda espera e faz tudo o que estiver a seu alcance pra prejudicar o trabalho do seu opositor. Prefere ver o Palmeiras perdendo para ter o poder, do que ver seu time do coração ser campeão de alguma coisa. E se passar uma imensa vergonha com isso, melhor ainda. Ou seja, o Palmeiras é um  time comandado por uma guerra civil.
E há muito tempo que está claro pra todo mundo que o destino seria esse. Há anos o time é mero coadjuvante para seus principais adversários, não conquistando títulos, nem disputando finais importantes. Sendo goleado rotineiramente, e sendo preterido pelas principais emissoras de televisão. Isso é mais do que óbvio.
Não vou deixar de torcer pelo Palmeiras, porque esse tipo de coisa agente não escolhe. Mas, por outro lado, não consigo deixar de lado os meus ideais por causa de uma suposta paixão por um time. Não posso torcer pelo sucesso de pessoas hipócritas e interesseiras, que não medem esforço para conseguirem o que querem, especialmente quando isso prejudica um monte de gente. Isso não é certo, independente de que camisa. Não achei nada correto o Corinthians usar dinheiro público para construir seu estádio, por que agora deveria achar certo que dirigentes usem um time que é a paixão de muita gente para seus interesses particulares?
Acredito que a torcida do Palmeiras vá encolher ainda mais. E acredito que dias negros estão à vista. Não da pra torcer por um time com tanta podridão, mesmo que eu torça pra que pessoas possam recuperá-lo. E mais ainda, é com muita tristeza que eu penso que eu seria totalmente errado se eu tentasse fazer com que um filho meu fosse palmeirense, se meu time tem uma realidade tão catastrófica.

Onde está o respeito?


Se você mora em periferia, você já deve ter passado mais de uma madrugada com os nervos a flor da pele porque algum vizinho seu resolveu dar uma festinha, e às 3h00 da manhã está com o som no último volume, e um monte de gente está gritando na casa do seu lado. Você provavelmente já deve ter sido acordado domingo bem cedo porque aquele seu vizinho trabalhador resolveu reformar sua casa, e começou a quebrar e bater em todas as paredes, além de ligar a furadeira pra colocar os novos furos dos móveis. Também deve ter passado uma madrugada inteira entre acordar e dormir, porque um bando de cachorros ficou latindo pro nada horas e horas sem parar, enquanto você tentava desesperadamente dormir.
Eu sempre fui e sempre serei um estressado com esse tipo de coisa. Mas depois que voltei de Buenos Aires, me dei conta da mediocridade em que estamos atolados. Lá você realmente dorme à noite, as pessoas têm controle total sobre seus animais, ninguém precisa ouvir música no último volume pra se divertir, nem passar com o carro cheio de módulos pra mostrar pra todo o mundo que tem um som potente. Lá as pessoas respeitam minimamente a privacidade das demais.
E não sei exatamente onde nos perdemos, mas parece que nos tornamos babacas demais pra nos importamos com isso. E digo “nós”, porque acho que muitas vezes eu mesmo não me importo com alguns excessos de barulhos. Já é normal sermos acordados por gritos, é normal o sujeito estacionar o carro na calçada e impedir a passagem de todo mundo, é normal as pessoas pararem no meio do caminho, montarem barraca e criar transtorno para pessoas andarem. É normal você aceitar o som do seu vizinho, para não parecer chato.
Chegamos a um ponto em que a sociedade ruiu. Aqui cada um faz exclusivamente o que lhe dá na telha, e não importa em que isso irá intervir na vida dos outros. E não se trata de manifestar opiniões divergentes, e sim de obrigar as pessoas a compactuar de coisas que elas muitas vezes não gostam. E não deixar opção. Ninguém vai furar os tímpanos pra não ouvir o barulho do seu som, nem é um super homem pra arrancar seu carro da calçada. Elas simplesmente são obrigadas a suportar aquilo que as prejudica, porque um desgraçado acha que é dono do mundo.
