sábado, 17 de março de 2012

Orgulho, o grande mal


Assisti uma palestra, alguns meses atrás, num centro espírita, onde a palestrante afirmava categoricamente que o grande mal da raça humana estava totalmente centrado no orgulho. Por causa do orgulho o ser humano cometia as maiores atrocidades possíveis e impossíveis.
Não precisa ser nenhum grande gênio pra chegar a esta conclusão. Países que lutam pelo território, tentando aumentar o poderio nacional, motivo de seu grande orgulho; religiões que lutam pela terra sagrada, buscando a uma promessa bíblica, orgulho para a grande fé; pessoas que matam outras por terem relações sexuais com seu cônjuge, ferindo seu orgulho; gente que sai na porrada por ter sido xingado, ofendido em seu orgulho. É orgulho levando pessoas à demência por todo lado.
No entanto, não precisamos ir tão longe pra vermos os resultados devastadores do orgulho na vida das pessoas. Às vezes ele não tira sangue, não fere a pele, nem dizima um povo, mas arrebenta um coração. Às vezes uma simples atitude guiada por orgulho é capaz de afundar toda uma vida.
Todos nós cometemos erros, especialmente numa vida sob pressão constante. Ninguém é perfeito de segurar seus ânimos o tempo todo, nem nunca dar uma escorregada em alguma atitude que repudie. Todo mundo está sujeito ao seu dia de fúria, a cochiladas no meio do serviço devido às horas mal dormidas, a xingar alguém na raiva. Certamente todo mundo já teve um momento lunático um dia.
Porém, atitudes como esta prejudicam e ferem outras pessoas. Você maltratar seu parceiro de relacionamento, por exemplo, pode trazer uma ferida que demorará a curar. Uma pessoa se sentir desvalorizada pelas atitudes de outro pode criar um mal irremediável, capaz de por fim a um relacionamento, a uma amizade, aos laços de família.
Por isso todos nós temos a grande dádiva do arrependimento. Analisar uma situação com racionalidade, pensar nos erros que cometemos, e nos arrependermos deles, tentando corrigir, na medida do possível. Pedir perdão para nossas vítimas, tentar o máximo possível agir diferente da próxima vez. Reconhecer nossas falhas. Isso é algo digno e totalmente propício pra quem se importa com os demais, e têm em boas relações e paz de espírito seus valores maiores.
Porém, o que ocorre é o inverso. As pessoas não assumem seus erros. O orgulho domina toda e qualquer atitude. Em geral, jogam a culpa de suas falhas em outros. Afirmam que erraram porque foram levadas a isso. Creditam seus deslizes à atitudes de terceiros, que na maioria esmagadora das vezes, não têm nada com isso. Não conseguem ver a própria limitação, nem têm a capacidade mínima de se desculparem com quem foi ofendido, reconhecendo os próprios erros, apesar de todas as coisas.
Pessoas orgulhosas, algumas levadas ao extremo, que parece preferir a perda de um ente querido, magoarem corações que se importam com elas, do que recuar, descer do pedestal, e admitir que são falíveis, e que estão cometendo erros. Batem no peito e dizem que são assim, e que os demais devem se adaptar a elas. Preferem ferir todo mundo, afastar quem as ama, do que buscarem ser melhores do que são agora. E a maioria é religiosa convicta.

