quinta-feira, 23 de junho de 2011

Stress pré nupcial.


Eu sempre soube que minha noiva entraria em colapso antes do casamento. Aceitei que teria que ter um pouco de paciência, que iria ter que explodir por dentro pra ficar em paz com ela, e que mesmo assim ela não ficaria em paz. Reclamei por antecipação. Tentei deixar tudo o mais “pronto” antes da hora o possível, pra evita aborrecimentos de última hora. O que eu não sabia, era que a explosão viria com seis meses antes do casamento.
A Vanessa é uma pessoa ansiosa por natureza. Não sei como acontece, mas a cabeça dela consegue comportar mil coisas ao mesmo tempo. Ela tenta decidir sobre a cerimônia, festa, convite, chá de cozinha, lista de presentes, móveis, os trabalhos a fazer no DSE, pós graduação... é uma piração e tanto.
Mas uma hora a mente da nó. Acho que esse monte de coisas a mil por hora começam a se atropelar num determinado momento, daí o demônio se apodera da mente. Sim, porque quando você vê uma mulher ansiosa e nervosa com casamento, você percebe que o mal existe. Minha dúvida é saber como elas conseguem isso sem terem um infarto fulminante.
Nessas horas a mulher vê pontos passiveis de briga em absolutamente tudo: desde lavar a louça até a cor da gravata dos padrinhos. Se você vai dar um beijo nelas, elas querem te matar. Se você não beija, não a deseja mais. Está tudo encaminhado, mas ela se sente uma inútil, e tem certeza que vai ser tudo uma merda. E se você pega alguma coisa pra ajudar então, aí que fode tudo de vez, porque ela começa a achar que você está levando tudo nas costas.
É uma loucura. E essa velocidade frenética não é compatível com o cérebro masculino. Não sei se somos menos ou mais evoluídos, ou se somos mais organizados, ou mais largados. Mas o fato é que parece que você acaba de receber uma bolinha a milhares de quilômetros por hora, dentro de uma pista de fliperama, e que ela vai destruindo tudo o que vê na frente, o que quer dizer, sua sanidade.
E cara, agente tenta ficar calmo. Tenta aproveitar a situação, acalmar a noiva. Tentamos de tudo pra que o stress acabe em minutos. Mas parece que a bolinha é devastadora. Quando agente vai ver, já pirou de vez. Aí começam as brigas, discussões, choradeira, e mais stress.
E é incrível que, quando estamos quase nos acalmando, surge uma nova explosão nuclear levando tudo. Daí elas pedem desculpa, dizem que estão sob pressão, e nos vemos compelidos a tentar sermos mais compreensivos. E assim segue até o casório. Pra no fim, sair tudo perfeito, todo mundo chorar de felicidade e sair feliz.
Portanto, mulheres, se vocês estão pra casar, acreditem: não existe prova de amor maior de um homem, do que ele estar ao seu lado neste momento pré nupcial. Poderíamos discutir sobre isso, mas creio que é uma fase muito pior do que a pior das TPMs. Prova de amor maior, não há.
Mas, antes de ser xingado, podem acreditar: se passamos por isso, é porque acreditamos que vocês merecem esta felicidade.