O que eu me questiono mesmo é saber se as pessoas realmente são felizes dessa forma. Se elas acham que viver desta forma é algo que realmente lhes de prazer e alegria. Eu queria saber se é realmente pra isso que as pessoas têm se esforçado tanto. E se a resposta for sim, realmente teremos um imenso problema...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

The Walking Dead


Sou um homem que odeio seriados Americanos. Primeiro porque demora anos pra chegar ao fim, segundo porque eu tenho um tempo um tanto quanto escasso, e segundo porque em geral começa-se a encher demais a linguiça pra conseguir manter o tempo de história. Além disso, histórias com zumbis servem apenas para entretenimento momentâneo. Uma hora e meio vendo gente ser dilacerada pra quem gosta de filmes de terror, sabendo que no fim todo mundo morre. Desta feita, o seriado The Walking Dead tinha tudo pra ser um fiasco no meu conceito.
Comecei a assistir a série porque meu amigo Rodrigo Reis nos convidou pra reunir a galera em sua casa pra assistir o primeiro episódio. Como eu gosto muito de estar entre os amigos, achei que seria uma boa ideia, mesmo imaginando o quão besta iria ser o programa. Cerca de um ano depois tenho a série toda baixada no meu computador, além de ter lido as 54 primeiras edições dos quadrinhos, e ter baixado até a 70ª no computador, só não tem o restante porque ainda não tive paciência pra baixar uma por uma.
A história começa com o policial Rick em coma, e quando acorda, o mundo está infestado por zumbis. Ele vê sua cidade morta, e sua família desaparecida. O seu primeiro passo é encontra-los. Assistindo ainda o segundo episódio, temos o protagonista encontrando um grupo de sobreviventes, em meio a um ataque de zumbis, em Atlanta, já tomada pelo caos. Nada tão diferente do que ocorre em filmes como Madrugada dos Mortos e coisas do tipo.
Até agora tivemos 24 episódios lançados, numa história bastante complexa e cheia de tensão. Em pouco tempo você percebe que os zumbis são somente um pretexto. O que conta aqui é a situação extrema, onde o que importa é sobreviver. As poucas pessoas que restaram devem lutar por suas vidas, praticamente sem esperança e sem nada que lhes dê grande vantagem, exceto a inteligência.
Mas o que é incrível nesta história é ver diversos tipos de personalidades diferentes, colocadas constantemente em situações de extremo perigo e tensão, passando pro traumas e perdas, sendo modificadas pelo ambiente ao longo dos meses. Conseguimos imaginar o que passaríamos se estivéssemos diante destas situações, a cada episódio, a cada fato, e a cada reação de cada personagem.
Temos na história um traficante racista, um homem que banca de mal, mas na verdade apresenta um grande coração; um garoto que ainda têm esperanças na humanidade; um mulher forte e decidida que perde a irmã e tem que encontrar um razão pra sobreviver neste mundo terrível; dois amigos que disputam o amor da mesma mulher, vendo a própria amizade de ambos se esfacelar por causa deste amor. Pessoas questionando decisões de outros. Um prato recheado com muita informação.
Ao longo da história os personagens se deparam com situações bastante complicadas, como a decisão de matar ou não um intruso que os agrediu, mas que aparentemente o fez porque não tinha outra escolha. Decidir o que fazer com um celeiro cheio de zumbis cultivados por um homem que tem esperança de que sejam apenas pessoas doentes. Entre tantas situações extremas pelas quais passam.
Não necessariamente um protagonista nessa história, apesar de ter um pouco mais de importância o próprio Rick. Outros personagens que ao longo da série ganham grande importância e passam a ser decisivos para a série, acabam por morrer. Outros que pareciam ser meros coadjuvantes ao longo da história ganham importância. Temos uma situação onde é inimaginável saber quem vai viver ou quem vai morrer no próximo episódio. É tensão e polêmica o tempo todo.
Como eu disse, os zumbis são o pretexto. O que importa é ver como reage o ser humano quando o medo o domina. Como reagem as pessoas em situações extremas, quando não há mais lei e eles estão equiparados a animais selvagens. Analisar diversos tipos de mentalidades diferentes, querendo resolver as coisas ao seu modo. Conflitos reais numa situação hipotética.
Pra quem gosta de uma história bastante original, muito bem elaborada, cheia de reviravoltas e surpresas, onde nem sempre a justiça prevalece, The Walking Dead é essencial. Uma história única, épica, que com certeza será um marco. E serve de quebra pra fazer com que pessoas que odeiem séries e zumbis revejam seus conceitos.