A lei da anistia


Acabo de ficar sabendo que  o comandante de um massacre de uma guerrilha na época da ditadura, acusado de seqüestrar várias pessoas, teve sua denúncia rejeitada pelo STF. Segundo os ministros, a lei da anistia, de 1979, perdoou tais crimes. Também alegou que uma condenação poderia abrir velhas feridas e aumentar o clima de confronto entre os grupos ideológicos.
Acho que tivemos ontem, dito pelo STF, uma demonstração clara e inegável, de que nosso país nunca será um país minimamente honesto, sério, e justo. Aqui você pode matar, seqüestrar, estuprar, roubar e corromper, que sempre haverá uma brecha na lei pra que não haja punição. Se o sujeito tiver dinheiro então, não há lei severa o bastante.
A lei da anistia foi escrita durante o período militar, pelos militares. Sob alegações de findar conflitos entre grupos ideológicos, resolveu simplesmente perdoar todo mundo, o que é bastante conveniente, uma vez que os militares torturaram e mataram centenas de pessoas, sem que alguns corpos jamais fossem encontrados. Depois de usar e abusar do poder, eles puderam usar uma lei pra que seus crimes fossem esquecidos.  E figuraram na política, por muito tempo, governando o país mais oito anos, ao lado do nosso grande sociólogo.
E hoje, mais de trinta anos depois, a mesma lei é usada para manter tais pessoas na legalidade. Todos os nossos vizinhos já repudiaram tal manobra, buscando a justiça daqueles que sofreram e morreram pelas mãos de tiranos. Nós, na maior potência da América Latina, e sexta maior economia do planeta, ainda protegemos esses assassinos, que ditam, de certa forma, o rumo do nosso país até hoje.
E mais incrível ainda é que o perdão veio de várias fontes, com políticos que foram torturados, presos e perseguidos, como é o caso de FHC, Lula, entre outros, se aliando a este tipo de gente. E mais ainda: tivemos a extrema deficiência mental de divulgar e-mails condenando as atitudes da nossa presidente, que teve a coragem, que muitos não tiveram, de lutar pela liberdade, que supostamente temos hoje. Pessoas como ela, que sofreram horrores nas mãos desse tipo de escória, que são tratados pela nossa massa de ignorantes de plantão como terroristas.
Que esperança da pra ter nessa porra de país?

Uma vergonha nacional


O anúncio da saída do PR da base governista é também a declaração mais descarada que já tive conhecimento de que nossos políticos não agem senão por interesse. Apesar de representar um partido pequeno e inexpressivo, deixou claro como funcionam as coisas no mundo da política.
Desde que me entendo por gente, vejo alianças construídas sem qualquer ideologia política. Praticamente bases de governos e noções de administração são ignoradas em função do aumento de poder. Pra começar, um partido inicialmente criado de esquerda e com uma filosofia voltada para justiça social, como foi o PSDB, alia-se ao PFL, que tem em sua estrutura toda a herança da ditadura, além dos criminosos que fizeram parte daquele período, perdoados pela justiça. É a afirmação clássica que a política é apenas poder no Brasil.
Agora, vemos uma imensa crise entre partidos, insatisfeitos com a quantidade de cargos de alto escalão que possuem. O PMDB deixa claro que pra continuar apoiando o governo Dilma quer mais Ministérios. Face disso, impôs a ela uma derrota incontestável, sobre recolocação de outro ministro. Apenas pela vingança de não ter seus desejos atendidos. Ao mesmo tempo, o PR assume publicamente que não está satisfeito com a situação, e por isso migra para a oposição. Mas, se a presidenta der ao partido o Ministério que eles tanto querem, voltam para o governo. Chantagem, barganha e interesse particular escancarados.
É uma vergonha sem limites. Os nossos líderes deixam claro que não interessa qualquer projeto de governo em pró-Brasil. Não interessa melhorar a vida das pessoas, fazer do país uma potencia ainda maior, ou sequer melhorar nossa indústria. Só o poder importa. E segundos alguns órgãos da mídia, até mesmo lideranças do próprio PT estão insatisfeitas com esta atitude da presidenta, boicotando também sua governabilidade. Chega a ser o cúmulo do absurdo.
Mas, se podemos tirar algo de bom disso tudo, é a imagem passada pela presidenta. Votei nela numa situação extrema, onde tínhamos a porta do apocalipse aberta com a possibilidade do fascista Serra ser presidente, e dois outros candidatos muito fracos ou radicais, que apresentavam uma possibilidade de caos imediato. Não esperava nada da presidenta, a não ser uma total continuidade do governo Lula.
Por isso, fico feliz pela firmeza como ela trata a questão. Ela se demonstra séria e incorruptível. Busca tirar todas as maçãs podres e todos aqueles que ferem a imagem de seu governo, buscando nomes técnicos e que possam apresentar soluções reais e duradouras para o país. Pela primeira vez parece que temos um líder com característica com tamanha “hombridade”. Mas eu sei, isso não é suficiente. Provavelmente sua falta de habilidade em costurar acordos fará com que as coisas fiquem feias, e que brigas sejam compradas, e crises se instalem. Ao mesmo tempo que mostra algo maravilhoso e exemplar para o país, mostra também que não há como ser sério e honesto e fazer um trabalho decente. Espero que ela prove o contrário.