sábado, 26 de maio de 2012

A internet e a ideologia


Recentemente tive a oportunidade de travar uma dura batalha com meu amigo Rodrigo Reis, a respeito da greve dos metroviários. Ele apresentou um ponto de vista totalmente contrário ao meu, e ficamos uns dois dias rebatendo e apresentando argumentos para sustentar ou derrubar estes pontos de vista. Em geral, continuo acreditando que sua maneira de pensar é demasiado conservadora e perigosa, uma vez  que não analisa a situação por completo, e sugere que uma categoria não teria direito a aumento por não ter um salário tão ruim e por alguns segmentos da iniciativa privada não conseguir o índice pedido. Mesmo assim, é o tipo de coisa que me dá prazer em fazer, porque neste momento um site como facebook deixa de ser um instrumento de frases feitas e piadas, e passa a ser algo para se trocar ideias.
Com o passar da conversa, recebemos alguns “curtir”, e algumas pessoas entraram no debate, em geral, revoltadas com os prejuízos que tiveram com a greve. Mas claramente a polêmica sinalizou para que outras pessoas manifestassem suas opiniões. Obviamente ajudou bastante o fato de eu ter bastante conhecimento sobre a realidade do serviço público e conhecer bastante doutrinas políticas vigentes, além do fato do meu amigo ter defendido seu posicionamento de maneira espetacular, com muita inteligência. Como não poderia deixar de ser, não chegamos a um acordo, e ele continuou pensando da maneira dele, e eu da minha.
Mas acho que situações como esta fazem com que a internet tenha seu valor. É uma ferramenta popular, acessível e sem discriminação, capaz de propagar toda e qualquer ideia, a qualquer momento, em qualquer lugar. Podem ser ideias complexas e polêmicas, como coisas simples e defendidas pela massa. E em cada ponto, podemos observar pontos de vista antagônicos e em que são fundados. Até mesmo pessoas que não conhecem muito sobre algum determinado assunto acabam por se inteirar e em algum momento até mesmo emitindo opiniões, o que as obriga não só a pensar, fato raro hoje em dia, como a se informar sobre o assunto em que está se debatendo.
Com a internet descobri como se faz uma lasanha ao molho branco com recheio de frango refogado. Descobri também qual é a verdadeira doutrina satanista, que a mídia faz questão de esconder. Descobri uma série de informações sobre o heavy metal que me fizeram amar ainda mais este estilo. Descobri coisas que teria uma dificuldade imensa se fosse só pelos livros, e jamais ouviria falar se dependesse da mídia.
É claro, temos que nos aprofundarmos na informação. A internet, meio livre e sem restrições, traz toda e qualquer informação, principalmente as falas. Acreditar de pronto no que se lê é o mesmo que ver o Jornal Nacional e acreditar no que está sendo noticiado, sem maiores questionamentos. Por isso, depois de ler a informação, é sempre bom buscar fontes alternativas, para ter certeza do que está sendo falado, quantas vertentes existem, e quais são os pensamentos contrários.
Não tive muitas razões para buscar informações mais detalhadas sobre a minha lasanha (que aliás ficou uma delícia), mas precisei ir muito atrás do que representa exatamente o satanismo no mundo. Descobri que as informações da internet eram verdadeiras, porém incompletas. Me entretive num mundo fascinante, apesar de fantasioso, que me abriu a cabeça para o respeito com toda e qualquer forma de misticismo existente, inclusive aquele que “busca o mal”.
A internet tem ajudado a propagar ideias contrários à homofobia. Tem ajudado vários países do mundo a derrubar ditadores sanguinários. Tem ajudado a propagar informações políticas, que podem ser úteis quando escolhemos um candidato (apesar de infelizmente as pessoas insistirem em não se interessar por isso). Tem sido uma importante arma de conscientização social, que apesar de ainda não trazer tantos resultados para o nosso país, pode ser de grande valia na educação de nossos cidadãos no futuro, sendo até mesmo defendida por boa parte dos nossos educadores.