Novas reflexões sobre a vida


Algumas pessoas acreditam que quando estamos próximos à morte e sobrevivemos temos uma revelação, e isso muda a nossa vida. Eu posso dizer que morri duas vezes, e esta ideia é absolutamente certa. E essa revelação, para estas pessoas, vem como um cosmo lançado em nossa alma, que nos transforma em outras pessoas de uma hora pra outra. E acreditem: elas estão completamente erradas.
Quando você vê sua vida ruir em um segundo, isso é a morte. Seus sonhos morrem naquele momento, sua luta, seu esforço, sua fé. Tudo vira nada. E por mais que o dia amanheça, você não é mais a mesma pessoa. O mundo passa a ser outro, de um momento para outro. Você entende que passa a ser um zumbi, porque você percebe que ali sua alma pode ter morrido, mas seu corpo continua fazendo as mesmas coisas que sempre fez. E falem o que quiserem, isso é a morte, em sua versão mais cruel.
Acreditem: não existe nada pior no mundo do que a sensação de impotência. E quando ela é elevada a graus maiores do que os nossos valores, essa sensação passa a ser uma navalha, que corta lenta e tortuosamente sua pele. Você ver seu esforço ser reduzido a pó, é algo terrível. Quando seu esforço é por algo realmente importante, isso é algo parecido com cortarem um pedaço do seu corpo. E foi exatamente isso que aconteceu: eu dediquei boa parte da minha vida por fazer pessoas felizes. E sim, eu sei que isso não depende de mim, mas acredito que um pouco da magia de vivermos como seres humanos é podermos proporcionar isso a pessoas. E eu fiz isso por alguém que eu amo, além de toda sua família, por serem pessoas honestas, que merecem o melhor.
Dediquei meus dias por fazer uma pessoa se sentir realmente feliz e importante. Dediquei todo meu esforço, minha saúde e minha energia em ver uma mulher realmente sentir o que era seu maior sonho. Trabalhei além da minha necessidade e muito além das minhas forças. Fiquei noites acordado pensando em maneiras das coisas saírem perfeitas. Deixei de lado por um bom tempo família e amigos. Arrumei brigas por causa disso. Perdi meu humor. E num pequeno segundo, tudo acabou, como se nunca tivesse acontecido. Todos os sonhos, todos os esforços, todo o desejo de alegria, tudo estava morto.
E as pessoas dizem que quando nos vemos diante de uma situação de extremo perigo ou de total desespero, nessa hora nós encontramos e pensamos em deus.Elas estão certas e erradas. Quando você vê pessoas boas e honestas, que dedicam suas vidas em fazer do mundo um lugar melhor, sofrerem um sofrimento inexplicável no momento de maior sensibilidade de suas vidas, você não vê deus em porra de lugar algum. Quando a injustiça é absolutamente desproporcional, você não imagina sequer uma mísera possibilidade dele existir. Mas em um determinado momento isso passa sim pela sua cabeça: você se vê diante desse sofrimento, e tenta entender, se ele existe, como esse maldito desgraçado pode colocar tanto sofrimento gratuito na vida de pessoas que não mereciam isso. E no segundo seguinte, você entende que o simples fato de pensar na existência de um verme desse tipo te faz um idiota.
Não, deus não existe. E quanto a isso, não resta a menor sombra de dúvida. Ele nunca irá ouvir suas preces, nem irá te ajudar no último segundo a fazer da sua vida algo melhor. Nem irá te dar a luz que você precisa quando você estiver desesperado. E não irá fazê-lo se você frequentar a missa todos os domingos, ou se você estiver sempre no culto da sua igreja, ou se você for um praticante do evangelho no lar. Porque deus é simplesmente uma das mais estupidas e inexplicáveis ilusões que a humanidade insiste em usar para continuar fazendo as mesmas merdas que sempre fez.
Mas, isso traz revolta. Para alguns, como é o meu caso, esta revolta é externada claramente. Para outros, vêm em forma de reclusão e irritação. Mas todos sentem. E isso faz com que tenhamos dúvidas, sobre até que ponto nossas vidas estão sendo guiadas pela maneira correta.