Mais um pouquinho sobre fazer o que é certo


Uma conversa com meu amigo Nivaldo estava me chamando a atenção, e me fez pensar um pouco mais sobre um tema recorrente nos meus textos: fazer o que é certo. Já tive algumas polêmicas e brigas sobre isso, e acho que isso me faz querer escrever ainda mais sobre o assunto.
O cara estava me relatando sobre a mudança da postura de seus clientes quanto ao fato dele ter comprado um carro melhor, e estrangeiro. Segundo ele, quanto melhor vestido estiver, e quanto melhor for seu status, mais tem gente que vem atrás dos seus serviços. Faz sentido mesmo, as pessoas são fúteis, se preocupam com aparência, cor de pele, modo de falar, etc. Saia deste padrão, e você não será nada.
O cara me afirmou ter ficado decepcionado com o fato das pessoas serem assim. Eu até acho que ele se preocupou demais com a aparência ao longo da vida, mas não o suficiente para se tornar uma pessoa que ostentava nada. Obviamente que se a referência for eu, estaremos perdidos, porque eu sempre fui um típico porra louca, que me preocupava sempre em me sentir confortável. Mas ele achava que valeria sempre mais pelas suas qualificações profissionais, do que propriamente por sua aparência. Então ele questionou se realmente valeria ser honesto, num mundo tão desonesto.
Naquela mesma noite, vi uma entrevista de Muricy Ramalho, logo após o Santos se sagrar campeão da Taça Libertadores. E mais uma vez tive certeza de que este cara é um exemplo que deveria ser seguido por todo o país. O cara respondeu sobre o fato de ter negado ir à seleção brasileira para continuar no Fluminense. Sua resposta foi de que algumas pessoas sempre foram boas demais com ele, e ele devia isso a tais pessoas. Fora isso, sentia obrigação de fazer o que é certo. Ele afirmou que perdeu coisa pra caramba na vida por causa disso, mas mesmo assim, o pouco que se tinha na vida era o caráter e a honestidade, o que serviria de exemplo pra muitos.
E nessas horas penso que sim, vale a pena ser honesto. Agente não ganha nada mesmo. Eu nunca ganhei dinheiro por ser honesto, e deixei de comer muita mulher por causa disso. Deixei de subir de cargo, deixei de arrumar alguns empregos. Comprei algumas brigas (algumas com pessoas igualmente honestas, que pensavam diferentes em determinado assunto). Não sei dizer se perdi alguma coisa, mas com certeza deixei de tirar vantagens.
Mas, como eu sempre defendi, eu não preciso de nenhum status. Não preciso de um carro caro, nem de uma mansão luxuosa. Não preciso de roupas de marca, nem de um tênis Nike. Não preciso de várias mulheres pra me agradar, nem de um monte de gente puxando meu saco, ou querendo me agradar. Eu tenho os melhores amigos que um homem pode querer. Tive brigas com eles, e discordo de muitas ações da maioria deles, mas eles são realmente amigos que podemos chamar de irmãos. E quando digo amigos, incluo no bolo aqueles que também tem o meu sangue, como meu pai, meus avós, etc. Afinal, se você não é um amigo, parente vira apenas um adjetivo depreciativo.
Tenho uma noiva espetacular. Uma mulher bastante difícil, é verdade, mas muito honesta, trabalhadora, agradável, que cativa as pessoas, me respeita e me admira, e que provoca em mim uma profunda admiração. Uma pessoa com quem posso fazer planos e ter certeza de um futuro brilhante.
Tenho um bom emprego. Trabalho pra caralho, a estrutura é uma merda, falta material,  a burocracia é insuportável, mas consigo sentar no meu canto e fazer o meu serviço. Fora que o salário é bom, apesar de já estar defasado. E consegui atingir este emprego através de muito esforço, horas de estudos, noites de sono perdida, nervos à flor da pele. E hoje estou estável, sem que ninguém tenha que ter intercedido politicamente pra me dar o cargo.
É verdade que na vida tive que passar por muita coisa, inclusive uma tremenda crise de depressão, que me fizeram amargar por quase uma década. Problemas de família, timidez, algumas vezes excessiva. Todas coisas que me fizeram sentir um bocado de dor, e colocar em dúvida muitos dos meus princípios por um longe tempo. Mas todas coisas que me fizeram ter certeza que o verdadeiro tesouro na vida agente ganha com caráter, não com pompa.
E por isso hoje eu tenho certeza que vale sim a pena ser honesto. Vale a pena fazer o que é certo, mesmo que todas as pessoas que conheçamos ajam de maneira diferente. O que importa é você conseguir dormir uma noite tranqüila por saber que fez o melhor que podia, e que tenta melhorar ainda mais nos próximos. É você ter certeza de que as pessoas que realmente importam na vida te olham com admiração, por você se manter de pé, contra todos obstáculos e tentações, com as mãos limpas e a cabeça erguida. Isso é o que vale na vida.