É um processo aberto e democrático, que pode ajudar as pessoas a desenvolverem seu intelecto, sua capacidade de raciocínio, além de obrigarem a se posicionar criticamente. Traz conhecimento, mesmo que seja por osmose, e mesmo que seja pra discordar do que está sendo falado. Não é a única fonte de conhecimento, nem a melhor, mas é um grande passo para a evolução.
E aproveito aqui pra declarar meu amor ao facebook, que tem propiciado a divulgação das mais diversas ideias, postagens e críticas, criando polêmicas necessárias, debates acalorados. O facebook também é capaz de fazer as pessoas saírem de seu mundinho fechado de resultados prontos, e se defrontem em suas páginas, com quem pensa diferente. Além, é claro, de ser uma fonte de futilidades, como piadas, pensamentos isolados e confissões, algo que todos nós precisamos de vez em quando.

E a polêmica greve dos metroviários


Vinte e quatro horas sem metrô, e o caos apoderou-se de São Paulo. Um dia de óbvio congestionamento recorde, muita gente chegando atrasado ao trabalho, outros muitos faltando. Gente estressada e amaldiçoando a categoria dos metroviários. Uma greve que vinha sendo anunciada há mais de um mês, com centenas de possibilidades de negociação, o que, como percebemos, não ocorreu.
Pra quem conhece minimamente o serviço público, especialmente aquele que é liderado pelo PSDB (apesar de não ser o único problemático), sabe o que é ter que dar nó em pingo d´água pra fazer um serviço razoável. Todo mundo sabe que os tucanos não investem nada no serviço público, não valorizam seus servidores, cobram resultados impossíveis, e ainda por cima pintam todo o serviço público de maneira degradante na mídia. E disso não foge nenhuma das áreas.
Quem tiver um pouco de curiosidade, perceberá que o maio número de pedidos de exoneração em serviço público ocorre em autarquias guiadas pelo PSDB. As pessoas simplesmente não aguentam a loucura que vivem dia após dia, a pressão, a humilhação, e trocam a estabilidade e o salário razoável por uma chance de evoluírem na carreira, e por maior reconhecimento e respeito. Outros tentam conscientizar o povo da realidade em que vivem, sem muito sucesso.
Analisando o exemplo dos metroviários, temos um grupo de pessoas com um serviço bastante específico, com possibilidade de erro nula, sujeitos a uma enorme pressão e um grande desgaste mental. A remuneração, disponível no site do governo, não é das melhores, mas também não é das piores: cerca de R$2.000,00. E lembremos que o metrô é alvo de várias investigações, onde seu presidente é suspeito de fraudar licitação, criar contratos irregulares, e responsável direto pelo assassinato de sete pessoas na construção da linha amarela.
Vamos lembrar que a Constituição Federal assegura o direito à greve. Além disso, assegura a reposição das perdas da inflação, para garantir o poder de compra. São direitos que estão lá, e não há como tirá-los. Direitos sociais básicos. E reposição de inflação não é aumento de salário, e sim a reposição de todo o aumento de custos que temos no dia a dia, com a média de inflação. Nada mais justo.
Diversas categorias no governo tucano passaram anos sem terem esta reposição. Os professores, por exemplo, ficaram doze anos sem qualquer reajuste. Por mais que se reclame, se divulgue na mídia, e que se faça campanhas educativas, o governo não abre mão de sua posição. Além de manter os salários congelados, não investe nada na estrutura do serviço, nem na melhoria da qualidade dos funcionários, ou mesmo tornar o serviço mais atraente, para que mais profissionais qualificados se interessem. Pelo contrário, além de tirar tudo isso, ainda limita até o número de faltas por motivo de saúde. Nem sequer ficarem doentes podem os servidores públicos do Estado de São Paulo.