E como em qualquer situação extrema, isso nos muda. E infelizmente, para pior. Você fica desgostoso com a própria vida. Você deixa seus ideais escaparem por entre seus dedos, se torna uma pessoa impaciente, briguenta. O sono some. Sua capacidade de conversar sobre assunto polêmicos vira propensão à brigas. Você se torna intolerante com muita coisa. E então você entende porque o evento foi a sua morte.
Eu entendi plenamente porque pessoas usam drogas, bebem até cair e continuam bebendo todos os dias. Porque pessoas vivem no crime. Porque pessoas se metem numa religião como se fossem depender somente dela para permanecerem vivas. Esse é o momento em que a esperança acaba, e todos tentamos desesperadamente nos apegarmos a alguma coisa.
Mas, cara, é preciso entender: a vida continua. Todos sabemos que um dia ela acaba. Não dá pra ter sequer ideia de quando, mas ela vai acabar. Será injusta, e provavelmente triste, mas é a única certeza que temos. E não da pra saber se erra porra de vida vale a pena ou não, mas não da pra pararmos de tentar. Acho que o que pode nos diferenciar é a capacidade que temos de nos levantarmos e tentarmos de novo, e de novo, e de novo...
E  demorou, mas eu consegui me reerguer. Na verdade, este processo está acontecendo ainda, assim como todas as pessoas que passaram por traumas em suas vidas. Algumas não conseguem. Demorou, mas eu começo a controlar meu humor, deixando de lado coisas ruins e sem sentido, como a porra de uma formalidade inútil no seu trabalho, que serve pra que você acredite ser um mal profissional, quando você é um cara do caralho, mas que deixa de lado frescuras inúteis. Ou quando agente perde a paciência além da conta quando alguém derruba um pedaço de doce no chão branco da sala, e você sai tanto do sério que esquece que um pequeno pedaço de pano com um pouco de água resolve seu problema em alguns segundos.
Este processo é lento, doloroso e com cicatrizes. E dói, pra caralho. Por muitas vezes da vontade de desistir e mandar o mundo a merda. Viver no seu mundo, sem ver tanto sofrimento. Mas isso seria apenas o enterro de uma morte sem sentido. Mas, cara, vale a pena levantar e tentar de novo. Vale a pena saber que você consegue dar a volta por cima de um monte de coisas. E vale a pena você conseguir olhar pra dentro de si mesmo e observar seus próprios erros. E vale mais a pena do que qualquer coisa você ser capaz de se curar e se concertar, porque este deve ser o desafio mais difícil que qualquer ser humano pode passar.
Mas mesmo que seja por um breve momento, o sorriso de felicidade de uma pessoa, especialmente por estar ao seu lado, é o que faz esta vida tão cheia de pedras valer cada segundo.

QUANDO O ESTÍMULO ACABA


Dando sequência à minha epopeia de inferno astral, cheguei num ponto onde estou sentindo que as coisas no TJ ficaram muito parecidas com o que era na escola. Claro, nada que se compare àquele monte de gente gritando e jogando coisas, mas minha falta de estímulo começa a ficar igual. Pela primeira vez desde que cheguei lá, me sinto sem vontade de trabalhar, pensando seriamente em procurar outro lugar para tentar fazer o melhor, e por que não, traído.
Uma das maiores dádivas que recebi do meu pai é a minha maior maldição. Eu sou um perfeccionista. E não daquele tipo que quer tudo extremamente ordenado e visivelmente bonito, mas aquele que quer que tudo saia na máxima eficiência no menor tempo possível. Gosto de dar vazão a uma quantidade absurda de trabalho, assumindo que para isso ocorram alguns erros.
O que me deixa mais “orgulhoso” e convencido é saber que, quando cheguei a um determinado setor, a situação era um caos total. Imagina que todo o serviço estava atrasado, desorganizado e errado. E que, em pouco tempo, eu e meu colega conseguimos colocar as coisas em ordem, deixamos o serviço em dia e começamos a organizar partes que nem eram nosso serviço, mas que poderiam servir para agilizar o serviço de todo o resto do setor. Quando você consegue deixar as coisas na linha deste modo, você realmente se sente foda.