Uma vergonha, São Paulo


Hoje seria votado o projeto de lei que concederia incentivos fiscais à construção do estádio do Corinthians, no valor de R$ 420 milhões. A justificativa é que a obra, sede de jogos da Copa, traria benefícios e melhoria para a região de Itaquera. A obra, pertence a uma entidade privada, que visa lucros, e será feita por uma mega empresa do ramo de construção, que também tem muito lucro a ganhar com a mesma. O time, por sua vez, tem mais de R$100 milhões em dívidas, algumas para o próprio governo.
Quando vejo um projeto destes, sinto vergonha de votar em alguma ser nas eleições. Tudo bem, votei sempre em candidatos cujo histórico conheço, como o caso de Ivan Valente. Mas, quando agente vê que o PT está aliado com os partidos da base governista, como o DEMO e o PSDB, num projeto que poderá acarretar lavagem de dinheiro em todas as esferas governamentais, você percebe que a briga é linda, no papel.
Até hoje não vi projetos com incentivos fiscais, nem próximos a 10% desse valor, pra nada que seja relevante na vida do Município. Nunca vi incentivos deste nível pra educação, escolas privadas com projetos pedagógicos a serem admirados. Nunca vi tais incentivos à hospitais privados, para que possam vir a atender a população carente. Nem vi tais incentivos para construção de estradas, viadutos, pontes, etc, o que poderia evitar a cobrança abusiva de pedágios.
Não me lembro de investimentos no setor público dessa magnitude. Nada perto disso é disponibilizado para contratar mais pessoal, ou para equipar melhor nossos hospitais, nem pra colocar mais policiais nas ruas. Seria um bom valor pra começar a informatizar o poder judiciário, o que ajudaria na celeridade dos processos.
Mas não. Nós vamos usar este dinheiro para ajudar duas entidades privadas, que em nada ajudariam o nosso cotidiano. O dinheiro do NOSSO imposto, que suamos muito para pagar e para ganhar, será destinado a construir um estádio para um time de futebol, que em nada vai mudar a minha vida. O imposto que pago, que está inserido na Constituição, deve ser destinado para melhorias na minha vida, será destinado à iniciativa privada. Isso tem nome: ROUBO!
Estamos sendo roubados pela prefeitura de São Paulo! Pelo Estado de São Paulo! E pelo Governo Federal, que pressiona para que esta merda seja aprovada, e pressiona sua base para votar favoravelmente. Estamos sendo roubados por este time, que acha que pode levar o dinheiro do contribuinte para seus interesses. E estamos sendo roubados pela Odebrecht, que acha que pode usar o dinheiro de impostos para construir sua fonte de renda. O que estes caras estão fazendo é crime!
E provavelmente aqueles corinthianos mais fanáticos, incapazes de entender a gravidade desta situação, vão achar que minha perseguição é por causa do time. Bem, eu só pisei no Palestra Itália uma única vez, para assistir um show do Aerosmith, em 2010. Nunca assisti um jogo do meu time no Estádio, e jamais comprei qualquer produto oficial do Palmeiras. Nunca dei um centavo para o meu time, nem mesmo com venda de jogos pela TV fechada. Eu me recuso a gastar um dinheiro suado, que pode ser muito bem empregado em várias coisas, com um evento caro e sem qualidade, ainda sob risco de sair ferido. Então, gastar ainda com o time dos outros? Jamais!
E você, corinthiano, se você tiver algum cérebro, deverá concordar com isso. O time tem o direito de construir o que quiser, expandir seus negócios, fazer contratos. Mas nunca de usar dinheiro público! Ele que arque com suas despesas! E se não puder fazer isso, que espere a oportunidade e refaça as finanças. Nós, cidadãos, não podemos ser obrigados a pagar a conta deste elefante branco!
Continuo torcendo pelo Palmeiras, mas não aceito sustentar salários altos, estádios luxuosos e uniformes caros, quando tem tanta gente morrendo de fome, de medo e de frio, se drogando em várias esquinas e morrendo nas filas dos hospitais.
EU TENHO VERGONHA DESTES POLÍTICOS E DESSE POVO QUE VIBRA COM ESSA ROUBALHEIRA!

Indenização, punição ou ato simbólico?


Não tenho certeza se o que pego em mãos me permite dizer que os recordistas de processos cíveis são os bancos ou a Telefônica (até porque esta não está como ponto do forte do grupo em que eu trabalho). Também poderia colocar os planos de saúde em tal lista. Seria um duelo de titãs, pra saber quem tem o pior serviço a prestar aos consumidores. E em alguns casos, como os bancos, todos eles são péssimos. Talvez um outro momento de qualidade, mas em geral, um lixo.
A concorrência é pequena. Se pegarmos o caso da NET, por exemplo, uma boa empresa, que tem seus momentos “Telefônica”, irritando o cliente e obrigando-o a processá-la (gostando da empresa, fui obrigado a abrir dois chamados na Anatel por causa de falhas gritantes dos mesmos), não tem cobertura suficiente para competir de igual para igual. Cresceu, se tornou uma potência, mas vários bairros ainda são reféns por completo da péssima companhia que gere o setor há tanto tempo (e depois a privatização é boa!).
Por outro lado, quando falamos dos bancos, todos cometem as mesmas ilegalidades. Qualquer um que você tente fugir, vai esbarrar nos mesmos problemas. Então, você é refém de tais serviços. E por mais que se processe estas empresinhas de merda, elas sempre vão fazer a mesma cagada, porque a punição é multa. Não há um órgão controlador que as tire do mercado, suspenda, intervenha. Nada. Elas pagam um valor, e fica tudo de boa.
Agora, quando falamos da multa, deveríamos imaginar que seria uma paulada, pra aprenderem a tratar bem os consumidores, certo? Errado. A justiça vai bem, neste ponto, na primeira instância. As multas aplicadas são pesadíssimas. Eu cheguei a ver uma empresa ser multada em 1 milhão de reais. A empresa recorreu, e na segunda instância, conseguiu diminuir para cerca de 13 mil. Foi dado parcial provimento, então a parte que recebeu a multa ainda teve que arcar com suas custas.
Imagine, por exemplo, se fosse a Telefônica (e os resultados são mais ou menos assim). O que R$13 mil afeta no lucro da empresa? Quanto ela não ganha explorando e enganando seus consumidores? Ou um banco, pra ser mais específico. Quanto um banco não ganha cobrando taxas ilegais de seus clientes? Será que uns 20 mil por cada caso raro de processos farão alguma diferença? Quanto lucro se tem nessas reduções de pena?
Os argumentos são do fato de a punição ser a multa. Os desembargadores afirmam que a parte não pode enriquecer com o processo. Verdade. O problema é que, deixando a parte de enriquecer, quem enriquece é a empresa, que vê nesta pequena punição, uma grande chance de melhorar as finanças. E não existe qualquer tipo de punição por recorrentes processos. A empresa vai fodendo todo mundo, e a justiça da um tapinha no bumbum, e fica tudo bem. A punição torna-se simbólica.
Daí agente percebe que somos reféns não só da empresa que nos prejudica, como do governo, que não faz nada para zelar pelos consumidores, as agências reguladoras, que não regulam merda nenhuma, e da justiça, que apenas finge que está punindo uma empresa que ano após ano vai roubando seus clientes. Boa Brasil!