Diante dessa situação, restam poucas alternativas. Não há diálogo com o governo. A mídia trás uma imagem do servidor como vagabundo e incompetente. Não há motivação, crescimento, ou estrutura pra fazer um trabalho descente. Quem aguenta isso? A greve, depois de anunciada e gritada aos quatro cantos, acaba sendo colocada em prática.
Só que neste Estado as pessoas são cada dia mais individualistas. Cada um só quer saber de manter sua rotina feliz, dentro de um trânsito mais ou menos controlado, onde terá poucos problemas, calculando bem o horário que acorda, que sai de casa, que chega ao trabalho. Ninguém aceita ter um incômodo porque alguém está brigando por seus direitos, assegurados por lei, inclusive pela nossa lei magna, assim como reiteradas decisões judiciais.
Os metroviários pediram aumento de cerca de 20%. Isso, em valores reais, vai dar algo em torno de 200 a 250 reais. Um aumento pequeno, diga-se de passagem, mas justo, diante do que passam os profissionais. A grande crítica dos cidadãos contrários, foi que o oferecido pelo metrô, 5,7%, era mais do que qualquer profissional da área privada consegue ganhar. É verdade. Mas, primeiramente, vamos lembrar que praticamente os profissionais da área privada não se mexem pelos seus direitos. O medo de serem mandados embora é maior do que qualquer senso de justiça.A competição impede uma atuação coletiva, e os sindicatos são medíocres. Isso, porém, não pode ser usado como desculpa para anular os direitos de ninguém. Se uns não querem exercer seus direitos, isso não impede que outros exerçam. Dizer que eles não podem ser contemplados por pedirem algo que está além do possível, é uma piada, num momento em que são gastos milhões do governo para obras particulares com estádios para Copa do Mundo. Isso pouca gente reclama.
Mas, vamos lembrar que o governador, este mesmo que negou até onde pôde o aumento, e ainda por cima chamou a greve de eleitoreira, em seu primeiro ato como governador, se deu um singelo aumento de 26%, apenas para repor a inflação dos quatro anos anteriores, passando de míseros R$14.000,00 para o pequeno valor de R$17.000,00. Estas vivas almas que gritam em alto e bom som contra os R$200,00 para os metroviários mantiveram-se em silêncio quando o aumento foi de R$3.000,00 do governador. Mas claro, naquele momento ninguém fez greve, nem parou algum meio de transporte, nem dificultou a chegada de ninguém ao serviço.
Claro, o serviço é essencial, e foi um erro colossal parar completamente. A greve serve como forma de protesto, não como arma de guerra. Se o serviço tivesse sido paralisado pela metade, já teria causado danos, mas ainda assim não deixaria muitas pessoas impossibilitadas de chegarem ao serviço. Acho que parar 100% é perder até mesmo o pouco apoio popular que ainda têm, e dar farta munição para que a mídia continue sua campanha de demonização.
Como disse um amigo, não seria cabível uma paralisação de 100% dos médicos, ou de 100% dos professores. Como todo movimento grevista, inflamado pela revolta e pelo cansaço em se lidar com um governo de péssima qualidade, eles agem por emoção, e acabam exagerando na dose. Neste ponto, não há como defender os metroviários.
Mesmo assim, em geral, a greve foi justa. As reivindicações foram totalmente pertinentes, e foi mostrado que se você não vai à luta, não consegue sucesso. Estas mesmas pessoas já precisaram se preparar para um concurso, vencer muitas pessoas (talvez até alguns dos que hoje estão metendo o pau), dar um duro danado com o pouco que tem, e não têm seu direito respeitado. Se o povo não lutar pelo que é certo, e não começar a demonstrar claramente aos seus governantes que quer um pouco de justiça, viverá sempre dessa mesma forma, com insegurança, educação precária, hospitais públicos medíocres. Sempre irá se conformar com a merda que vive, e criticar aqueles que quebram os paradigmas desse direitismo paulista, e fazem sua voz ser ouvida. Mas aí eu acho que estou sendo esperançoso demais, não é?

Por que direito?