Imagina que, de um uma pequena parte do seu serviço você consegue fazer 1.600 “trabalhos”. E de tudo aquilo que você faz, o que é muito mais do que isso, você faz 50 “trabalhos” errados. Isso seria menos de 1% de erro. Mas esta porcentagem é o suficiente para tornar sua vida um inferno, com várias reclamações, com dúvidas frequentes até mesmo da qualidade do que você faz.
E então resolvem que o método que você usou para colocar toda a bagunça em ordem, e deixou o serviço em dia, está errado. E resolvem a partir de informações sabe-se lá de onde, gente que não tem a menor ideia do que você faz todos os dias, o que é mais complexo e o que é mais fácil, o que precisa ser feito com mais frequência ou não. E você avisa claramente que esta situação vai ser um desastre. Mas as pessoas, baseadas em sabe-se lá o que, batem o pé que não, que não tem como dar errado (como não tinha naquele caos total, né?). E em questão de um estalar de dedo, seu trabalho volta a ser uma zona completa, onde você sabe que está sendo forçado a ser ineficiente, e trabalhar na constante zona.
Desculpe, mas não. Não dá pra trabalhar nesta catástrofe. Não da pra aceitar que temos que fazer o serviço mal feito porque alguns egos querem que seja desta forma. Não da pra aceitar que você veja seus resultados despencarem porque alguém impôs algo que não faz o menor sentido, ou porque algum outro setor, que não tem nada a ver comigo, não consegue cumprir sua parte. Não existe nada mais frustrante do que saber que você pode fazer algo muito melhor, mas tem alguém tentando impedir que você faça. Isso é o que me deixa mais desestimulado no trabalho.
E a partir do momento que você passa meses recebendo elogios de quase todos os seus colegas, que pessoas de outros setores admiram o que você faz, e que muita gente diz que você é indispensável para o bom andamento do serviço, não da pra pensar que eu estou sendo arrogante, egocêntrico ou briguento ao colocar tais pontos. Acho que já provei por todos os modos possíveis aquilo que sou capaz, o quanto consigo fazer com que as coisas andem com maior rapidez e eficiência. E acho que, depois de tanto tempo, e ter ajudado significativamente para a melhoria do serviço, posso dizer que sei exatamente o que estou falando, e o quanto estou frustrado em chegar a um ponto onde alguns burocratas parecem fazer força para que a coisa não ande.

A MÍDIA CONTRA O FUNCIONÁRIO PÚBLICO


No aeroporto a caminho de Buenos Aires fomos abordados por uma garota, estudante, vendendo assinaturas de revista com desconto. Ela informou que ganhava comissão e tinha ajuda para pagar a faculdade, então achamos que seria legal assinar a revista, até porque eram três pelo preço de metade de uma. O que eu não sabia era que a revista Época era tão ruim e tendenciosa.
Numa das primeiras edições que recebi trazia uma reportagem contra o serviço público de uma forma geral, incluindo greves, salários pagos e modo de evolução de carreira. A revista trazia informações onde se colocava a favor da meritocracia. Para esta revista, o serviço público consome recursos demais com altos salários, baixa produtividade e falta de punição. Tudo o que o discurso popular adora trazer há tanto tempo.
O que a revista esquece é de fazer uma análise completa da situação. E vamos começar, de cara, pensando nos nossos professores, especialmente os da rede estadual. Todo mundo sabe que os salários de professores são baixíssimos, não só pelo serviço desempenhado, como pela exigência que lhes é imposta ao longo da vida, como pelo que aguentam em sala de aula e a cobrança extrema que é feita pela sociedade. Todo mundo sabe que as condições de trabalho são precárias, falta material para trabalho, o interesse dos alunos e dos pais dos alunos é praticamente nulo, com raríssimas exceções. A sociedade não da a importância devida, assim como a mídia, que tanto bate nos professores.
Um professor, para conseguir um pouco mais de conforto econômico, é obrigado a enfrentar uma dupla, ou até mesmo tripla jornada. O desgaste a que são submetidos é inconcebível para esta área. Uma carga horária de 60 horas semanais impede qualquer um de se aperfeiçoar. Um professor quase não tem tempo para preparação de aulas, correção de atividades, e menos ainda para pesquisas e leituras. Consequentemente, é óbvio que a qualidade vai cair.