A vida pode ser um negócio?


O desembargador Vito Guglielmi tem fama de ser favorável aos planos de saúde, quando o assunto é cobertura e direito de receber tratamento. Ele entende que o que ocorre entre as empresas e os cooperados é um contrato comercial, firmado livremente entre as partes, que estabelece direitos e deveres. Sendo assim, não haveria direito ao que não foi posto em contrato.
Não sou especialista em direito, nem formado no assunto, e não tenho qualquer condição de competir com um desembargador, que estudou a vida inteira pra isso, e detém o conhecimento necessário pra julgar ações. Mas pra mim é muito claro que a vida não pode ser posta como um contrato comercial.
Acredito que, por mais que haja firmado contrato entre as partes, e por mais que exista um direito comercial que estipule cláusulas, deveres, obrigações e direitos, limitados, não se pode limitar o direito à vida. Todos a têm, como afirma a própria Constituição. E negar o direito à vida de uma pessoa, é o mesmo que condená-la à morte.
A saúde é dever do Estado, e este não a cumpre com o devido respeito. Quando de ações contra tal medida, ou os juízes costumam afirmar que não podem interferir no poder Executivo, ou diminuem valor de condenações, porque a causa não pode ser feita para enriquecer ninguém. Então não há um poder suficientemente forte para obrigar o Estado a cumprir com seu dever. Com isso, resta procurar o que deveria ser oferecido com os impostos pagos, em uma empresa que forneça os serviços. E geralmente se paga caro por isso.
Daí, por mil e um conceitos diferentes, quando você precisa de um tratamento, o mesmo é negado. Algumas vezes, porque você já tinha a doença antes de assinar o contrato. Ou seja: você paga o plano, mas vai morrer, porque tinha algum problema posterior a pagá-lo. Que diferença tem isso de você apontar um revólver pra cabeça de alguém e puxar o gatilho? Na verdade, a diferença é que você faz isso com lentidão e requintes de crueldade.
Uma empresa que oferece tais serviços sabe que está lidando com a saúde, e sabe que tem o dever de zelar pela saúde de seus clientes. E sabe que há risco desse cliente sofrer alguma enfermidade grave, e ter que ser submetido a um tratamento mais complexo. Quando a empresa resolve entrar neste ramo, sabe que isso é possível. É inadmissível dizer que uma empresa desse tipo não tem obrigação de cuidar da saúde de seu paciente, porque o contrato afirma outra coisa. Na verdade, não deveria ser sequer permitido que o contrato abrisse a possibilidade de deixar o paciente morrer, qualquer que fosse o motivo.
Obviamente não podemos inserir na obrigação cirurgias menores, como plásticas, correções estéticas, ou qualquer coisa que não represente preservar a vida da pessoa. O que temos que definir é que a vida é um bem inestimável, e não pode, em hipótese alguma, ser medida em valores. E deveria ser acusado de assassinato aquele que nega o direito à vida de uma pessoa, quando se nega a tratar da saúde da mesma. Isso não deveria ser sequer assunto de entrave judicial.
Senão, que diferença teríamos entre Hitler e o presidente da Medial?