Me formei em 2007 em Artes Plásticas. No mesmo ano, fui aprovado no concurso de Escrevente do TJ de São Paulo, sendo nomeado em 2010. Tenho um salário razoável, suficiente para viver com um mínimo de conforto, um bom reconhecimento dentro do cartório onde estou lotado, comprei meu apartamento, um bom conhecimento sobre algumas coisas, tenho meu carrinho e uma ótima companheira. Em geral, para uma vida feliz, tenho tudo o que eu preciso.
Mesmo assim, já com mais de trinta anos, e sendo pressionado por um filho, resolvi estudar direito. Obviamente isso poderá me trazer benefícios, como prestar concursos melhores, ser convidado para gabinetes, etc. Mas em cinco anos muita coisa pode acontecer, e mais do que nunca, nem sei se estarei vivo até lá. E em geral, eu não preciso disso para levar uma vida feliz. Não preciso disso sequer pra garantir meu emprego. Posso dizer que, se quiser me encostar hoje, já tenho minha vida garantida.
Mas eu decidi que seguiria este ramo há mais de um ano. E desde que comecei a estudar para os concursos jurídicos, fiquei fascinado por este ramo tão formal e técnico, que segrega tanto as pessoas, e em geral, é o extremo oposto do que eu prego e sigo. Estou dormindo pouquíssimo, gastando uma nota preta em livros e mensalidade, e ainda por cima tendo que trabalhar com mais intensidade para repor o que fazia no tempo integral, pra cursar uma faculdade que eu não preciso. E por quê?
Primeiramente, porque o conhecimento jamais irá ocupar espaço na mente de qualquer pessoa. E mais do que receber conhecimento vindo de livros, o que sempre será algo indispensável, estou recebendo conhecimento de pessoas que estudaram bastante e que estão aptas a falar com propriedade sobre determinados assuntos que eu penaria pra entender sozinho. Além do fato de trocar experiência com pessoas que buscam o mesmo conhecimento que eu, mesmo que por motivos diversos.
Mas o mais importante, não há como se buscar justiça se não conhecemos sequer as leis que os regem. Não há como exigir ou se revoltar contra alguma coisa, se não temos uma base mínima para saber por que iremos gritar. O conhecimento das leis é indispensável, e deveria ser ministrado desde os primeiros anos do ensino básico. Conhecer a lei é dever de todo cidadão, para que haja como um verdadeiro cidadão.  Sem a lei não há justiça.
E conhecer a lei é necessário, para que a mudemos, quando ela é contrária a toda moral e toda ética que julgamos a melhor para a vida em sociedade. Mas não só a lei, como tudo aquilo que a cerca, e que a construiu. Conhecer a lei é conhecer a história. E conhecer a história é entender o que nos fez chegar até aqui, onde erramos, onde acertamos, e o que poderíamos fazer de diferente.
Estudar o direito é ter a possibilidade de peitar este sistema, que trata as pessoas de maneira tão desigual, dando privilégios para certas classes, deixando outras na miséria. É lutar contra textos tão técnicos, que se distanciam da população. É saber do que se fala e onde pode-se exigir mudança.
Estudar direito é saber que as pessoas têm o direito de serem ouvidas, têm o direito de se revoltarem contra o que está errado, têm o direito de exigir uma vida melhor, um trabalho melhor, melhores condições de trabalho, e uma recompensa que lhes dê condições de sobreviver minimamente bem. Estudar direito é saber que a vida em uma comunidade exige que se respeite os direitos de todos, e que se faça sacrifícios para que todos tenham seus direitos respeitados. E que não é fazer a vontade da maioria, quando esta vontade trará sofrimento desmedido para alguns, mas ser justo o suficiente para minimizar o sofrimento de todos, sem que uma minoria pague caro demais por isso.