Depois de anos de estudo e gasto de dinheiro em uma faculdade, o profissional que estudou, precisou se dedicar para passar num concurso e encarar um sonho de uma vida, vê como prêmio por seu esforço um salário baixíssimo, estrutura precária e pouca efetividade. Um prato cheio para se tornar um profissional desestimulado. Consequentemente, em pouco tempo irá se render ao sistema, sair de casa só pra ganhar seu dinheiro, e voltar, frustrado e desiludido. Esta é a realidade de quase todos os profissionais da educação, e você sabe disso!
Daí vem nosso brilhante governador José Fascista Serra, e resolve implantar um sistema de meritocracia. Mas um sistema ainda mais brilhante que sua cabeça, onde o profissional vai conseguir sua evolução através da nota de um prova, se ele for um profissional sem faltas. Isso mesmo, não importa como seja sua aula, quantos anos ele se dedique à sua profissão, ele só vai ganhar progressão através de uma nota de prova. E isso se o sistema financeiro do Estado permitir.
Será que é tão complexo assim entender que este sistema implantando pela nossa tucanalha é danoso à nossa educação? Será que é tão complicado entender que pra cobrar algo de um profissional primeiro temos que dar condições de trabalho para que ele possa apresentar um bom trabalho? Será que as pessoas não entendem que cada um dá o resultado que está sendo pago a ele? Será que é tão difícil assim usar o cérebro pra analisar uma situação tão clara?
A mídia ainda traz referências que o aumento real dos servidores no governo Lula foi maior do que o proposto pela iniciativa privada. Verdade? Mais ou menos. Foi maior neste período mesmo, mas ela convenientemente esquece de informar que durante os oito trágicos anos de governo FHC os salários de todo o serviço público esteve congelado, com exceção aos dos nossos políticos. O governo Lula apenas cumpriu um de seus compromissos de campanha ao devolver aos servidores o que era justo.
E um dos argumentos mais imbecis que eu tenho visto do povo em geral é que se um trabalhador de iniciativa privada fizer greve será demitido, e que eles têm que se contentar com o que ganham, então não é justo que os funcionários públicos consigam mais. O que não é justo é condenar um profissional por você ser um cidadão medíocre. Todos os trabalhadores, independente de onde estejam lotados, têm o direito à greve. E quando se unem numa empresa para exigir seus direitos, nem de greve precisam. Só é necessário que parem de acovardar e briguem pelo que é justo. E parem ainda mais de se acovardar, colocando a culpa de suas frustrações naqueles que brigam pelo que é justo.
Sendo assim, é óbvio que a mídia é nociva ao desenvolvimento do país. Tendenciosa e cheia de meias verdades. Basta ler a entrevista do ministro Joaquim Barbosa à Folha de São Paulo, em 07 de outubro. Ele traz a informação que não entende porque a mídia fala tanto sobre o mensalão do governo Lula, mas ninguém comenta sobre o mensalão do PSDB. Seria alguma preferência política?
E assim, as pessoas continuam achando que caras como José Serra são honestos e fazem o bem pra São Paulo. Continuam avaliando um péssimo governo Alckimin como ótimo ou bom, quando temos aumento de violência, insegurança, o transporte público é um completo caos e a vida vai ficando mais cara.
Mas claro, a culpa disso tudo é do funcionário público, que é um vagabundo e só quer mamar na teta do governo. Até porque, acusar o mais fraco é sempre mais fácil e não requer uso do cérebro.

OS DIAS DE NOSSAS VIDAS


Nove meses. Este foi o período em que tivemos que passar pelo purgatório. Não um período pra sobreviver, mas para reaprender a viver. Na verdade, se algum dia alguém conseguir me convencer que existe algum inferno, acredito que ele será algo bem próximo do que vivi nestes últimos meses.
É difícil sequer entender como a vida da este tipo de cambalhota. Você planejar cada passo, pensar meticulosamente as reações, maneiras de emocionar as pessoas que você ama, e de repente o mundo muda. Todo seu planejamento é destruído em cinquenta minutos, como se seu esforço não valesse nada.
E você entende que basicamente não há justiça no mundo. Pessoas boas e honestas são castigadas por coisas que não fizeram. Recebem castigos que não merecem. Uma família linda é destruída num piscar de olhos, sem qualquer razão pra isso.