Estudar o direito é ter posse da maior arma social que temos alcance. É o necessário para fazer o que é certo. Propagar este conhecimento é a única forma de conseguir um futuro melhor. Aceitar o que é certo, mesmo que isso nos tire da nossa zona de conforto. Por isso eu decidi viver cinco anos de cansaço extremo, de muito estudo, e de uma mulher um pouco insatisfeita, por ter que esperar mais cinco anos pra realizar o desejo de ser mãe. Mesmo não precisando profissionalmente, e mesmo sem certezas de que isso um dia irá me trazer algum tipo de evolução funcional.

O poder da revolta


Em um 1º de maio qualquer, um grupo de mulheres paralisou suas atividades devido ao tratamento degradante que recebiam dos patrões, sendo tratadas de maneira subumana, com salários muito inferiores aos homens, e com uma carga de trabalho tão grande ou superior. Como represália, os donos da empresa as trancaram na fábrica, e atearam fogo, criando um massacre indescritível.
Em um determinado momento da história alguns homens tomaram coragem e se ergueram contra a igreja católica, uma das entidades mais assassinas que já tomamos conhecimento. Se opuseram ao modo com esta igreja interpretava a bíblia, o modo como tratava os fieis, e o roubo que praticava, além do genocídio intelectual que impunha à ciência. A grande maioria foi morta na fogueira, até que finalmente a liberdade religiosa fosse conquistada.
Em algum momento da história trabalhadores se revoltaram contra a carga de trabalho que lhes era imposta, o modo escravista como eram tratados, os baixos salários e as doenças decorrentes da jornada abusiva. Muitos morreram na luta, outros tantos foram tratados como marginais, mas a luta trouxe uma série de benefícios para os trabalhadores.
Em muitos lugares no tempo pessoas que tiveram o “azar” de nascerem negras tiveram que lutar uma vida toda para que a cor de sua pele fossem respeitadas, precisando se revoltar, gritar contra quem os oprimia (inclusive a grande igreja católica), serem xicoteados, torturados e assassinados, até que fossem finalmente feitos livres, para terem então que lutar contra o preconceito que estava enraizado em todo um mundo cristão.
Neste momento um país está arriscando a vida lutando para tirar um ditador do poder, sendo esmagado, assassinado e abandonado, por tentarem ter a dádiva da liberdade, de escolherem seus líderes, seus destinos, e o que é melhor ou não para país. A liberdade de errarem em suas escolhas.
Um dia este povo se ergueu contra a opressão, de quem os impedia de se manifestar, de criticar, de escolher seus líderes. E conseguiu, a duras penas e com uma imensa massa bestificada, que esses direitos fossem devolvidos, e nós tivéssemos a oportunidade de decidir o nosso destino, mesmo com erros colossais, como o de colocar Serras e Malufs no poder.
Basta estudar um pouco da história do mundo, algo fascinante e indispensável. E nós poderemos perceber que, para que se chegue a algum lugar, é preciso luta e sacrifício. Mesmo que não haja um apoio irrestrito, a única forma de se conseguir seus direitos, é lutar. E lutar significa ter coragem pra se levantar contra o que está errado, mas acima de tudo, ter um mínimo de compreensão da situação, para que se possa tomar um posicionamento crítico.
Mas lutar também é abrir mão do conforto, por um espaço de tempo curto e passageiro, para que alguém que esteja sendo oprimido seja respeitado. Da mesma forma que você falta ao trabalho para lutar pela sua saúde quando está doente, para lutar pelo seu filho quando ele tem algum problema, ou quando falta para socorrer alguém que se envolveu em um acidente de trânsito. Ou quando falta para lutar contra a dor da perda de um ente querido.
Sim, a luta envolve sacrifícios. E traz alguns prejuízos momentâneos. Quem faz greve tem seu ponto cortado, a vida funcional desregulada, às vezes terá que trabalhar ininterruptamente aos finais de semana para repor os dias parados. Irá ser criticado por muitos, mas só assim poderá ter seus direitos respeitados. Direitos estes garantidos pela Constituição e pela CLT, constantemente desrespeitados pelos patrões. Direitos que muitos fogem pelo medo de perderem o pouco que têm. E pelo medo, não admitem que os demais busquem a mesma luta.
E pela falta de luta e falta de revolta, mantém a mesma realidade que tanto reclamam dia após dia.

Pelo espiritismo


Depois de descer o reio nas religiões e na fé em Deus, agora é hora de dar uma de advogado do diabo, me contradizer, e apresentar alguns pontos que me causam admiração nesta estranha fé,muitas vezes sem sentido.
Particularmente acho religiões um câncer que deveria ser extirpado. Um conjunto de pessoas,  que afirmam receber mensagens de Deus, reunidas com intuito de pregar alguma coisa que nunca poderão comprovar. Até aí, tudo bem. O problema é que estas pessoas transformam tais dogmas em regras de vida, criando preconceitos, segregação e até mesmo guerras. Criam ódio contra gays, como fizeram com negros, discriminam pessoas de outras religiões, e segundo argumentos de estar escrito em livros sagrados, espalham mensagens de ódio e intolerância.
Mesmo assim, conheci uma pessoa, evangélica, e fanática. Ela só falava disso praticamente. Mas soube que esta mulher fora uma traficante, viciada em drogas, com AIDS, que tivera uma filha assassinada, assim como um ex-marido. E graças à religião ela conseguiu se livrar desta merda de vício. Ainda respondia por seus atos, enfrentando uma infinidade de problemas, mas mesmo assim, passou a lutar de maneira honesta e com um grande coração. Para coisas como estas acho que as religiões são fundamentais, pois parece que às vezes conseguem dar um sentido à vida das pessoas.
Se as religiões se metessem menos nas vidas, e criassem menos regras de conduta, provavelmente seriam um forte instrumento de evolução social. Provavelmente ajudariam as pessoas a realmente se conscientizarem de seus erros, buscarem melhorias, seguirem por um bom caminho. Mas, infelizmente, como qualquer organização, querem o poder. Querem controlar pessoas, criar uma legião, e ditarem as regras.
Por isso gosto do espiritismo. Esta é uma religião que, mesmo não acreditando em Deus, e me irritando com algumas orações exageradas, consigo frequentar de maneira feliz. Eu discordo de boa parte da doutrina, mas vejo no espiritismo um instrumento de verdadeira melhora humana. Nos centros não se prega preconceito contra determinados grupos, não se prega revanchismos imbecis, nem condenações eternas. No espiritismo um gay não é tratado como criminoso, assim como busca-se entender as razões que levam um pai a estuprar uma filha, sem que pra isso crie-se uma atmosfera de ódio incondicional.
No espiritismo o objetivo é evoluir: evoluir pelo amor às pessoas, pelo perdão, pelo reconhecimento do erros, pela compreensão. E ela é uma religião que muda pouco as pessoas mesmo, porque pressupõe que as pessoas querem mudar, simplesmente por saberem que este é o caminho certo, não pelo medo sem sentido de serem castigadas por uma entidade divina rancorosa. Aliás, no espiritismo a ideia de Deus que é pregada pela massa está presente: um ser feito de amor, que perdoa a todos a qualquer momento, que dá quantas chances forem necessárias, que trata todos como iguais. Um Deus que ainda tem alguma lógica, e que pode realmente trazer coisas boas pra quem nele acredita.
Por isso, apesar de ateu convicto e irremediável, defendo esta religião, que é capaz de fazer bem não só às atitudes das pessoas, como aos seus corações. Uma religião que impede preconceitos, que aniquila barreiras, e que espalha a ideia de perdão. Uma religião que verdadeiramente não julga para não ser julgada, e que deixa a responsabilidade do fracasso exclusivamente com a pessoa, pelos erros que ela cometeu, obrigando-a a buscar a evolução, se quiser mudar tal quadro. Mesmo discordando de muita coisa, e vendo que tem muita gente nessa religião que apenas está presente de corpo, ainda assim admiro muito as ideias de amor que estão ali presentes.