Foram nove meses de profunda revolta, estresse, nervoso, e até mesmo um desejo de jogar tudo pra cima, e admitir que desta vez as forças não foram suficientes para virar o jogo. Não porque eu não quisesse, mas porque aqueles que tinham o poder de mudar o rumo da partida simplesmente pareciam não querer fazê-lo.
Nestes meses eu terminei completamente com minhas pequenas dúvidas sobre a existência de Deus. É óbvio que esta ideia não passa de ficção barata. E sim, me revoltei com as pessoas que se apegam a esta bobagem como esta fosse a resposta para a vida, mas que no fundo mergulhavam em depressão, desistiam e descontavam sua fúria nos outros. E descarreguei intencionalmente minha raiva nesta ideia patética de deus, talvez até mesmo como meio de catalisar minha raiva. E sim, isso me deu muito prazer.
E acreditem: passar pelo purgatório faz com que você reveja sua vida. Até porque eu não vou recorrer a deus pra nada (e aqueles que acreditavam tanto que nas horas mais difíceis eu iria acreditar, perderam duas oportunidades, hein?). Eu sempre soube que as forças vinham de mim. Não adiantava esperar um milagre.
Mas devo admitir, poucas coisas na vida realmente me abalaram tanto quanto ver a pessoa que eu amo cair tanto, desistir tão facilmente, e me tratar como se eu fosse culpado pelos problemas. Não da pra descrever quantas feridas ficaram por conta disso. E eu admito: eu cheguei a desistir. Em determinado momento, não tinha mais vontade, paciência, e principalmente, forças pra continuar nessa situação.
Mas parece que neste momento ela começou a reagir. A subida foi penosa, sofrida e sem nenhum prazer. Apesar da alegria em ver que ela estava andando de novo, vinha um enorme medo de que ela não fosse ter forças pra conseguir. E eu entendi que provavelmente eu também estava contaminado. A sensação de injustiça vivida, de ser responsabilizado, de não ser forte o suficiente... a sensação de impotência, a pior coisa que um ser humano poderia sentir, são feridas que ainda não cicatrizaram suficientes.
E sim, hoje eu me sinto um homem mais “frio”. Me sinto menos tolerante com discussões idiotas, com pessoas nervosas por motivos banais. Me sinto menos interessado em trabalhar arduamente, porque a vida acaba num segundo, e você não consegue curtir aquilo que plantou a vida toda. Me sinto mais impaciente para falar sobre deus, que nunca faz nada por ninguém.
Mas eu lembro do filme “Jamaica Abaixo de Zero”, e me sinto um vencedor. Não aquele cara que ganha o primeiro lugar na corrida, mas o cara que consegue trazer o carro quebrado, com a perna quebrada num acidente, e ainda doente. E mesmo assim consegue chegar, e mostrar que, se quiserem te derrubar, melhor que parem de agir de maneira tão amadora.
Superar um desafio desses não da uma sensação apenas de alívio, e sim uma sensação de total orgulho. E não porque o nosso ego pede isso, mas porque ainda assim eu fui capaz de manter meu caráter inabalável. Mesmo com alguns deslizes, fui capaz de resistir à terrível sensação de desistir. Mesmo com a dificuldade e o sofrimento que me era causado, consegui aguentar as pontas, e tentar compreender o que estava sendo vivido, quais emoções estavam em jogo, e porque as coisas estavam ali.
Mesmo com a sensação de rejeição e de raiva, consegui resistir às tentações, e não me manter fiel a uma pessoa, e sim à minha palavra e ao meu caráter. E eu sei que algumas pessoas não seriam capazes de me trazer um copo d´água se eu estivesse morrendo de sede, mas eu continuo sendo capaz de levar água até elas se elas precisassem disso.
E depois desses tortuosos nove meses, me sinto feliz nesse dia 21 de julho. Feliz por ter sobrevivido a tudo. Não intacto, mas sobrevivido. Às vezes até sem força alguma. Feliz por ver a pessoa que eu amo conseguir se colocar de pé novamente, e começar a tentar seguir nessa corrida, muitas vezes sem nenhum sentido. E feliz por saber que, por pior que este mundo seja, eu não preciso ser igual a ele. E muito feliz por estas vivendo estes dias de nossas vidas.